terça-feira, 24 de março de 2015

A garota que anda à noite

"A girl walks alone at home at night", de Ana Lily Amirpour (2014) A primeira questão que levanto: porquê todo filme de vampiro envolve uma história de amor? Desde clássicos como "Nosferatu", até blockbusters como "Crepúsculo", passando por "Drácula", e cults como "Deixa ela entrar". Aliás, é desse último que vem a maior referência desse sensacional filme de estréia da cineasta iraniana/americana Ana Lily Amirpour. Exibido com muito sucesso em Sundance 2014, é definitivamente um dos grandes cults dos últimos tempos. Imaginem um filme de Jim Jarmush dos anos 80 ( "Estranhos no paraíso"), mesclado a "Deixa ela entrar" em versão preto e branco. Acrescente uma dose grande de faroeste de Sergio Leone com trilha de Ennio Morricone, E para finalizar, uma dose de Gus Van Sant em "Paranoid Park". Ah, o Ator Elijah Wood foi um dos produtores. Essa mistura estranha, bizarra e gótica se baseia em um graphic novel da cineasta, que também escreveu o roteiro. E pasmem, também se baseia no curta de mesmo nome que ela dirigiu em 2011 e que venceu o prêmio de melhor curta em um Festival de Teerã. Exótico do início ao fim, o filme narra a trajetória de uma garota sinistra, que se veste com túnica preta, e vaga pelas ruas de noite na Cidade do Mal ( sim, esse é o nome da cidade). Uma pequena cidade como em um filme de faroeste, mas no lugar das fazendas e saloons, encontramos grandes fábricas decadentes. Como um cavaleiro solitário e sem nome, tradição dos grandes westerns, ela vem com a missão de acabar com as pessoas más do lugar ( Sim, ela é uma vampira!). Isso inclui traficantes, viciados e mendigos. Mas essa garota acaba se apaixonando por um garoto estilo James Dean, e aí, o coração de gelo se transforma. A fotografia, direção de arte e a super hiper trilha sonora, repleta de sons anos 80 e músicas iranianas, são um show à parte. Inclusive, no decor do apartamento da jovem, tem um lp do primeiro disco de Madonna. Hype no último grau! Inclusive ela se veste com uma blusa que é cópia da blusa vestida por Madonna no clip de "Borderline". Vampira dos novos tempos, ela anda de skate. O filme é repleto de cenas antológicas ( a cena que ela mata sua primeira vítima é muito boa). A direção de Ana Lily é criativa, com lindos enquadramentos, maioria planos fixos , como Jarmusch adorava fazer em seus filmes. Excelente trabalho das atrizes Sheila Vand ( A garota) e Mozhan Marnò, como a prostituta. O filme foi chamado em Sundance de "Faroeste Spaghetti de vampiros iraniano". E o mais curioso é que, ambientado no Irã, com atores falando em iraniano, o filme foi filmado na Cafilifórnia. Uma diretora que com certeza merece atenção. Nota: 8

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