sábado, 23 de fevereiro de 2019

Viagem à Itália

“Viaggio in Italia ”, de Roberto Rosselini (1954) Uma das grandes obras-primas do cineasta italiano Roberto Rosselini, está na lista dos 100 filmes essenciais da história do cinema, editado pela Toronto Film Festival, do livro “1001 filmes para se ver antes de morrer” e também tem uma grande resenha de Martin Scorsese no seu documentário “Viagem ao Cinema italiano”. Um grande fracasso de público e de crítica na época de seu lançamento, 1954, o filme foi posteriormente resgatado pelos críticos da “Cahiers du Cinema” e alçado à condição de obra-prima, e também ganhou o título de “Primeiro filme moderno da história do Cinema”. Parte do fracasso do filme veio por conta do turbulento relacionamento de Rosselini com a sua estrela, Ingrid Bergman, que chocou o mundo ao abandonar marido e filhos para ficar com Rosselini. Os fãs e os jornalistas não os perdoaram. “Viagem à Itália” narra a história de um casal inglês milionário, Katherine ( Bergman) e Alex Joyce ( George Sanders). Em crise no casamento, eles seguem de carro até Nápoles, e depois para Pompéia, para resolver questões da herança de uma casa de um tio de Alex que morreu. Katherine passa os seus dias em museus, passeios culturais e pelo caminho, fica surpresa com a quantidade de mulheres grávidas e de mães com filhos perambulando pelas ruas, o que a deixa frustrada por nunca ter sido mãe. Alex, por sua vez flerta com mulheres e prostitutas, aos olhos vistos de Katherine. Mas uma viista até o sítio arqueológico de Pompéia e depois a visão e uma Procissão irão mudar os rumos do casal. Diferente de outros filmes do neo-realismo de Rosselini, uma vertente cinematográfico que o projetou ao mundo, com obras-primas como “Roma, cidade aberta”, Alemanha ano zero” e “Paisá”, aqui Rosselini investe no existencialismo e na crise de um casal burguês, tema caro a muitos cineastas que surgiriam depois, principalmente Antonioni. Impossível não se lembrar de “A aventura” e a trilogia de Rosselini. Os protagonistas desses filmes perambulam pelas ruas sem rumo, atingidos por algum trauma ou crise conjugal que os deixa atônitos. Até mesmo um filme recente como o de Angelina Jolie, ‘À beira mar”, com ela própria e Brad Pitt formando um casal que viaja a uma cidade europeia para tentar dirimir a crise no casamento, tem a influência de “Viagem à Itália”. O filme tem uma narrativa documental, mostrando com uma câmera distanciada a rotina dos personagens dentro da cultura italiana. Essa frieza narrativa combina com a metáfora do relacionamento, que tem um desfecho arrasador em Pompéia, quando testemunham os corpos de um casal sendo encontrado enterrado, abraçados diante da morte. George Sanders e Ingrid Bergan estão brilhantes. É muito curiosa a trajetória desses dois ícones de Hollywood no estilo de filmar de Rosselini. Como todos sabem, Ingrid Bergman escreveu para Rosselini dizendo que queria trabalhar com ele e conhecer essa forma mais humana de filmagem, sem grandes equipes e estrutura de camarim. Diferente dela, George Sanders odiou tudo: passou seus dias de filmagem irritado, com a proposta do filme de quase não ter um roteiro, e ser improvisado, e não ter uma infra-estrutura de Hollywood aos seus pés.

Nenhum comentário:

Postar um comentário