segunda-feira, 13 de abril de 2020
Garota de Ipanema
Garota de Ipanema", de Leon Hirszman (1967)
Só a ficha técnica do clássico “Garota de Ipanema” já seria um filme à parte: Leon Hirszman estreou na direção de longas em 1965 com “A falecida”, e realiza o seu 2o filme em 1967, “Garota de Ipanema”, baseado na mítica canção escrita por Tom Jobim e Vinícius de Moraes em 1962. Para ajudar a transcrever a letra em um roteiro de cinema, Leon teve a colaboração do documentarista Eduardo Coutinho, do compositor Vinícius de Moraes e de Glauber Rocha. Alguém consegue imaginar Glauber e Eduardo Coutinho falando sobre a Zona Sul carioca dos bens nascidos? A fotografia é do argentino Ricardo Aranovich, fotógrafo de obras-primas do cinema, como “Os fuzis”, “são Paulo S.A” e dos filmes do italiano Ettore Scola, ‘O baile” e “A família”. A direção de arte e figurinos são de Marcos Flaksman. Foram feitos testes para buscar quem seria a representação da Garota de Ipanema e Marcia Rodrigues, atriz de teatro, foi selecionada aos 17 anos de idade. O elenco é um caso à parte: uma mistura de atores de naipe de Adriano Reys, Rosita Thomas Lopes, Irene Stefania, Ana Maria Magalhães, Joel Barcellos; com os cantores Chico Buarque, Vinícius, Luís Eça, Nara Leão, Dorival Caymmi, Baden Powell, Pixinguinha, Ronnie Von, com os escritores Fernando Sabino, rubem Braga, Ziraldo; com os cineastas Arnaldo Jabor, Ruy Solhberg; com o jornalista João Saldanha e para finalizar, com o surfista Arduíno Colassanti. Essa verdadeira constelação de celebridades e atores dá vida a um delicioso musical romântico, coberto de imagens históricas do Rio de Janeiro de Ipanema, sua praia e ruas. Era de se esperar que o filme fosse um grande sucesso, mas fracassou retumbante. Muitos colocaram a culpa em Leon Hirszman: como um carioca nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, em Lins do Vasconcelos, marxista, cineclubista, diretor de 2 obras seminais sobre a luta de classes , ‘Abc da Greve” e “Eles não usam black tie”, filmaria uma história sobre uma jovem da classe média alta de Ipanema, estudante da Puc e que passa o filme inteiro em busca de um amor? A verdade é que, revisto nos dias de hoje, é possível analisar o olhar documental de Hirszman que cobre o dia a dia de Marcia
(Marcia Rodrigues) através de grandes referências do cinema da Nouvelle Vague e do cinema existencialista de Antonioni, muito em voga na época. O público não perdoou um filme que falava sobre tristeza, melancolia, sem trazer as cores, alegria e calor do Rio de Janeiro. Marcia tem crises de identidade, e em uma sequência primorosa, ela tem uma conversa totalmente existencialista com o fotógrafo interpretado por Adriano Res em uma praia conceitual, somente os dois envoltos por dunas muito brancas. Outra cena extraordinária é a sessão de fotos de Marcia; ela representa a dona de casa, a empregada a militar, um padre, uma estudante, e muitas outras profissões, tentando descobrir quem é a verdadeira Marcia.
Mas claro que o grande chamariz do filme são as músicas e as cenas onde vemos os cantores interpretando seus grandes sucessos: Nara Leão canta “Lamento no morro”, Chico Buarque canta “Chorinho”, Ronnie Von canta “Por você”, e em uma cena linda, filmada no carnaval, Marcia Rodrigues e Ruy Solhberg são o pierrô e a Colombina dublando “Noite dos mascarados”, de Elis Regina e Chico Buarque. O filme também traz sucessos estrangeiros da época: ‘California dreamin”, “Guantanamera” e “See you in septembers”. A garota de Ipanema de Leon é uma mulher empoderada já na época, ela foge de assediadores, em uma cena excelente com Joel Barcellos,
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