quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
O Amor
"L'amore", de Roberto Rosselini (1948)
Após o grande sucesso mundial de sua trilogia da Guerra “Roma, cidade aberta”, “Paisá” e “Alemanha ano zero”), Roberto Rosselini resolve falar sobre o amor, e realiza um filme em 2 episódios. Anna Magnani, sua esposa na época, protagoniza as duas histórias. Logo na cartela inicial do filme, temos a seguinte dedicatória: “ O filme é uma homenagem à Arte de Anna Magnani.”, assinado pelo próprio Rosselini.
A primeira história é uma adaptação da peça teatral de Jean Cocteau, ‘A voz humana”, encenada desde 193 em palcos do mundo inteiro. O texto foi escrito para ser um monólogo de uma atriz, desencantada com o rompimento de seu namoro com um amante, que a abandonou por uma outra mulher. A personagem de Anna Magnani permanece no quarto o filme todo, falando ao telefone com o ex, desesperadamente tentando reatar a relação. Às vezes a ligação cai, ou entra uma linha cruzada e ela perde a razão. Rossleini conseguiu a proeza de trazer elementos cinematográficos a um texto onde a personagem passa o tempo todo colada com um telefone ao ouvido, e muito da força do filme obviamente se deve a essa forca magnânima chamada Anna Magnani, uma das maiores atrizes de todos os tempos, repleta de dramaticidade. O filme, ironicamente, acabou sendo um presságio para a vida pessoal de Magnani, pouco tempo depois. Casada com Rosselini, ele conhecer Ingrid Bergman e ambos se apaixonaram durante as filmagens de “Stromboli”, de 1950. Rosselini abandonou Magnani que ficou emocionalmente destruída.
O 2o episódio se chama “O Milagre”, e foi escrito por Federico Fellini, que interpreta um homem malandro confundido com a ingênua Nanninni (Magnani) com o são José. Acreditando ter tido a visão do Santo, Naninni acaba se embebedando e o homem a estupra. Quando acorda, a pobre mulher, que nem tem aonde cair morta nem o que comer, não se lembra do ocorrido. Meses depois, ele descobre estar grávida. Ela crê estar grávida do espírito Santo, mas os moradores da cidade dizem que ela está louca e zombam dela, assim como cristo na Via Crucis. É um episodio cruel, e Rosselini faz uma dura crítica à ingenuidade de pessoas que colocam a fé em um estágio de cegueira. Nos Estados Unidos, esse episódio foi proibido, acusado de blasfemo pelos católicos.
Rosselini dirige o filme com maestria, e mesmo os não atores balanceiam bem com a força de Magnani. A trilha sonora e a fotografia em preto e branco reforçam a dramaticidade das histórias.
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