sábado, 28 de dezembro de 2019
Aqueles que ficaram
“Akik maradtak”, de Barnabás Tóth (2019)
Finalista entre os 10 selecionados para o Oscar de filme estrangeiro de 2020, o poderoso e contundente drama húngaro ‘Aqueles que ficaram” é uma adaptação do livro de , Zsuzsa F. Várkonyi, “Aqueles que ficaram”. Assim como em “A escolha de Sofia”, o filme é um retrato dos sobreviventes do Holocausto, e já começa anos depois do final da 2a guerra mundial, na Hungria. Sofrendo com a escassez de comida e a chegada inevitável do regime comunista, a Hungria é composta por sobreviventes da 2a guerra. Quem teve condições já fugiu do País para uma vida melhor em outro lugar. O médico ginecologista Körner Aladár ( em performance irrepreensíve; de Károly Hajduk) é um homem discreto na faixa dos 40 anos. Ele cuida das mulheres que sobreviveram aos horrores da guerra e que perderam seus maridos. Entre suas pacientes, está Klara (Abigél Szõke, excelente), uma adolescente de 16 anos trazidas por sua guardiã, a tia Olgi. Klara acredita que seus pais ainda estão vivos. De imediato, Klara e Korner sentem uma conexão de duas almas perdidas e que necessitam urgentemente de carinho e compreensão. Sem condições de manter Klara sozinha, olgi aceita dividir os dias de Klara com Korner. No entanto, as pessoas na escola e no prédio de Korner passam a suspeitar que existe algo além de uma simples amizade entre os dois, a ponto de Korner receber ameaças do partido comunista.
A direção de Barnabás Tóth é bastante inteligente. No incío, eu ficava bastante incomodado com as cenas noturnas serem tão escuras, quase impossíveis de serem vistas. Mas aí entendi que é proposital: em primeiro lugar, para dar realismo à escassez de energia elétrica. E depois, para deixar ao espectador imaginar o que acontece no quarto entre os dois personagens. É um desejo quase obsceno de querer enxergar coisas que de repente nem existem. A trilha sonora de László Pirisi é digna de aplausos: melancólica sem ser exagerada e elevando as cenas dramáticas a um nível de perfeição. Um filme triste, sobre personagens que perderam tudo e que estão a um passo de perderem suas vidas. A cena de Klara folheando o álbum de Korner é um primor de realização.
O filme não pode e não deve ser visto como uma possível adaptação húngara ao livro de Nobukov, "Lolita". Não deve ser avaliado por esse olhar tão simplista. É um filme complexo e polêmico, mas apaixonante.
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