domingo, 17 de julho de 2022

Entre dois mundos


 "Ouistreham", de Emmanuel Carrère (2021)

Excelente drama que me fez cair em prantos inúmeras vezes, tal a capacidade de emocionar tanto pela porrada que é a história baseada em fatos reais, quanto pelo trabalho excepcional de todo o elenco do filme, mesclando atores e não atores, capitaneado pela brilhante Juliette Binoche, que por anos tentou comprar os direitos do livro escrito pela jornalista e escritora Florence Aubenas "Le Quai de Ouistreham": Aubenas, de classe média rica, se nfiltra por seis meses no universo de faxineiras que vivem de trabalhos precários. Passando tempo ao lado de mulheres que alternam entre empregos instáveis e períodos de desemprego, ela trabalha em estações de trem, limpeza e conhece a realidade de vida das pessoas que encontra nesses lugares.

Todo mundo sabe que a atriz Frances Macdormand fez um laboratório para seu premiado filme "Nomadland": por meses, ela se infiltrou em empresas trabalhando em serviços precários para entender melhor sua persnagem e o universo dela. mas isso ficou como bastidores, o filme não fala sobre isso. Em "Entre dois mundos", é como se filmássemos todo o processo de Frances MAcdormand. Juliette Binoche faz esse personagem para o filme. Uma espécie de filme de Ken Loach, que fala sobre pobreza, classe trabalhadora, desemprego, amizade real e principalmente, sobre as pessoas invisíveis, que nos filmes de Loach e aqui, são o foco dos filmes.
Hélène Lambert, no papel der Chrystele, faxineira e mãe solteira de três filhos é uma força da natureza, e a construção de sua personagem ao longo do filme é absolutamente comovente. Léa Carne, como Marilou, jovem faxineira, também está fantástica.
O filme sofreu críticas severas por parte da mídia que acusam o filme de explorar a pobreza pelo ponto de vista de uma mulher rica, que possui condições de sobreviver caso não obtenha empregos e não ter como sustentar o aluguel. Mas a forte cena final do filme explicita esse distanciamento entre os dois universos, uma corajosa aposta da direção e dos roteiristas, evitando sentimentalismo. A cena das 3 faxineiras se aproveitando de uma cabine de luxo no navio de passageiros é antológica.

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