sábado, 9 de maio de 2015

A luneta do tempo

"A luneta do tempo", de Alceu Valença (2014) Fiquei impressionado com a qualidade artística do filme de estréia do Cantor e compositor pernambucano. Bonito, lírico, lúdico. O filme tem um só pecado: querer contar histórias demais, o que causa uma certa confusão no meio do filme. Mas no geral, é um filme ousado pela mistura de gêneros a que se propõe: musical, faroeste e drama ambientado no Cangaço de Lampião e Maria Bonita, interpretados por Irandhir Santos e Hermilla Guedes. O filme narra o confronto dos cangaceiros e a polícia, liderada pelo Tenente Antonio Severo. No segundo ato, acompanhamos o destino do filho de um dos cangaceiros e a sua luta contra um delegado, filho de Antonio Severo. Nessa história cíclica de lutas, opressão e destino, o filme inteligentemente é narrado como se fosse um cordel cantado por um narrador. No caso, as músicas de Alceu Valença. Esse excesso de brasilidade confere ao filme um sabor mágico e místico, emoldurado pela bela locação do sertão. O Circo surge como um ambiente mágico onde sonhos e tragédias podem ser feitas ou desfeitas. Onde os espectadores, sentados na arquibancada, podem opinar sobre o destino de alguns personagens. Alceu Valença, além de dirigir e compôr a trilha, surge como o palhaço do Circo, o narrador dessa história que brinca com o tempo e com o realismo fantástico. Belíssima fotografia de Luis Abramo. Um filme digno de nota, mas que deve atingir um público restrito. Não é um filme comercial, e sim, um projeto 100% autoral de Alceu, que disse publicamente ser um Amante do Cinema da "Nouvelle vague" francesa e das chanchadas da Atlântida. Várias cenas antológicas, entre elas, a do ponto de vista de cabeça para baixo de um homem pendurado, e uma cena no circo, representando a morte de um cangaceiro. Belíssima estréia de um artista apaixonado por imagem e som.

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