"Mulher oceano", de Djin Sganzerla (2020)
Filha dos cultuados cineastas Helena Ignez e Rogério Sganzerla, a atriz Djin Sganzerla agora estréia na direção em um provocativo e poético longa, acumulando as funções de co-roteirista, produtora e protagonista em papel duplo. Ousado, o filme foi rodado no Japão e no Rio de Janeiro.
De imediato, assistindo ao filme, me lembrei dos clássicos "A dupla vida de Veronique", de Kieslowski, e "Encontros e desencontros", de Sofia Coppola. No primeiro, a questão do Dopleganger, e no segundo, a solidão em um país onde a língua e a cultura são muito distantes e traduzem em existencialismo. A fotografia, bela e traduzindo em imagens as questões filosóficas de ambas as personagens em belo registro das locações e principalmente, as cenas aquáticas, captadas por André Guerreiro Lopes.
Hannah (Djin) é uma escritora que se refugia em Tokyo para escrever um livro. Recém separada de Rafael (Gustavo Falcão), Hannah, em seu último momento no Rio, se impressionou com a imagem de uma mulher que atravessa a praia da Urca, Ana. Ana (também Djin), é uma mulher que trabalha em um banco, e está se preparando para um torneio de natação. Essas duas histórias, sem jamais se entrelaçarem, se tornam uma o espelho da outra, assim como no filme de Kieslowski. A presença do mar, a sensação de insatisfação pessoal e profissional, o vaio, a calmaria que o mar trás. É um filme com muitas inflexões espirituais e metafísicas bem apropriadas ao cinema de Kieslowski, que tanto faz falta. Djin faz um cinema bem particular, bem diferente dos filmes que seus famosos pais fazem. Uma grande revelação.
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