sábado, 6 de junho de 2020
Os boas vidas
"I vitelloni", de Federico Fellini (1953)
A primeira grande obra-prima de Fellini, seu terceiro longa, depois de "Mulheres e luzes" e "O Abismo de um sonho", tem um dos finais mais emocionantes da história do cinema. Fellini é muito hábil em terminar os seus filmes com grande melancolia, mas sempre com uma pontinha de esperança. Foi assim em "As noites de Cabíria", "8 1/2", "A estrada da vida", "Amarcord" e tantos outros. Em "Os boas vidas", um dos personagens se despede da cidade e do trem, ele tem um ponto de vista de cada personagem em sua rotina, como se fosse uma despedida de cada um deles. É algo extraordinário e impossível de não soltar lágrimas, ao som de Nino Rota, eterno parceiro de Fellini. Em 1953, o filme recebeu o Leão de prata no Festival de Veneza, e anos depois, 1958, indicado ao Oscar de melhor roteiro.
O roteiro, co-escrito por Fellini, traz elementos autobiográficos de sua juventude. Em uma pequena cidade do interior da Itália, cinco amigos na faixa dos 30 anos, desempregados e vivendo sob o teto de suas famílias, curtem as noitadas, mulheres e bebedeiras, sem qualquer compromisso com trabalho. Moraldo (Franco Interlenghi), cuja irmã, Sandra (Leonora Ruffo), engravida do amigo Fausto (Franco Fabrizi), que não quer assumir a paternidade mas é obrigado pela família da jovem a se casar. Alberto (Alberto Sordi) é sustentado pela irmã, que se prostitui. Leopoldo sonha em er sua peça encenada por um grande ator e ser reconhecido. E Riccardo (Riccardo Fellini, irmão de Fellini) não sabe o que quer da vida.
Fellini traça com muito humor e bastante melancolia a trajetória desses malandros, que na sua maioria, tentam se aproveitar das pessoas e curtir a vida e a juventude, se recusando a crescer e a se tornarem de fato, adultos.
É difícil descrever tantas cenas poéticas e brilhantes do filme, mas destaco a do baile do carnaval, uma delícia, cheia de sub-plots e trazendo histórias para todo o grupo. Outro momento fenomenal 'quando Leopoldo vai até a praia com um ator famoso para ler seu texto, mas entende que as intenções do ator são outras. O elenco está absolutamente fantástico, interpretando os seus "meninos"com muita verdade, sem cair em caricaturas. O público sente que dá vontade de dar um mega puxão de orelha em todos eles, mas ao mesmo tempo, fazer carinho na cabeça deles todos. A grande metáfora de pegar o trem e ir até Roma ou Milão para construir uma vida nova, é uma maravilhosa simbologia do ato de finalmente aceitar que a fase adulta chegou.
Obrigatório!!
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