terça-feira, 31 de março de 2020

Pinóquio

"Pinocchio", de Matteo Garrone (2019) Encantado com essa obra-prima dirigida por Matteo Garrone, cineasta italiano conhecido por seus dramas viscerais sobre a violência em seu País, em filmes premiados como "Gomorra" e "Dogman". O seu "Pinóquio" tem uma mistura inusitada de realismo italiano com uma fantasia dark de Tim Burton, passando muito longe do colorido da versão da Disney. Tem momentos que parece ser puro Pasolini, e isso se explica porque Garrone quiz ser fiel ao livro de Collodi. A zona rural de uma pequena cidade da Itália atravessa um período de extrema pobreza, fome e desemprego e isso é visível na formidável direção de arte, fotografia e figurinos de uma equipe técnica impecável. A maquiagem e o trabalho de pós-produção merecem aplausos: transformaram o jovem ator Federico Ielapi em um boneco de madeira absolutamente crível. existe também um universo mágico no filme, com personagens fantásticos, como a Raposa, o Gato, o Juiz Gorila, a Governanta Caracol, que também têm uma caracterização nota 1000. Na estética mais pé no chão de Garrone, a Fada mora em uma casa, e não vem em uma bolha do céu. Os momentos de fazer o queixo cair no chão ficam reservados pra cena brilhante dos meninos se transformando em burro, e do burro Pinóquio voltando a ser boneco, em uma linda cena que evoca "A forma da água", de Guilhermo del Toro, que também fará em breve a sua versão de Pinóquio. A Baleia tem um visual assustador, mais próxima da ilustração do livro. Eu fiquei apaixonado pelo Atum falante. Outro destaque absoluto do filme vai para Roberto Benigni. Ele e seu histrionismo têm detratores no mundo inteiro, principalmente depois da sua performance ao vivo na entrega do Oscar que lhe rendeu Melhor filme por "A vida é bela". Mas Benigni envelheceu, e a sua performance como Gepetto é não mais que comovente. A curiosidade, todos sabem, é que Benigni dirigiu a sua versão de Pinóquio em 2002, em uma produção da Miramax de Harvey Weinstein, e o filme foi um retumbante fracasso. Benigni interpretou Pinóquio, e infelizmente nada funcionou no filme. Agora chegou a sua deixa para se redimir com Colloddi e finalmente, dar vida de forma digna a um dos personagens. Muito provável que o filme não seduza as crianças. É uma versão bastante crua e realista da história, apesar dos momentos de fantasia. A fotografia é escura e o filme tem uma atmosfera de eterno pesadelo. Mas para os cinéfilos, é um baita presente.

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