sábado, 16 de janeiro de 2016
E a vida continua
"Zendegi va digar hich" , de Abbas Kiaristami (1992)
Segundo filme da trilogia de Koker, realizado pelo cineasta iraniano Abbas Kiarostami. Aqui, ele mais uma vez cria um falso documentário, se utilizando de atores e não atores.
Em 1990, na região de Gullan, um terremoto matou milhares de pessoas. O próprio Kiarostami voltou para a região de Koker e Pushter, onde ele filmou em 87 "Onde fica a casa de meu amigo?", para saber se os atores de seu filme estavam bem (Kiarostami escalou não atores que moravam nessa região para o sue filme).
2 anos depois, Kiarostami recria essa sua jornada, filmando esse falso documentário sobre essa busca pelos atores do filme. Um cineasta e seu filho pequeno ( o ator Farhad Kheradmand faz o alter ego de Kiarostami) seguem de carro para a região de Koker para tentar localizar atores do filme que rodou em 87. Vemos então a consequência do terremoto: casas totalmente destruídas, e depoimentos de moradores sobre a perda de parentes e amigos. O cineasta tenta chegar em Koker, mas a estrada de acesso está bloqueada. Ele tenta outro caminho e assim, vamos acompanhando a triste realidade de quem mora na região devastada. Todos falam sobre a fatalidade e sobre o destino, dizendo que foi Deus quem assim quiz. Além da religiã, o filme também fala sobre o amor dos iranianos pelo futebol. Na noite do terremoto, muita gente estava assistindo ao jogo Brasil X Escócia na Copa do mundo, e por isso, muitos foram salvos por não estarem em casa.
Vários depoimentos são muito comoventes e mostram como a morte é encarada como algo corriqueiro: um casal diz terem se casado 1 dia após o terremoto, mesmo tendo perdido 65 parentes. O noivo alega que se não se casassem, pela tradição, isso só poderia acontecer mais de 1 ano depois. Um outro menino diz que ele foi salvo porquê os mosquitos lhe picavam e ele não conseguia dormir, daí for pra rua. Sua mãe ficou zangada, pois seu irmão morreu soterrado, dormindo, e pelo fato dos mosquitos não terem mordido ele, ele acabou morrendo.
Como todo filme iraniano, as imagens são carregadas de poesia e de simbolismos. Acho curioso também a obsessão por filmes onde muita da ação acontece dentro do carro, como se o veículo fosse o centro do universo, o observatório do mundo.
Nota: 8
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