"Vórtex", de Gaspar Noé (2022)
"Lares são para os vivos". Concorrendo no Festival de Cannes 2022, "Vórtex"possui uma das cenas mais angustiantes do cinema: um idoso (Dario Argento, o mestre do cinema giallio italiano) agoniza por longos minutos de ataque de coração, e sua esposa (Françoise Lebrun, formidável), com demência, não entende o que se passa com ele. Outras cenas angustiantes se acumulam nesse filme, como o simples ato de ligar o gás do fogão. ele é crítico de cinema. Ela, uma psicóloga com demência.
Impossível não se lembrar de "Amor", de Michael Haneke, mas Gaspar Noé vai além na crueza e decadência física e psicológica de um casal já em seus último momentos de vida.
Gaspar Noé, autor de alguns dos filmes mais polêmicos do cinema, como "Irreversível", "Clímax" e "Love", aposta dessa vez em uma história que fala sobre a morte e focando na finitude da vida de forma extremamente chocante. O próprio Gaspar passou por uma experiência de quase morte, ao sofrer uma hemorragia cerebral que o deixou entre a vida e a morte. A sua mãe tem Alzheimer e seu pai, quase 90 anos. Falar então sobre o fim de tudo lhe pareceu ser o momento mais apropriado. Para isso, convidou o Mestre do terror Dario Argento para dar vida ao papel do marido, e a musa do cinema da nouvelle vague Françoise Lebrun para fazer a esposa. o filme é tão frio que nem os protagonistas têm nome. E por ser um filme de Gaspar Noé, não tinha como ele largar mão do elemento estético e técnico da câmera, que ele tanto aprecia em seus filmes, com a ajuda de seu fiel fotógrafo Benoit Debie. Aqui, o filme é dividido em 2 telas: uma focada no homem, e o outro, na mulher, isolados, como se morassem sozinhos em casa e dando a estranha sensação de que um deles poderia estar morto e o outro conviver em uma casa solitária, vivendo de memórias. E quando um deles falece, a outra tela fica preta, marcando a ausência. É triste, angustiante e não recomendado para quem é sensível ao tema. Para Noé, ao contrário de muita gente, a terceira idade não é a Feliz idade.
Na trilha, Noé traz Ennio Morricone com o tema de "Meu nome é ninguém", e "Camille", tema de George Delerue para 'O desprezo".
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