quinta-feira, 16 de abril de 2020
O homem nú
"O homem nú", de Roberto Santos (1968)
O que mais me comoveu nessa adaptação do clássico conto de Fernando Sabino é a cena onde a personagem da atriz Leila Diniz diz para o seu marido, interpretado por Paulo José: "Não quero viajar de avião, tenho medo". Na vida real, Leila Diniz faleceu em um acidente de avião, em 1972, aos 27 anos de idade. "O homem nú" é a terceira parceria de Leila Diniz e Paulo José: antes fizeram "Todas as mulheres do mundo" e ˜Edu, coração de ouro", ambos de Domingos de Oliveira.
O próprio Fernando Sabino adaptou o conto, de apenas 4 páginas, para um roteiro de 111 minutos de duração, criando muitas sub-tramas inexistentes no original. O cineasta Roberto Santos co-escreveu o roteiro. Roberto Santos havia realizado 3 anos antes, em 1965, a obra-prima "A hora e a vez de Augusto Matraga", que concorreu em Cannes. Ele repete em "O homem nú" os atores Jofre Soares e Flavio Migliaccio, em participações especiais, e o fotógrafo Hélio Silva, trazendo o mesmo olhar documental experimentado nos filmes anteriores.
O filme é uma crônica de costumes carioca sobre um cidadão pacato, Silvio (Paulo José) , casado com Marina (Leila DIniz) e que precisa viajar para São Paulo no dia para participar de uma congresso sobre música e folclore. Só que o seu vôo é cancelado, e ele resolve se juntar um grupo de boêmios que iriam no mesmo vôo e farrear a noite toda, no apartamento da cantora do grupo, Marialva (Esmeralda Barros). No dia seguinte ele acorda no apartamento da jovem. Só de toalha enrolada na cintura, Silvio abre a porta para pegar o pão, mas a porta fecha e prende sua toalha. Silvio se encontra nú e a partir daí, enfrenta toda uma sorte de situações que o fazem peregrinar pelado pela cidade, sendo perseguido pela polícia e populares.
O filme é uma metáfora sobre o instinto animalesco do ser humano: até o mais pacato homem na necessidade vira bicho.
Mas tenho uma outra interpretação simbólica: o filme foi rodado um ano antes do AI-5, e na minha opinião, Silvio representa o subversivo que tumultua a paz e por isso é perseguido pela polícia e militares. Na cena final, o personagem de Walter Foster, confundido com o homem nú, vai para a televisão e o jornalista que apresenta agradece o esforço dos militares para prenderem o homem. O filme, premonitório, faz uma crítica à cultura das celebridades; um homem vai na tv n esteira do sucesso de ter sido confundido com o homem nú e aproveita seus minutos de fama.
Paulo José está irrepreensível no papel principal: praticamente presente em todas as cenas, ele fica nú em meia hora de filme e isso vai até o final. Nem sie como a ditadura não censurou a nudez do Paulo José. Destaque também para um super elenco eclético, que junta Paulinho da Viola, Ruth de Souza, Oswaldo Loureiro, Joana Fomm, Thelma Reston, Iris Bruzzi, Zózimo Bulbul, Milton Gonçalves e Irma Alvarez. E nota especial: que delícia é assistir ao Rio de Janeiro da época!E ainda tem uma lind acena filmada no prédio do Minhocão, ainda em obras!!!
Clássico do cinema brasileiro, refilmado por Hugo Carvana em 1997.
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