quarta-feira, 10 de junho de 2020
A hora do amor
"Ernités", de Ingmar Bergman (1971)
Primeiro filme de Bergman falado em língua inglesa, e protagonizado por um ator não escandinavo, o americano Elliot Gould, "A hora do amor"foi considerado por boa parte da crítica e pelo próprio Bergman como o seu pior trabalho. É uma declaração cruel para um cineasta que tem em sua filmografia tantas obras-primas, e sempre aquela expectativa de que o próximo filme suplante o anterior. Vale aqui a mesma frase ditada pela filmografia de Woody Allen: "Um Bergman menor é melhor que muito filme".
Lançado em 1971, um ano antes de um de seus filmes mais famosos, 'Gritos e sussurros", "A hora do amor" é a história de uma mulher, Karin (Bibi Andersson, extraordinária) , casada com o médico Andreas (Max Von Sydow) e pais de dois adolescentes. Karin é dona de casa e cuida dos afazeres do lar. A rotina já faz parte da vida de Karin, que não tem grandes ambições na vida. Quando sua mãe morre, Karin fica emocionalmente destruída, e é confortada por um americano, David (Gould), que se encontra por ali. Coincidentemente, David conhece Andreas, que o indicou para um trabalho de restauração de estátuas de uma igreja. David confidencia para Karin que está apaixonado por ela, e sacudida, Karin se entrega. David no entanto revela ter um comportamento bipolar, para surpresa de Karin.
Acho injusto falarem mal desse filme dizendo que é um filme ruim. Só pelo trabalho magnífico de Bibi e de Von Sydown, em cenas de grande performance, já valeria a pena. Elliot Gould empresta beleza ao personagem, mas é de fato muito difícil entrar no universo tão complexo de Bergman de paraquedas. A cena de Karin no quarto do hospital, vendo sua mãe morta, e olhando ao redor, pela janela, vendo que a vida continua igual para todos, é um momento de grande cinema. Outro momento espetacular é a primeira transa de Karin e David, onde ela tem um monólogo doloroso sobre a sua insegurança com o seu corpo. A fotografia de Sven Nykvst é um assombro, alternando a luminosidade solar da casa de Karin com a sobriedade e depressão do apartamento de David.
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