quinta-feira, 29 de junho de 2023

Mares do desterro

"Mares do desterro", de Sandra Alves (2022) Prêmio de Melhor Longa Experimental no 15th Edition of Montreal Independent Film Festival 2022, "Mares do desterro" é uma produção da Elo Studios dentro do Selo ELAS, dedicado a filmes dirigidos por mulheres. O filme foi escrito por Amilcar Monteiro Claro e Sandra Alves dirigiu, fotografou e fez a câmera. O longa foi rodado na Praia da Solidão, em Florianópolis. Logo no início, "Mares do desterro" me fez lembrar bastante de "O cavalo de Turim", obra-prima do cineasta húngaro Bela Taar. A fotografia em preto e branco, a família isolada em uma casa afastada da civilização, uma época solta na cronologia. Segredos escondem a família representada pelos pais Joaquim (Luciano Bortoluzzi), a mãe Luzia (Georgette Fadel) e os 3 filhos: as gêmeas Divina (Débora Ingrid) e Serena (também Débora Ingrid) e Mariano (Ianô Hak). Narrada em elipses temporais que voltam no tempo, para entendermos o destino de Serena, que desaparaceu. A mãe reza todo dia pelo seu retorno; o pai segue com o cavalo em sua busca, às vezes sumindo por dias; o filho está trancado em uma jaula, onde só lhe é permitido comer; e Divina procura entender o que aconteceu naquela família. Desde que os pais se casaram, Joaquim fez questão de isolar a família em uma casa afastada, longe de tudo e de todos, sem socialização. O filme aborda temas bastante tabus e polêmicos, como relacionamento tóxico, machismo, incesto, violência doméstica. O roteiro de Amilcar curiosamente dá voz às mulheres, e o seu olhar sobre as vítimas da masculinidade tóxica são o olhaar de uma nova mulher que surge na figura de Divina, que entende que a sua mãe foi educada dentro dos padrões de uma cultura paternalista, onde a mulher deve se casar, cuidar do lar e gerar filhos. É um filme belamente poético, duro, cruel, com vibrantes atuações e uma cena poderosa no seu desfecho performada por Débora Ingrid, atriz cearense que ganhou o prêmio de destaque Feminino na Competição Nacional do Femina Festival de Cinema 2022. Um filme experimental na forma, mas atordoante no conteúdo.

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