"Vento seco", de Daniel Nolasco (2020)
Concorrendo ao prêmio Teddy no Festival de Berlin, o brasileiro "Vento seco" traz referências claras a dois clássicos do cinema moderno: "Um estranho no lago", de Alain Guiraudie e "A corrente do mal", de David Robert Mitchell. Ambos os filmes fizeram muito sucesso no Festival de Cannes: o primeiro, por trazer elementos de suspense a um universo de pegação gay, com direito a sexo explícito e muito fetiche. O segundo, pela referência ao cinema dos anos 80, tanto na trilha sonora quanto nas cores, além de trazer movimentos de câmera que se tornaram um desejo para o cinema independente poder contar a sua história: movimentos lentos de zoom, e panorâmicas reveladoras. Troque a paisagem paradisíaca do lago e da floresta européia e corpos molhados, por cerrado, terra vermelha, poeira, suor e vegetação do centro oeste de Goiás. O protagonista de meia idade, em busca de elementos que o façam sair de sua vida monótona, circulam no filme francês e no brasileiro. As cores de Dario Argento, outro ícone dos anos 80, com vermelhos e azuis,e a trilha sonora eletrônica da banda Goblin, homenageado até mesmo pelo cinema de Kleber Mendonça em "Bacurau" e Gabriel Mascaro em "Boi Neon" e "Divino amor".
Quer mais referências? As ilustrações homoeróticas fetichistas de Tom of Finland, com couro, bondage e bigodes mesclados a corpos musculosos e peludos, com a cinematografia de Marco Berger, o mais famoso cineasta gay da Argentina, que busca com sua câmera, registros de genitálias, sungas, corpos suados, mesmo em personagens não Lgbtqia+.
Nolasco é cinéfilo e conhece bem o universo pop e lgbtqia+: Daft Punk e Maria Bethânia duelam na bela trilha que traz também sons eletrônicos revisitados. Para quem curte sexo e muita estilização, que inclui lambidas em uma moto, não pode deixar de assistir ao filme.
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