sábado, 9 de maio de 2020
O pássaro pintado
"The painted bird", de Václav Marhoul (2019)
Provavelmente o filme mais cruel que você terá visto nos últimos cinco anos, muito mais do que qualquer filme de Lars Von Triers ou Michael Haneke, dois cineastas conhecidos pelos críticos e público e comumente acusados de sadismo.
O filme ficou bastante famoso nos circuitos de Festivais pela debandada geral da platéia, que não conseguiu suportar o excesso de violência do filme. Foi assim em Veneza, de onde saiu com um prêmio especial, e em Toronto. Tiveram casos de críticos que se recusaram a assistir ao filme.
Mas o que tanto chocou as pessoas que o viram? Bom, em suas quase três horas de duração, você acompanhará o horror da segunda mundial pelo olhar de uma criança de 10 anos de idade, Joska ( Petr Kotlár, um ator absolutamente extraordinário). O tema lembra muito a obra-prima russa de Elim Klimov, "Vá e veja". Mas aqui, as cenas que se acumulam são tão violentas e chocantes, que fica difícil recomendar o filme para qualquer um assistir. Algumas cenas que você verá acontecendo com o pequeno Joska: ele é estuprado por um homem que o compra de um padre; abusado sexualmente por uma mulher desequilibrada e ninfomaníaca, que faz sexo com uma cabra; enterrado vivo com a cabeça para fora, para que os corvos o comam; torturado e espancado de todas as formas possíveis,, até com um cachorro faminto. Fora isso, ele testemunhará uma mulher ser morta com uma garrafa enfiada na vagina; um homem ser devorado por ratos; um vilarejo inteiro ser massacrado por soldados alemães; mulheres estupradas; judeus sendo fuzilados ao fugirem d eum trem; um menino judeu sem uma perna sendo torturado por outras crianças....o que eu citei aqui não corresponde nem a 1/3 das cenas que o filme propõe.
Mesmo com tantas atrocidades, o filme está bem próximo de ser chamado de obra-prima. A fotografia de Vladimír Smutný é algo de extraordinária, com um preto e branco tão aterrorizante que parece saído de um filme de horror. A direção do tcheco Václav Marhoul, que adaptou o roteiro do best seller "O pássaro pintado", romance autobiográfico do polonês Jerzy Kosinski, não economiza emoções fortes e vai fundo naquilo que ele acredita: a humanidade não presta. O filme tem participações especiais dos astros Stellan Skargaard, Harvey Keitel, Barry Pepper e Udo Kier. A nota curiosa vem do autor do livro, Jerzy Kosinski, que também escreveu "Muito além do jardim", que virou filme clássico com Peter Sellers. Jerzy Kosinski se naturalizou americano, mas acabou se suicidando em 1991, emocionalmente abalado, acusado de plagiar livros e de mentir ao dizer que "Pássaro pintado"era auto-biográfico. Jornalistas descobriram que muito do livro era ficção.
O título do filme vem de uma metáfora que aparece no filme: um homem que costuma caçar pássaros na floresta e os prende em gaiolas, tem o hábito de pintar as asas de alguns deles. Resultado: os outros pássaros, por não reconhecerem o pássaro, o matam. O pequeno Jozka, judeu, também é massacrado pelos outros moradores que o repudiam por ser judeu. Um filme brilhante, mas infelizmente, para poucos.
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