domingo, 10 de maio de 2020
Assim caminha a humanidade
"Giant", de George Stevens (1956)
Obra prima das obras primas, clássico dos clássicos, 'Assim caminha a humanidade" é uma feliz tradução para o título original da obra escrita por Edna Ferber e que na época em que foi lançado, 1952, provocou a ira dos texanos, que acusaram o livro de mostrarem um Estado de pessoas provincianas e racistas. Absolutamente, nenhum roteirista que queira escrever um épico familiar pode deixar de assistir ao filme, que cobre a vida de uma família por três décadas, de 1925 a 1950. O roteiro adaptado por George Stevens, tem diálogos brilhantes e ácidos, alguns muito divertidos e que certamente arrancarão risadas do espectador pela sagacidade e ironia. O filme foi indicado a 10 Oscars em 1957, mas ganhou apenas o de direção, em um trabalho extraordinário de George Stevens que trouxe elementos grandiloqüentes na composição dos enquadramentos cinematográficos da região do Texas, quanto no trabalho primoroso da direção de atores. Em quase três horas e meia, o filme trouxe elementos pioneiros no roteiro: discutir de forma contundente a intolerância racial, o empoderamento de uma mulher no Texas, que se mantém absoluta mesmo sendo repreendida na sociedade machista e patriarcal. O filme é lembrado no imaginário popular por seu o último filme de James Dean, que faleceu 8 dias após o término de suas filmagens, em um acidente de carro. Mas o filme é Gigante por si só: o trabalho dos 3 atores e fundamental para que o filme se eleve à condição de tesouro da humanidade, como fez o American Film Institute. Difícil acreditar que Elisabeth Taylor tinham apenas 24 anos de idade, e Rock Hudson, 29 anos. A maturidade das performances é tão impressionante, tão carregada de camadas, cobrindo personagens que vão dos 20 aos 60 anos de idade, que faz pensar que mesmo com toda a beleza e glamour desses atores, sem talento, nada acontece.
Mas talvez o grande personagem desse filme seja a Fazenda e a mansão da família Benedict, "Reata", uma suntuosa casa que rivaliza com "Tara" de "E o vento levou". É dentro dessa mansão que pelo menos 80 por cento do filme acontece.
Bick Benedict (Rock Hudson) é um poderoso e tradicional fazendeiro do Texas, que vai até Maryland comprar um cavalo de um criador. Lá, ele conhece Leslie (Liz Taylor), por quem imediatamente se apaixona. Lelsie desiste do casamento com um inglês e se casa com Bick, indo morar na fazenda dele do Texas. Leslie de cara fica impressionada com o machismo da sociedade e tenta se impor. Quando ela conhece Jet Rink (James Dean) , empregado da fazenda, ela passa a se envolver com o drama dos empregados mexicanos, que sofrem maus tratos e doenças. Jett é apaixonado por Leslie e por isso sofre bastante, além dos maus tratos de Bick. Quando Jett herda um pedaço d aterra de Luz, irmã de Bick que faleceu, ele descobre petróleo na região e se torna milionário. Os anos se passam, e Bick e Leslie têm 3 filhos: para desgosto de Nick, Jordan (Dennis Hopper), o único filho homem, deseja ser médico e se casa com uma mexicana. Luz, sua filha menor, se apaixona por Jett, que se aproxima dela mais por lembranças de Leslie, sua grande paixão, do que por ela em si.
Eu vi o filme há décadas atrás e nem me lembrava que Dennis Hopper interpretava o filho do casal. O filme tem muitas cenas antológicas: quando Jett, coberto de petróleo, vai confrontar Bick e Leslie; a cena da esposa de Jordan sofrendo preconceito em um salão de beleza; a cena na lanchonete onde uma família latina é expulsa do local; o enterro de um dos personagens que morre na 2a guerra; e principalmente, quando Jett começa a demarcar as suas terras, antes de ficar rico.
Ver Rock Hudson, Elisabeth Taylor e James Dean na tela, roubando nossos olhares, é a prova do grande poder que o cinema tem sobre nós, espectadores. Ainda mais nessa época de ouro de Hollywood, que fazia questão de glamurizar tanto os atores quanto a fotografia, a direção de arte e trilha sonora. O filme é tão emocionante, que perdi a conta de quantas vezes chorei. Um filme obrigatório.
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