sexta-feira, 6 de março de 2020
O jovem Ahmed
"Le jeune Ahmed", de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne (2019)
O lançamento de um filme novo dos irmãos Dardenne é sempre motivo de aplausos. Os mais famosos cineastas da Bélgica já ganharam diversas Palmas de Ouro em Cannes, sendo 2 por melhor filme, além de roteiro e prêmios do Juri. Com "O jovem Ahmed", eles receberam a Palma de Ouro de melhor direção em 2019, um prêmio merecido pela eficiente e tensa construção de um assassinato premeditado.
O protagonista é Ahmed, um menino de 13 anos, interpretado com brilho por Idir Ben Addi. Seu pai abandonou a família. Ele mora com sua mãe, sua irmã e seu irmão mais novo. Sem uma presença masculina forte, Ahmed quer assumir o lugar de homem da família. Cooptado pelo islamismo, Ahmed se torna um muçulmano fervoroso, abraçado por um Ímã que ele enxerga como uma figura paterna. Ahmed maltrata sua mãe e sua irmã, a quem julga uma vadia. Quando Ahmed discute com sua professora, a quem se recusa a apertar a mão, Ahmed toma uma decisão: assassinar a professora. Recriminado pelo Ímã que diz que Ahmed entendeu errado seus ensinamentos e os preceitos do Alcorão, Ahmed acaba preso em uma casa juvenil para jovens delinquentes. Mas seus planos de matar a professora continuam.
Sempre fui um defensor dos filmes dos Dardenne, de quem sou grande fã. Esse não é o melhor trabalho deles ( considero "A criança" a grande obra-prima) mas ainda assim é um filme obrigatório. Os mesmas temas humanistas, focados no protagonista vítima da sociedade continuam. Os Dsrdenne nunca punem seus personagens, e sim, tentam identificar de que forma eles chegarem a um ponto onde nada mais parece funcionar. Os atores em registro naturalista brilham nessa linguagem documental, de onde saíram os cineastas. Um filme tenso, que faz refletir sobre o papel da sociedade, das religiões e de como as novas gerações são seduzidas por falsos profetas que deturpam tudo aquilo que lêem e pregam em nome de Deus.
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