segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O enigma de Kaspar Hauser

“Jeder für sich und Gott gegen alle”, de Werner Herzog(1974) Com o curioso e contundente titulo original em alemão “ Cada um por si, e Deus contra todos” ( que virou até nome do disco da banda Titãs, aqui no Brasil), “ O enigma de Kaspar Hauser” é uma daquelas obras-primas do cinema que precisa ser visto por um grupo e debatido na sequencia. As questões que o filme proporcionam são extremamente ricas: critica `a Igreja católica, criticas a sociedade burguesa e principalmente, uma discussão acerca da educação. Na época histórica onde o filme se passa, a ciência estava pouco evoluída e estudos de doenças mentais não haviam sido realizadas. Baseado em história real de Kaspar Hauser, um adolescente de 16 anos que surgiu abandonado em uma praça no centro de Nuremberg, Alemanha, em 1828. Sem saber falar (só proferia a palavra “Cavalo”, por conta de um cavalo de brinquedo que ele tinha em mãos”, ela também mal andava e tinha um raciocínio de deficiência mental. Descobriu-se depois que ele passou a vida toda encarcerado, sem contato com nenhum humano. A sua comida era colocada de noite, quando ele dormia. A pessoa que cuidava dele o abandonou na praça. A principio visto como um charlatão, logo a população começou a criar histórias sobre quem era aquele rapaz. Alguns diziam que atração de um circo e que ele fugiu, mas boa parte acreditava que ele fazia parte de uma linhagem de nobres, e por conta de herança, resolveram abandoná-lo. Kaspar recebe então educação de um nobre professor (que ensina até ele a tocar piano) , de clérigos da Igreja e por fim, de um lorde inglês, que procura adotá-lo. Kaspar vai aos poucos aprendendo a falar e a se portar socialmente. Mas essa evolução trará fim trágico a ele. O filme é repleto de cenas antológicas. Kaspar tem a sua lógica, e o filme discute o que é o certo e o que é o errado em uma educação. Em uma cena, ele é confrontado por um professor de matemática com um questionamento. No entanto, o professor só aceita a sua interpretação. Quando Kaspar dá uma versão possível, o professor surta. A relação de Kaspar com as crianças, com a criada da casa são amorosas, mas toda vez que vai ter alguma aula, ele sofre bastante com os educadores. Com os clérigos a mesma coisa: Werner Herzog cutuca o pensamento cristão e a brutalidade de seus ideaias de perfeição humana: um dos clérigos diz que Deus não permitiria uma criatura defeituosa., e por conta disso, abomina a existência de Hauser. E’ um dialogo chocante. Outro momento aterrador, que lembra bastante o filme de David Lynch, “ O homem elefante”, é o circo dos horrores onde Hauser é apresentado ao publico como um freak. O cineasta Werner Herzog , que escreveu o roteiro, realiza aqui um de seus filmes-chave. Vencedor de 3 prêmios em Cannes 75 ( Grande premio do Juri, Fipresci e Juri ecumênico), ele faz um relato quase documental do dia a dia cruel e aterrador de Hauser. Direção brilhante. A trilha é toda composta por peças de música clássica. Mas nada disso seria justificável sem a presença magnética do protagonista Bruno der Schwarze, também chamado de Bruno S. Herzog o conheceu quando assistiu a um documentário sobre ele; Bruno sempre apanhou de sua mãe desde pequeno, sofrendo traumas físicos e mentais. Acabou sendo internado em uma Instituição mental ate os 23 anos, até ser liberado e ir trabalhar como operário. Herzog o viu em um documentário sobre a sua pessoa, e o escalou para o filme e dizem, sofreu bastante para faze-lo dele um Ator, para que entendesse o que estava fazendo em frente `as cameras ( deve ter sido aterrador para Bruno, uma vez que o personagem e sua vida pessoal eram muito próximos). O sucesso do filme foi tanto, que Herzog o escalou para protagonizar outra obra-prima sua, “Stroszek”. “O enigma de Kaspar Hauser” foi também adaptado com muito sucesso como peça teatral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário