quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A regra do jogo

"La règle du jeu", de Jean Renoir (1939) Clássico do Cinema francês de 1939, consta em qualquer lista de melhores filmes de todos os tempos elaborado por críticos do mundo inteiro. Confesso que eu mesmo já tive vontade de assistir a esse filme em outras ocasiões, mas sempre acabava desistindo, talvez por preguiça mesmo. Mas depois que li em um artigo de Scorsese, dizendo que é um filme obrigatório para qualquer profissional que tenha estudado Cinema, resolvi assistir de vez. E que bom que assisti! O filme é um primor de diálogos ácidos, bem humorados e também tem como tema central a luta de classes sociais disfarçada em comédia de costumes e um pouco de vaudeville. Os atores são todos brilhantes, cada um em um registro único, como se fossem pequenas caricaturas de tipos que se rivalizam entre a burguesia e a classe trabalhadora. Li em uma matéria que o diretor Jean Renoir incentivava aos atores improvisarem, e isso é nítido no filme, existe um frescor nas falas que deixa os personagens bem à vontade. Tecnicamente, o filme é objeto de estudo por conta do uso da profundidade de campo ( ações acontecem em 1o plano e no pano de fundo, o costume até então era sair decupando a cena em vários planos, e Renoir economiza bastante. dado assim mais vivacidade aos atores. Parece um grande palco de teatro, com marcações bem precisas. Outra linguagem narrativa criada por Renoir e depois copiada à exaustão, principalmente por Robert Altman, são os planos-sequência onde a câmera se movimenta e sai de uma cena para outra, sem corte, o famoso plano painel. A história é divertida: um aviador, André Jurieux, viaja dos Estados Unidos até Paris e em sua chegada é saudado pelo grande feito. Porém, ele se irrita, pois Christine, sua amada, não comparece. Christine é casada com o Marquês Robert de la Cheyniest, que por sua vez, também tem uma amante, Genevieve. Octave, amigo de André e de Christine, sabendo da dôr de seu amigo aviador, consegue que ele seja convidado para um grande evento de caça que acontecerá na casa de campo do casal. Chegando lá, grandes confusões acontecem, não só com os ricos, mas também com os empregados. O figurino do filme foi desenhado por Coco Chanel, e o próprio Jean Renoir interpreta Octave, o grande observador dos personagens. O filme é bastante rico em detalhes, e merece ser revisto vez ou outra, como estudo. Acredito que nos dias de hoje é difícil convencer alguém que não seja um estudioso a assistir ao filme, por acharem talvez teatral demais ou muito verborrágico. Quem se permitir assistir, irá testemunhar uma obra que mistura gêneros e que, pasmem, quase 80 anos depois, mantém atualizado o discurso homem X mulher, Ricos X pobres.

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