terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A aventura

"L'a avventura", de Michelangelo Antonioni (1960) Ao som hipnotizante de Giovanni Fusco, os créditos iniciais de "A aventura" darão o tom do filme que vamos ver. Primeiro filme de uma trilogia sobre o vazio existencial e a incomunicabilidade, que logo depois seria copiado por cineastas do mundo inteiro ( no Brasil, por Walter Hugo Khouri, e até no Japão, com a nova onda do Cinema japonês), 'A aventura" foi sucedido por "A noite" e "O eclipse", todos protagonizados pela esposa de Antonioni na época, Monica Vitti. Fotografado em um exuberante preto e branco de Aldo Scavarda, pode-se dizer que 90% da força do filme se resume a suas imagens extremamente cinematográficas e acachapantes. Impossível não ficar deslumbrado com os enquadramentos ( boa parte em planos gerais), as locações, a luz e a marcação dos atores em cena. A chave do sucesso é o trabalho com profundidade: quase sempre alguém em 1o plano, e uma outra ação ao fundo. é um deslumbre. Monica Vitti e Lea Massari, cada uma com a sua beleza exótica, contribuem também para o hipnotismo que mantém nossos olhos vidrados na tela. E vale dizer que Monica Vitti tem uma fotogenia incrível, é uma grande Diva por quem a câmera fica completamente apaixonada. A história é curiosa: Anna, uma jovem rica, namorada de Sandro (Gabriele Ferzetti), se junta a um grupo de amigos para passarem os últimos dias de verão juntos. eles viajam de iate até as ilhas vulcânicas sitiadas no Mar Tirreno, no Norte da Sicília. entre os amigos, está Claudia ( Monica Vitti). Anna cobra uma posição mais séria do relacionamento com Sandro, que sempre se esquiva. Quando resolvem retornar, Claudia dá por falta de Anna. Todos ficam procurando por ela, mas ela desapareceu. Um pescador local diz que é comum turistas caírem do penhasco e morrererm. Pode ser que ela tenha se suicidado. Após intensa busca, todos retornam. Sandro , estranhamente, começa a seduzir Claudia, que evita o assédio. Os dias passam, o assédio continua, e Claudia acaba cedendo. Começa então a grande aventura existencial de Sandro e Claudia. O filme venceu inúmeros prêmios, incluindo o Grande prêmio do Juri em Cannes. Para a época do filme, 19760, foi uma verdadeira revolução essa nova linguagem narrativa, onde o tempo assume uma realidade em panos longos e contemplativos, além de reflexivos. É uma investigaçao da alma e do pensamento dos personagens. Scorsese ficou tão impressionado que diz que o filme libertou o Cinema. É curioso comparar esse filme com "La dolce vita", de Fellini. ambos trabalham com o mesmo universo: os ricos, as celebridades, as grandes festas, a luxúria. Mas o vazio , o tédio, esse pertence a Antonioni. Fellini vai pelo caminho do deboche, da farsa. 'A aventura "é repleto de cenas antológicas, e uma forte, que traduz a tensão sexual que perpassa o filme todo, é quando Claudia está sozinha do lado de fora da Delegacia e é quase devorada pelos olhos dos homens. Outra cena semelhante é a de uma prostituta de luxo sendo tratada como verdadeira celebridade pelos homens da cidade. É um filme longo, 143 minutos, e pode ser um tédio mortal para um espectador comum. É um grande desafio sem dúvida, mas recompensador para quem busca Cinema com C maiúsculo. Nota: 8

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