segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Donbass

“Donbass”, de Sergey Loznitsa (2018) O cineasta ucraniano Sergey Loznitsa é habituée do Festival de Cannes. Seus filmes são recebidos pela crítica e pelo público sempre de forma controversa. Há quem ame, há quem odeie. “Minha felicidade”, de 2010, e “A criatura gentil”, de 2017, são exemplos de filmes que apresentam o sofrimento do protagonista em torno de uma Ucrânia devastada por guerras e conflitos, e ainda sob a herança do comunismo da União Soviética. Com “Donbass”, Sergey Loznitsa recebeu o prêmio de melhor diretor em Cannes 2018 na Mostra paralela Um certo olhar. O filme foi indicado também para representar a Ucrânia para uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro, mas não chegou entre os 5 finalistas. A estrutura narrativa de “Donbass” é uma hoemangem à “O fantasma da liberdade”, de Luís Bunuel. Sergey quis copiar a dinâmica de sketches, onde cada história segue independente da outra, cada uma com seu protagonista. O filme apresenta 13 sketches, algumas em longos planos-sequência. O episódio que abre o filme continua na cena final, mostrando populares contratados para falarem para o canal de tv sobre as manifestações políticas. Assim como Bunuel, Sergey também trabalha com o nonsense e o surreal, mas aqui ele explora a tragédia e a exploração humana através de cenas violentas e brutais. Donbass é uma região ao leste da Ucrânia onde se deu a Guerra separatista entre a Ucrânia e Russia, iniciada em 2014. O governo da Ucrânia se dividiu entre separatistas e os que eram a favor da união com a Russia. São histórias que giram em torno de corrupção, traições, atentados, o medo da população diante de um conflito onde quem sai perdendo é o povo, morto em violentos confrontos. Em uma das histórias, um soldado separatista é preso e colocado à disposição dos populares na rua poderem linchá-lo. É um episodio brutal, filmado em estilo documental. Provavelmente usaram bastante trabalho de pós-produção, pois a cena é filmada em plano-sequência e o soldado vai levando socos e vai ficando repleto de feridas e espirrando sangue. Sergey tem uma capacidade impressionante em seus filmes, de saber marcar elenco e enorme quantidade de figuração em cena. São verdadeiros tableaus, longos, onde o aglomeramento de pessoas vai aumentando, mas você não vê ninguém fora do tom ou da cena. Sois exemplos são as cenas do linchamento e a brilhante cena final.

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