"Nardjes A.", de Karim Ainouz (2020)
Exibido no Festival de Berlin, "Nadjes A." é um documentário dirigido pelo cearense Karim Ainouz, realizador de "O céu de Suely" e "A vida invisível". O avô de Karim era argelino e acompanhou todo o período de colonização francesa até o seu fim, em 1962. Nesse período, a Argélia experimentou um curto espaço de liberdade e alegria, logo derrubada pelo governo que se instalou no país. Uma grande traição ao povo: os que libertaram o país, se tornaram os novos algozes. O filme é dedicado a Idir Ainouz, avô de karim, falecido em 2004.
O filme, totalmente rodado com smartphones, foi rodado em um único dia, 8 de março de 2019, dia da mulher, mas também dia de manifestação no País contra o anúncio de que o Presidente Bouteflika, de 82 anos, iria se candidatar ao seu quinto mandato, em um período de 20 anos. O povo passou a praticar Harik (manifestações) contra o governo todas as sextas feiras a partir de fevereiro, até que em 2 de abril de 2019, ele renunciou.
O filme acompanha a jovem ativista Nardjes A., desde se arrumando em casa, até chegar no centro de Argel e se juntar aos manifestantes. Com ironia, ela diz que "os homens argelinos, conhecidos pelo bom humor, sugeriram que as mulheres saíssem para as ruas sem maquiagem para assustar os policiais". Nardjes fez ao contrário, se maquiou toda. ,
Uma cena antológica: toda a manifestação para e se ajoelham nas ruas para fazer a oração a Maomé. No final do dia, Nadjes e amigos seguem para uma boite dançar, em uma linda cena.
Karim novamente traz protagonismo feminino a um filme. a narração de Nadjes traz emoção, força, luta e também sensibilidade à uma causa que perdura por décadas, mas jamais desistindo de seus ideais pacificadores e de igualdade social.
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