domingo, 3 de março de 2019

Milagre em Milão

"Miracolo a Milano", de Vittorio de Sica (1951) Uma das grandes obras-primas do Cineasta Vittorio de Sica, “Milagre em Milão” mantém a linguagem do neo-realismo mas traz uma narrativa de Conto de fadas, intensificada pela cartela inicial do filme, “Era uma vez...” O filme ganhou inúmeros Prêmios, entre eles, O Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 1951. Totó é encontrado bebê por uma senhora idosa, abandonado no meio da plantação de couve flor do quintal de sua casa pobre. Ela o adota e o ensina a ser bondoso e principalmente, a dizer “Bom dia” para as pessoas. Totó cresce e quando menino, a idosa morre. Ele é levado até um Orfanato. Já crescido, aos 18 anos, é liberado para cuidar de sua vida. Ao ter sua maleta roubada por um mendigo, ele acaba ficando amigo dele, que o leva para morar na favela onde residem outros sem-teto. Totó é adotado pelos moradores e juntos, constroem casas feitas de latas e madeiras. Um dia, descobrem petróleo no terreno, e empresários inescrupulosos querem expulsar os moradores dali. Totó recebe a visita do anjo de sua mãe adotiva, que lhe dá de presente um pombo branco que concede desejos. Mas a ganância dos moradores cria ume enorme discórdia entre eles. É fácil ver que “Milagre em Milão” foi importante como referência para obras-primas contemporâneas como ‘Um dia, um gato”, “Amelie Poulain” e "Harry Potter"( esse plagia o abandono do bebê e as vassouras voadoras). Todos são fábulas que fazem o contra-ponto entre a bondade e ingenuidade das pessoas X a ambição e a ganância que se apodera de outras. Igualmente, todos esses filmes se apropriam da magia, da fantasia e do lúdico para provocar esse encantamento no espectador. Ë possível inclusive enxergar esse filme como um filme mudo: Vittorio de Sica traz elementos do cinema de Charles Chaplin. Trilha sonora onipresente, gags visuais, o protagonista que é um vagabundo bondoso e apaixonado por uma jovem, policiais e empresários inescrupulosos. O filme é repleto de cenas antológicas: Totó menino andando atrás do carro que leva o caixão de sua mãe; os moradores assoprando a fumaça que invadiu a comunidade; e obviamente a cena final com todos voando de vassoura em direção à uma terra onde “Bom dia significa Bom dia”. De Sica sempre fez um Cinema humanista. Seu olhar para os marginalizados é sempre envolto de muito encantamento e poesia. Aqui ele faz uma feroz crítica ao capitalismo, que corrompe as pessoas bondosas, que se tornam consumistas. O roteiro é de Cesare Zavattini, que escreveu várias obras-primas de de Sica: ‘O jardim dos Finzi Contini”, “Umbert D’, “Ladrões de bicicleta”, “Duas mulheres” entre outros. Existe uma cena polêmica para os dias de hoje: um homem negro é apaixonado por uma mulher branca, e vice-versa. Ambos pedem em segredo para Totó que mudem a cor de sua pele. A mulher surge negra, e o homem, branco, e acabam indo embora, tristes. Francesco Golisano, no papel de Totó, é muito carismático, igualmente Emma Gramatica , no papel da mãe adotiva Lolotta.

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