domingo, 1 de janeiro de 2017

Stalker

"Stalker", de Andrei Tarkovsky (1979) O que sempre me chamou atenção nesse clássico de Tarkovsky nunca foi o filme em si, mas sim, os bastidores da produção, de dimensão trágica. O filme foi lançado em 1979, mas os seus protagonistas, Tarkovsky e parte da equipe técnica vieram a falecer vítimas de câncer. Parte do filme foi rodado em uma Usina desativada na Estônia, e conclui-se que ela ainda estava radioativa. Assistir ao filme, com essa informação, torna o filme ainda mais forte do que ele é. Todos aqueles cenários, abundando em água contaminada, escorrendo por cima dos atores, é plasticamente estonteante, mas me passou uma impressão estranhíssima. Fiquei triste pelo destino cruel dos envolvidos, em prol do bom cinema. O filme em si, é um grande mistério. Ambientado em um lugar e tempo incertos, acompanhamos 3 personagens. Stalker, professor e escritor. Um meteoro atingiu uma região, e nesse local os militares impediram o acesso de pessoas. Acredita-se que nesse local aonde caiu o meteoro, chamado de "A zona", existe um quarto que realiza desejos. Stalker é o guia que leva curiosos que pagam para visitar tal lugar, enfrentando o perigo de serem mortos pelos militares e se perderem. Contra à vontade de sua esposa, Stalker aceita o dinheiro do professor e do escritor e os leva até a Zona. Esteticamente o filme trabalha com o preto e branco ( sépia) e o colorido. Todo o mundo real é em preto e branco, melancólico, depressivo. Quando chegam na Zona, tudo fica colorido, vivo. Impressiona as locações, detonadas porém imbuídas de uma beleza plástica impressionante com as dunas de areia, o túnel aterrorizante, as câmeras, os corredores, os lagos sujos... Tarkovsky já virou jargão cinematográfico: planos longos, travellings, muitos planos de paisagem..e a eterna aura de que tudo aquilo emana uma aura espiritual, metafísica...amplamente copiada por Inarriru, Terrence Malick e tantos outros cineastas e fotógrafos ( Labezky). "Stalker" é um filme para se rever sempre, mesmo que sua duração e seu ritmo extremamente lento seja um empecilho. Muitas metáforas podem ser trabalhadas, principalmente a visão religiosa sobre o significado da Zona, do Stalker e principalmente, da cena final, com a filha do Stalker movendo os copos com a força do pensamento. Takovsky nunca foi literal, querendo dar explicação para tudo o que acontece na tela, deixando o espectador sentir e criar a sua própria percepção das coisas.

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