quinta-feira, 19 de março de 2020
Brincando nos campos do Senhor
"At play in the files of the Lord, de Hector Babenco (1993)
Desde que o livro escrito pelo americano Peter Matthiessen foi publicado em 1965, o mega produtor Saul Zaentz ( de "O paciente inglês", "A insustentável leveza do ser", "Um estranho no inho" e "Amadeus") tinha o desejo de levá-lo às telas. Por desavenças de direitos de adaptação entre a Warner bros e a Universal, somente em 1989 Saul Zaents pôde finalmente concretizar seu sonho.
Bruno Babenco vinha de 2 grandes sucessos em Hollywood: "O beijo da mulher aranha" e logo depois, "Ironweed", que teve indicações ao Oscar para melhor ator, Jack Nicholson, e melhor atriz, Meryl Streep. Junto de uma equipe técnica extraordinária, transformaram o livro em um grande épico, comparável à grandiosidade de obras-primas como "Fitzcarraldo", de Werner Herzog, e "A missão", de Roland Jafeé, todos filmes que falam sobre evangelização e processo de civilização e aniquilação de povos indígenas.
"Brincando nos campos do Senhor" é certamente o filme mais incompreendido de Babenco, e injustamente, não participou das premiações em Festivais. Assistindo ao filme, fica muito, muito difícil compreender como que a fotografia esplendorosa de Lauro Escorel não foi indicada? Ou a bela trilha sonora do compositor polonês Zbigniew Preisner, que criou as trilhas de Kristoph Kieslowsky? A direção de arte ompecável do mestre Clovis Bueno? E o mais chocante de tudo, as performances viscerais, provavelmente o melhor momento das carreiras de Aidan Quinn, Kathy Bathes, Daryl Hannah e Tom Berenguer?
Do time dos atores brasileiros, é sempre um prazer assistir ao trabalho de Nelson Xavier e José Dumont. Mas quem rouba a cena é Stenio Garcia, no papel do Cacique de uma tribo indígena, totalmente despido de vaidade e fazendo qualquer um acreditar na suas performance como um índio nativo.
O grande tema do filme é o pertencimento. Lewis Moon ( Tom Berenger), um americano de sangue indígena, entra em conflito, pois não sabe dizer se pertence ao mundo dos brancos ou aos indígenas. Os missionários interpretados por Aidann Quinn, Kathy Bathes, Daryl Hannah e John Lightgow entram em crise de fé ao serem confrontados com questões como morte, doença, segurança e sexualidade. Para muitos, a solução é apenas uma: a loucura.
Ambientado na fictícia cidade de Mãe de Deus, na Floresta Amazônica, todos os personagens estão conectados à tribo de "selvagens" indígenas Niaruna: Lewis e seu colega Wolf (Tom Waits, insano) são induzidos a jogarem bomba na tribo para afastá-los da região. Já os missionários têm a missão de catequizá-los. No caminho, são confrontados com o catolicismo do Padre Xantes (Nelson Xavier).
O filme possui muitas cenas antológicas: a cena da loucura de Kathy Bathes; a cena do vôo de Lewis em direção à Floresta amazônica, a morte do menino Billy, a pajelança, e a cena de Stenio Garcia.
Uma obra-prima do cinema, um filme fundamental para se entender a relação entre as co-produções Brasil e estados Unidos e também para infelizmente entender que dificilmente o País irá produzir um épico dessas proporções novamente.
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