domingo, 10 de fevereiro de 2019

Educação sentimental

"Educação sentimental", de Julio Bressane (2013) Assistir a um filme de Julio Bressane não seria a melhor opção para um domingo de tarde de calor de quase 50 graus. Mas como surgiu a oportunidade de ver a esse filme de 2013, que eu perdi no circuito, e tendo em vista que ele ganhou um Prêmio no prestigiado Festival de Locarno, me rendi a esse programa cinéfilo. A última experiência que eu tive de um filme dele, "Cleópatra", não foi das mais satisfatórias. Aqui, a linguagem continua a mesma: fotografia de Walter Carvalho enaltecendo os belos enquadramentos, linguagem teatral, discurso empostado e declamado dos personagens, como se estivessem em um palco de teatro. Cinema, dança, encenação teatral se misturam na linguagem Bressoniana, aqui ainda adicionada da metalinguagem do fazer o Cinema: durante o filme, imagens de refletores, booms aparecem, deixando claro que estamos assistindo a uma farsa a uma encenação para uma platéia. No final, ainda tem quase 8 minutos de imagens de bastidores, erros de gravação, um extra que funciona sempre muito bem em comédias, mas aqui ficou estranho. Não acho engraçado ver a atriz Josie Antello cair num mato enquanto encena uma dança, amparada pelo ator Bernardo Marinho. Áurea é uma mulher por volta dos 50 anos, que certo dia observa o jovem Áureo tomando banho em uma piscina de um condomínio de luxo e se sente atraída pela juventude do rapaz. Da mesma forma, o rapaz fica excitado ao perceber que a mulher o observa, e fica segundo ele, "de pau duro". Pois essa é a metáfora desse filme: a sedução que pessoas mais velhas mais literatas, cultas, sobre os jovens iletrados, sem cultura, "burros". A sedução é intelectual, mais do que física. A "professora"leva o rapaz para a sua casa, e ali, ela declama, encena. dança textos e monólogos filosóficos que o conquistam, o deixam assoberbado. Até que a mãe de Áureo surge na casa da mulher, enciumada da relação do filho com uma mulher de sua idade. O filme é todo experimental, digamos, um ensaio poético e filosófico. A cena que mais gostei, é do embate da mãe com Áurea: os diálogos, repletos da perversão, falam da relação incestuosa de Áureo e sua irmã suicida, e do provável incesto da mãe com o filho. excelentes performances de Josie Antello e Debora Olivieri.

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