"Feathers", de Omar El Zohairy (2021)
Há tempos eu não assistia a um filme tão original como "O truque da galinha". Ainda mais que o marketing do filme vende o filme para o público como comédia, e na verdade, é um dos filmes mais cruéis e angustiantes que você terá visto recentemente. Uma mistura de Lars Von Triers, com a tortuosa e sádica jornada da heroína, com o lúdico e inusitado dos filmes de Emir Kusturica e Jos Sterling.
Em um bairro operário do Egito, uma região extremamente pobre, em um conjunto habitacional miserável, mora uma família composta pelo marido operário, a esposa dona de casa e seus 3 filhos, dois meninos de 4 e 10 anos e um bebê. O marido é arrogante e machista, a esposa nem abre a boca para nada, fazendo o seu ofício de mulher submissa. Quando o marido, endividado, decide fazer uma festa de aniversário para seu filho de 4 anos, ele convida amigos e o mágico de um circo. O marido vira cobaia em um truque, e acaba virando uma galinha. O mágico foge e a mulher fica desesperada em achar o paradeiro do mágico para desfazer o feitiço. E agora, ela precisa lidar com as dívidas, o aluguel atrasado, o assédio sexual dos empregadores do marido, a galinha, a fome e a busca por emprego em uma sociedade que não permite que a mulher trabalhe em fábricas.
Impressiona saber que é o filme de estréia do cineasta, que também assina o roteiro. Conduzindo com maestria cada plano de seu filme muito bem orquestrado, com uma fotografia que parece saído de um pesadelo, e mais, trabalhando com não atores e extraindo deles um naturalismo melancólico, o filme exala cinema em cada fotograma. É um filme muito denso, triste, às vezes buscando um sorriso amarelo, mas sinceramente, uma porrada.
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