“Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, de Chantal Akerman (1975)
Um drama intimista e claustrofóbico que acompanha uma dona de casa viúva em sua rotina em casa e nas ruas que dura exatamente 201 minutos, ou 3 horas e 21 minutos. Parece loucura imaginar que algum espectador irá passar esse tempo mastodôntico assistindo a protagonista cozinhando batata, arrumando a cama do filho, preparando café da manhã, preparando carne moída, comprando batatas no mercado, comprando pão, engraxando os sapatos do filho e indo dormir isso pelo período de 3 dias e em tempo real. Pois é justamente esse filme que faz parte da lista de vários críticos como sendo um dos melhores filmes da história do cinema. A cineasta belga Chantal Akerman tinha impressionantes 25 anos de idade quando realizou essa obra-prima em planos fixos e longos, tableaux vivos que mostram a rotina árdua e sem conflitos de uma mulher, Jeanne, viúva e mãe de Sylvain, um adolescente que passa o dia todo na escola. De tarde, Jeanne recebe clientes em seu apto, uma forma de poder ganhar dinheiro. Akerman se inspirou em sua mãe para criar a personagem, em sua rotina exasperada. Uma crítica violenta à sociedade machista da época ( o filme é de 1975), o filme foi considerado como um dos pilares do cinema feminino. Submissa, enclausurada, maltratada pelos clientes e pelo filho que nem sequer falam com ela direito, Jeanne irrompe em fúria no seu 3o e último dia, em um ato descontrolado e inesperado.
Delphine Seyrig já era uma grande estrela, tendo protagonizado “O ano passado em Mariembad”, de Alain Resnais, e “O discreto charme da burguesia”, de Bunuel.
O filme é uma representação de como Akerman era na vida real: depressiva, enigmática, valorizando as pequenas coisas. Após a morte de sua mãe, a quem era muito ligada, Akerman se suicidou em 2015, aos 65 anos de idade.
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