sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Sofá

""Sofá", de Bruno Safadi (2019) Contratem imediatamente um assessor de imprensa que divulgue o filme com a seguinte frase: "quando a Rainha do blockbuster, Ingrid Guimarães, encontra o Rei do Cinema independente no Brasil, Cavi Borges". Somente o Cavi, e a sua produtora Cavideo, conseguiriam unir em um mesmo filme Ingrid Guimarães, Chay Suede, Laura Neiva, Nizo Neto, João Pedro Zappa, Bruce Gowlevsky e o produtor, roteirista e diretor Bruno Safadi e filmar tudo em 5 dias, com um orçamento mega enxuto. Filmando em situações adversas ( Baia da Guanabara, Linha vermelha), Bruno Safadi resgate o seu filme anterior, "O prefeito", também com Nizo Neto interpretando o prefeito carioca, e faz uma espécie de continuação, apresentando as consequências da má administração e corrupção que assolam a população. Ingrid interpreta Joana D'arc, uma professora estadual que teve a sua casa no bairro do Valongo destruída pela prefeitura. Sem moradia, ela vaga pelas ruas, até encontrar o pescador Pharaó (Chay Suede). Ambos se tornam amigos. Durante uma pescaria em busca de peixe para se alimentar, os dois acabam pescado um sofá, que Joana reconhece como sendo de sua casa. Arrastando o sofá de um lado para outro, para servir de moradia, eles são logo procurados pelo Prefeito e sua filha, Laura Neiva, que lhes reservam uma surpresa ingrata. "Sofá" foi fotografado por Azul Serra, um dos mais incensados fotógrafos brasileiros da atualidade. Bruno Safadi conheceu Ingrid e Chay enquanto gravava a novela "Novo mundo"e juntos, resolveram fazer um filme de baixo orçamento. Ingrid Guimarães já havia buscado sair do conforto das grandes comédias para um cinema mais autoral. Foi assim em "Entre idas e vindas", de José Belmonte. Idem Chay Suede, que rejeita seu rótulo de galã, investido mais em um cinema autoral com diretores como Neville D"almeida, Jorge Furtado, Daniela Thomas, Felipe Barbosa. O filme tem uma proposta estética bastante ousada, tanto em seu formato de tela ( aspect ratio) de 1:1, ou seja, um formato quadrado, quase que de um Instagram, até filtros que traz cores fortes e pastéis para o visual. Além da parte ficcional, o filme investe em um cinema documental, através de registros jornalísticos editados com a parte dos atores. Bruno Safadi, assim como em seus filmes anteriores, traz um olhar cinéfilo rebuscando homenagens a filmes de Bressane, Godard ( vide a cena onde ele subverte a linguagem do cinema apresentando uma claquete sendo batida, e a mesma cena sendo repetida em 3 takes distintos). Vislumbrei uma linda homenagem, talvez inconsciente, ao Cinema de Carlos Reichembach: No seu filme "As professoras / Anjos do arrabalde", a personagem de Betty Faria é uma professora que mora na periferia e é assaltada na rua, até reconhecer o assaltante como um de seus alunos. A mesma cena acontece no filme, com João Pedro Zappa, assaltando a personagem de Ingrid e ela reconhecendo seu aluno Ronaldinho. Eu sou um grande fã de "Éden", filme onde Safadi traz um olhar crítico ao universo da Igreja evangélica. Em "Sofá", Safadi busca um cinema mais raiz, extraindo aonde pode o seu olhar sobre o experimentalismo autoral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário