segunda-feira, 1 de junho de 2020

Adeus, Tio Tom

“Addio zio Tom ”, de Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi (1971) Chocado com esse documentário italiano, um dos filmes mais bizarros, obscuros e repulsivos que já assisti na vida. Lançado em 1971, faz parte do sub-gênero do cinema “exploitation” chamado “Mondo cane”: documentários que exploram o sensacionalismo, o cotidiano bizarro de povos e culturas, focados no sexo, na pornografia e na violência. O filme tem uma proposta narrativa até bastante ousada e revolucionária: 2 documentaristas italianos viajam ao tempo e vão parar na época da escravatura americana, acompanhando os negros vindos da África em navios negreiros até a sua chegada no Sul dos Estados Unidos, e toda a peregrinação de violência, venda de escravos e subserviência aos senhores da fazenda. Os documentaristas entervistas os senhores e s burguesia branca, questionando o porquê dos maus tratos e estupros. Os brancos se justificam dizendo que os negros são preguiçosos, só pensam em sexo e não são confiáveis. O filme somente dá o ponto de vista dos homens brancos: os negros são relegados à figuração. O termo “Tio Tom”, segundo a Wikipedia, é “um termo pejorativo usado para descrever um afro-americano que, aparentemente, age de uma forma subserviente às figuras de autoridade do americano branco, ou procurando a integração com este por meio de uma desnecessária acomodação.  “Tio Tom”, é o personagem de A cabana do Pai Tomás, clássico da literatura americana. O filme foi rodado no Haiti, com as filmagens autorizadas pelo sanguinário ditador  Papa Doc Duvalier, que cedeu milhares de haitianos para fazer figuração no filme. O filme recria as cenas da escravidão com atores brancos contratados. Pap Doc cedeu à equipe hotéis de luxo, carros diplomáticos e toda uma sorte de facilidades. A parte mais polêmica do filme, é ter colocado os figurantes para representarem a brutalidade dos senhores brancos, sendo que os próprios cineastas cometem a mesma brutalidade com os figurantes: comem do chão, são pendurados de cabeça para baixo, presos em gaiolas como animais todo acorrentados, se rastejam-no chão imundo, comem de uma manjedoura suja, têm ratos e baratas circulando por sobre os seus corpos. E mais cruel ainda: no bloco relacionado aos estupros e exploração sexual, os figurantes ficam totalmente nus (o filme fez sucesso comercial na época pois muitos espectadores queriam aos filmes como pornografia). Os senhores de escravo abusam sexualmente das mulheres ( coitadas das figurantes...) e os homens negros são explorados por suas donas. O filme é tão bizarro, que apresenta a pedofilia como algo normal: crianças negras t6em suas genitálias filmadas em closes, e um homem passa produto nos corpos delas, sensualizando. Uma jovem negra, interpretando uma escrava, dá um relato de que por ser virgem, o senhor da fazenda não a quis. Então ela dá um chicote para o entrevistador e pede para que ele chocoteie ela, para que ela se transforme numa mulher e que seja estuprada pelo homem branco. Ela recusa fazer sexo com um negro por causa do tamanho do pênis, ela quer um homem branco por ter pênis menor. O filme, de 140 brutais minutos, começa com um longo prólogo mostrando a passeata contra o assassinato de Martin Luther King ( são imagens impressionantes de rebelião). Um narrador diz que o discurso pacifista de King não funcionou, e dá voz aos Panteras Negras, com um discurso mais radical e que finaliza dizendo para que os negros peguem nas armas. E o bloco final é justamente essa representação: Panteras negras ( atores) assassinando a burguesia branca, com machadadas, marteladas, pancadas. São imagens extremamente violentas. O filme foi lançado com a proposta de fazer uma severa crítica ao racismo no mundo, mas foi acusado pela crítica e pela sociedade de ter o efeito contrário, de ser um filme racista, e pior: racista reverso, que é colocar a sociedade contra o homem branco, que aqui no filme são mostrados como escória. Não é um filme fácil de se assistir, e nem recomendo a ninguém., tanto pelas imagens cruéis, quanto pela mensagem a favor da violência. De positivo, a música composta para o filme, a bela “Oh my love”, de Riz Ortolani, que entrou inclusive na trilha do filme “Drive”.

3 comentários:

  1. Hsu, da sua resenha acho que concordo com a parte de que a música de Riziero Ortolani é ótima, na verdade um verdadeiro capolavoro na voz de Katyna Ranieri... que está acima da obra cinematográfica, de certa forma superdimensionada e esquecida... até sua reutilização em Drive.

    De resto sou tão avessamente contra sua opinião que me darei ao trabalho de escrever a minha. E entenderei se você apagar meu comentário por ser discordante. Normalmente ocorre assim. Hoje estamos vivendo num mundo tão chato, politicamente correto e polarizado (pela nefasta esquerda) onde a todo momento tentam criar grandes paradigmas que não existem. E não que a visão conservadora seja livre de críticas também.

    Mas o que me espanta é alguém que se intitula cinéfilo querer analisar com os olhos de hoje, cinquenta anos depois, de uma maneira completamente deturpada a essência da obra. Meu entendimento pela mesma passa longe de qualquer concepção de que o filme ao final é entendido como uma inversão do racismo! Acho que o tom irônico foi propositalmente colocado em algumas passagens até para deixar claro isso. Existe sim uma crítica a humanidade como um todo, independente de vestir uma camisa ou outra. Ao rever o filme não vi a escatologia relatada. São nítidas as técnicas utilizadas e me parece que ninguém saiu maltratado, mesmo figurantes. A não ser que a cena da baratinha tenha te afligido tanto. Pornografia tão pouco.

    Acho que há cenas em filmes aclamados de Tarantino que chocam muito mais... mas aí a boiada petista caviar aplaude. Você queria ver um navio negreiro retratado como? Excrescência mesmo foi aquele desserviço à nação aonde a OBTUSA Carla Rouanet Camurati jogou uma pá de cal sobre a possibilidade de um dos países mais ignorantes do globo entender alguma coisa sobre sua história, já que há um quase nada cinematográfico sobre ela... e quando resolvem, aparece esse verdadeiro LIXO nas telas.

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    1. não me surpreende que você seja capaz de escrever essas asneiras diante de um filme descrito dessa forma, conservadores pregam o tempo todo a moral e bons costumes simultaneamente que critica o politicamente correto, que hipocrita

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  2. Meu Deus, parlamotor falou besteira, espero inclusive que não se autodenomine conservador, porque esse filme é literalmente do diabo, é disso que se alimentam os espíritos maus, da carne, quanto mais violência da carne que alma viver, seja na vida situacional seja em filmes, melhor para o diabo, e o verdadeiro conservador considera o qie diz a bíblia, que fique claro que um verdadeiro conservador não pode se atrever a assistir algo do tipo, tudo é lícito mas isso com certeza não convém assistir voluntariamente.

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