segunda-feira, 20 de abril de 2020
Screen, Queen! My nightmare on Elm Street
"Screen, Queen! My nightmare on Elm Street" de Roman Chimienti e Tyler Jensen (2018)
Excelente documentário que fala sobre vida e obra de Mark Patton, ator de "A hora do pesadelo 2- a vingança de Freddy", e de como o filme destruiu a sua carreira de ator. A homofobia que crescia em Hollywood nos anos 80, por conta do avanço da Aids, obrigou muitos atores gays a abandonarem sua profissão. Atrizes exigiam que seus parceiros de cena apresentassem teste de sangue. Iniciou-se uma verdadeira caça às bruxas, e por conta disso muitos atores gays permaneceram no armário.
Mark Patton foi um dos que ficaram no armário para poder vencer na carreira de ator. Nascido em Missouri, ele veio para Nova York em 1977 para buscar o seu lugar ao sol. Aos poucos, conseguiu entrar em uma peça na Broadway, ao lado de Cher e Sandy Dannis, e essa mesma peça foi adaptada por Robert Altman no cinema. Mark fazia muito papel coadjuvante, e esperava o seu grande momento para estrelar um filme. Muitos atores começaram em filmes de terror B, de baixo orçamento: Patricia Arquette, Johnny Depp. Quando Mark passou no teste para interpretar Jessie, o mocinho de "A hora do pesadelo 2", ele vislumbrou ali o início do seu sucesso em Hollywood.
As expectativas com o filme eram enormes, afinal, o filme anterior foi um grande sucesso de crítica e público. Assim que estreou, muitas matérias falavam que o filme era gay e que Jessie era um homossexual que estava prestes a sair do armário.
Mark passou a receber mensagens homofóbicas, acusando-o de ser gay, numa época onde a Aids dizimava a comunidade. Mark acusou o roteirista David Chankins de ter escrito um roteiro gay. David negou, e disse que quem fez o filme se tornar gay, foi a performance dele. Para quem não assistiu ao filme, Jessie grita com voz feminina, sofre quando vai transar com sua namorada e resolve procurar a cama de seu melhor amigo, frequenta um bar gay e quase é estuprado por seu treinador. Freddie Krueger acaba sendo um protetor de Jessie, Tem uma frase que ficou história: Ele está dentro de mim. Ele quer me possuir!""
"A hora do pesadelo 2" revolucionou os filmes de terror porque o protagonista não é uma "final girl", a mocinha que fica no final e é obrigada a lutar contra o assassino. O protagonista aqui é um "final boy", e muitas pessoas não gostaram: pela cartilha dos filmes de terror, o mocinho tem que ser durão, e a mocinha, indefesa. Quando colocaram Jessie como uma vítima indefesa, viram ali uma fragilidade que induzia ao homossexualismo.
Diante da pressão do seu agente, que após ter visto o filme disse que Mark só poderia interpretar gays, porque ninguém mais o veria como um ator hetero, Mark ficou frustrado. Todos os papéis que lhe eram oferecidos eram para personagens gays. Desiludido, Mark resolveu abandonar a carreira.
Muitos filmes dos anos 80, por conta do estigma da Aids, apresentavam os assassinos como gays ou lésbicas. Mark não queria mais fazer parte dessa Hollywood. Foi estudar arquitetura e se mudou para o Mexico. Quando foi lançado um documentário para comemorar os 30 anos da franquia "A hora do pesadelo", o roteirista David Chankis admitiu pela primeira vez que havia um subtexto no roteiro, e que era sobre a homofobia.
Mark Patton resolveu então produzir esse documentário, onde ele pudesse dar o seu ponto de vista sobre a sua participação no filme, o sofrimento pelo qual ele passou quando os produtores acusaram ele de ter destruído o filme pelo fato dele ser gay, o seu relacionamento com um ator do seriado "Dallas" que morreu de Aids e contaminou Mark, Com o filme pronto, Mark participou de várias convenções de filmes de terror, e descobriu que "A hora do pesadelo 2" se tornou um filme cultuado. Vários espectadores gays dão depoimento dizendo que Mark foi crush deles, e que o primeiro contato que tiveram em um filme do universo gay foi ao assistirem ao filme, que nunca tinham visto um bar gay na vida. Mark reencontra o elenco e a equipe do filme, e o diretor Jack Shoulder insiste que não fazia idéia de que o filme tinha subtexto ga. Aï um dos atores o questiona "Como não sabia, se o bar gay onde foi filmada a cena era o bat gay mais famoso de Los Angeles?"
Mas o momento ápice do filme é quando Mark encontra o roteirista David Chankins e fazem um verdadeiro jogo da verdade. David pede perdão para Mark por ter dito o que ele disse na época, botando a culpa nele pelo fato de chamarem o filme de ser gay.
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