domingo, 29 de março de 2020
Até logo, meu filho
“Di Jiu Tian Chang”, de Wang Xiaoshuai (2019)
Um dos filmes mais emocionalmente devastadores que assisti nos últimos 10 anos, uma catarse de sensações que me fez chorar sem parar nos últimos 40 minutos, e escrevendo essa crônica, continuo em prantos. Co-escrito e dirigido pelo Cineasta chinês Wang Xiaoshuai, “Até logo, meu filho”, é uma aula de cinema, em todos os níveis. A começar pelo trabalho esplêndido de todo o elenco, os mesmos atores durante 30 anos de história, em um trabalho impressionante de maquiagem e de interpretação do elenco, que à medida que vai envelhecendo, vão pesado a expressão fácil e a postura corporal. O casal principal do filme, os atores Yaojun (Wang Jingchun) e Liyun (Yong Mei), ganharam respetivamente, os Ursos de Ouro de melhor interpretação masculina e feminina no Festival de Berlin 2019. Se tivesse prêmios para atores coadjuvantes, certamente os atores que interpretam o outro casal venceriam.
“Até logo, meu filho”, é o filme que Jia Zheng Khe teria filmado. Muitos dos seus temas estão ali presentes: a revolução cultural na China dos anos 80, a transformação pelo qual a China passou as últimas décadas em direção à abertura econômica e como isso afeta a vida das pessoas. Junte 3 grandes clássicos contemporâneos, e você terá idéia do que é o filme: “As montanhas se separam”, de Jia Zheng Khe, “Manchester à beira mar”, de Kenneth Lonergan e “Tempo de viver”, de Zhang Yimou.
A estrutura narrativa e de roteiro lembra bastante a de “Manchester à beira mar”: totalmente fragmentada, descontruída e exigindo do espectador muita atenção para amarrar as pontas.
O filme começa nos anos 80, com o advento da Revolução cultural na China, imposta por Mazo Tsé Tung. Junto, veio a política do filho único, que é o pano de fundo de toda a trama: o casal Yaojun e Lyiun acaba de perder seu filho em um acidente em uma reserva, morto por afogamento. Durante a trajetória do filme, vamos descobrir que no passado, Liyun ficou grávida de um 2o filho, mas foi obrigada a abortar pela sua chefe na Fábrica ( a cena mais cruel e dolorosa do filme). Com a morte do filho, eles entram em um luto eterno, e nunca mais poderão ter outro filho. A partir daí, vários desdobramentos, que envolvem traição, suicídio, jogo de mentiras, filho adotivo, vários desdobramentos que farão o espectador apaixonado por melodramas se dobrar no sofá. Em mãos erradas, essa história poderia ter virado um baita novelão. Mas como dito acima, com o trabalho fenomenal do elenco, que interpreta no silêncio e nas feições; na fotografia dramática, de Hyun Seok Kim; na trilha sonora comovente de Dong Yingda e clar, no roteiro e na direção de de Wang Xiaoshuai, que afasta a sua câmera dos momentos mais trágicos do filme, mostrando tudo em planos abertos. Os enquadramentos, a marcação de cena, os movimentos de câmera, os silêncios e a certeza de ter realizado um dos grandes épicos emocionais e intimistas da safra recente chinesa. O filme é repleto de cenas antológicas, e entre tantas, eu destacaria a do casal andando pela cidade em busca do filho adotivo, que fugiu: a decupagem, a solidão refletida nos enquadramentos e no rosto de seus personagens, culminando em uma chuva que separa o casal. Imperdível!
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Vou procurar.
ResponderExcluir"Manchester a beira mar" é belissimo.
Acabei de ver! Incrível mesmo!!!
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