"A primeira morte de Joana", de Cristiane Oliveira (2021)
Diretora do ótimo "Mulher do pai", a cineasta premiada Cristiane Oliveira co-escreve com a atriz Silvia Lourenço e Gustavo Galvão um drama delicado e surpreendente sobre o despertar sexual e social de Joana (Letícia Kacperski), uma menina de 13 anos que mora no interior do Rio Grande do Sul, descendente de alemães e com educação rígida de sua avó e sua mãe, com que mora. Através da morte de sua tia-avó, falecida aos 70 anos, Joana fica curiosa pelo fato dela nunca ter beijado nenhum homem , nem ao menos ter pêgo nas mãos de alguém. Joana mantém amizade com Carolina (Isabela Bressane), uma amiga que foi morar com o pai em Berlim, mas por desemprego, acabaram voltando. Mas Carolina não é mais a mesma, e a sua presença, mas a história da tia-avó, transformam Joana para sempre.
O filme foi exibido em Gramado 2021 e no Canal Brasil, e recebeu diversos prêmios, entre eles, edição e fotografia. Retrato cruel de uma sociedade conservadora, machista, misógina e retrógrada, Joana é fruto de uma educação que ensina as mulheres a não terem "postura"de guris, como bater para revidar de um bullying. O roteiro lida com temas bastante sérios para um drama de universo feminino visto pelo olhar de uma menina de 13 anos. A primeira morte, referência a "pequena morte" ou masturbação, é um dos temas tratados com muito respeito pela direção: lesbofobia, bullying, repressão doméstica, masturbação, além do racismo e do preconceito religioso, através do sub-plot da mãe de Joana que se envolve com um rapaz negro de um terreiro ds umbanda, mal visto pela sua mãe.
Cristiane trabalha uma narrativa que mistura realismo com fantasia, e trabalha o naturalismo nas atuações de seu elenco. Palmas para o trabalho complexo e corajoso das duas atrizes, Letícia Kacperski e Isabela Bressane, um ato de amor e dedicação ao ofício.
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