segunda-feira, 18 de maio de 2015

Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência

"En duva satt på en gren och funderade på tillvaron", de Roy Andersson (2014) Os países nórdicos sempre tentaram enveredar pela comédia, apesar da hegemonia dos filmes depressivos e melancólicos, reflexos de sua cultura. Bergman, Lars Von Triers tiveram em suas filmografias, algum filme onde se tentou fazer humor. Mas é um tipo de humor seco, frio, sem sorrisos. Roy Andersson, cineasta sueco, escreveu e dirigiu aquele que parece ser a maior das tentativas de se produzir humor em um País tão frio, de temperatura e de emoção. E de certa forma, ele conseguiu. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2014, o filme resgata o tipo de humor que o grupo inglês Monthy Python celebrizou no mundo inteiro: sketches curtos, humor ácido, falando de temas como morte, preconceito, sociedade de consumo, escravidão, maus tratos aos animais, desemprego e sexo. O filme que me veio em mente o tempo todo foi 'O Sentido da vida". Esse clássico dos Monthy Python me pareceu a maior referência de Roy Andersson. O mesmo tipo de humor, porém com uma narrativa e um conceito de contar a história totalmente original e inusitado. Cada sketche é apresentado em um único plano fixo, como boca de cena de teatro. A impressão que temos é a de que estamos no teatro vendo justamente peças curtas. E mais, o teatro do absurdo é uma constante no filme. Surreal, lúdico, assustador e inquietante. Adjetivos que podem tentar explicar o filme, mas para tanto, é necessário vê-lo. É um filme único, que mescla a linguagem do Teatro ( marcações cênicas precisas, maquiagem em excesso nos atores, deixando claro que todos ali são personagens e que estão representando, o fundo chapado). Os atores atuam como se fossem bonecos vivos, porém emocionalmente mortos, inclusive a maquiagem deixando explícita essa relação entre vida X morte. Mas do que fala o filme? Não existe uma história única. 2 vendedores de bugigangas, sem sucesso nas vendas e depressivos, costuram o filme, que muda radicalmente de história e de temas de uma hora para outra. Uma das cenas mais impressionantes é um longo plano dentro de um restaurante, onde um exército gigantesco segue como pano de fundo. Devem ter ali quase mil figurantes! A fotografia, descolorida, celebra esse tom de tristeza e falta de energia dos personagens. A gente ri, a gente fica angustiado (a cena do macaco preso é extremamente cruel) e também se entedia um pouco lá pelo terceiro ato. Mas a concepção visual é um verdadeiro primor. Um filme difícil, mas quem embarcar na história, irá se deliciar. Nota: 7

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