quinta-feira, 12 de março de 2020
Fim de Festa
"Fim de festa", de Hilton Lacerda (2019)
Prêmio de melhor filme no Festival do Rio 2019, "Fim de festa" é escrito e dirigido pelo mesmo cineasta pernambucano de "Tatuagem", outro premiadíssimo filme que conta com o melhor do elenco pernambucano.
"Fim de festa" é um filme do nosso tempo: população dividida entre os que apoiam o governo e os que o descreditam; juventude liberal X população conservadora, que não aceita a nudez dos jovens fora do ambiente carnavalesco; crítica aos policiais e militares; o filme ainda consegue discutir a questão do gênero e do feminismo, além do racismo e do morador da periferia. Nessa colcha de retalhos moral, social e econômica que acontece a partir da 4a feira de cinzas e se espalha por mais 4 dias, o filme ainda encontra tempo para tentar desvendar o paradeiro do assassino de uma turista francesa, casada com um brasileiro, que foi assassinada durante o carnaval, asfixiada.
"Fim de festa" é um título metafórico e bastante melancólico para um País que se encontra num beco sem saída, ou a saída é morar no exterior, como alguns personagens, que abandonam tudo e vão morar na França ou Argentina.
Mas o que mais me chamou atenção como referência cinéfila
(além do óbvio "O bandido da luz vermelha") foi a aproximação com o cinema do russo Alexander Sokurov, mais precisamente de seu filme "Pai e filho", um drama homoerótico que mostra de forma discreta uma possível relação incestuosa entre pai e filho. Irandhir Santos, que interpreta o policial Breno, e Gustavo Patriota, que interpreta seu filho rebelde e bissexual Breninho, se olham ternos, apaixonados, se permitem massagear seus pés, se abraçar, deitarem-se juntos. Um tesão velado apenas quebrado pela rotina de um drone que insiste em flagrar os atos repletos de tabus dos moradores de Pernambuco.
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