segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Eu não sou seu negro

"I'm not your negro", de Raoul Peck (2016) Dirigido pelo documentarista haitiano radicado nos Estados Unidos Raoul Peck, baseado no livro não acabado do escritor e pensador americano James Baldwin, que veio a falecer em 1987. Em 1979, Baldwin ofereceu ao seu agente um livro chamado "Remember this house", mas que acabou tendo apenas 30 páginas manuscritas. Ousada, a obra tinha a intenção de narrar a História do povo americano através da vida de 3 lideres dos direitos civis negros dos anos 60:Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King. Ironia do destino, James Baldwin, que era amigo dos 3, vivenciou o assassinato de todos eles, que morreram jovens com menos de 40 anos de idade. Narrado com uma assombrosa voz de Samuel L Jackson, que parece elevar as palavras e colocar o espectador num lugar chamado"sublime", o filme mistura imagens de arquivo, fotos históricas e entrevistas com James Baldwin durante programas de tv dos anos 60. Assistir ao filme e ouvir o que é dito pelo texto escrito por Baldwin equivale a punhaladas no coração. Mais de 40 anos se passaram, e a condição da população negra nos Estados Unidos continua exatamente igual. Baldwin também escreveu resenhas sobre os filmes americanos e como os grandes clássicos representavam as minorias ( negros, Indios) sempre como vilões e deixados de lado, destroçados pela supremacia branca. Fotos e imagens de época mostrando a fúria do americano branco que não aceitava a miscigenação das raças dentro das escolas, e campanhas publicitarias grotescamente preconceituosas, fazem parte do cardápio que o filme oferece. Com certeza, um dos melhores documentários que já vi, mas com um porém que eu assumo que não gostei: Baldwin desdenha ferozmente de Doris Day no filme. Eu sou fã dela, desde os filmes de Hitchcock ou das comédias românticas com Rock Hudson, e ela não merecia estar no meio desse tiroteio todo. Curioso notar em determinado momento do filme, quando se abrem os arquivos do FBI, que a agencia americana investigava os passos de Baldwin e o consideraram uma pessoa perigosa para a nacao. Porque? Além da capacidade que ele tinha de liderar o movimento negro, ele também suspeito de ser homossexual. Ou seja, preconceito duplo do governo americano.

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