domingo, 22 de março de 2015

Pasolini

Pasolini", de Abel Ferrara (2014) O cineasta americano Abel Ferrara, que foi cult nos anos 80 e 90 com filme como "O massacre da serra elétrica" e "Vício frenético", ultimamente tem realizado cinebiografias sobre figuras públicas polêmicas. Em "Bem vindo a Nova York", ele retratou Dominique Strauss-Kahn, Diretor do FMI acusado de assédio sexual contra uma camareira. Agora em "Pasolini", que competiu em Veneza 2014, ele retrata o último dia do Cineasta mais controverso da Historia da Itália. Poeta, homossexual, Ateu, comunista e amante da marginalidade. não bastasse tudo isso, ele escreveu livros, roteiros e ajudou a lançar a carreira de Bertolucci. Pasolini recebeu em vida mais de 30 processos, boa parte por conta de seus escritos e filmes que mexeram com a moral da sociedade italiana. Infelizmente, Ferrara, assim como em "Bem-vindo a Nova York", errou na mão. Ambos os filmes são frios e possuem uma narrativa confusa e mal costurada. Em "Pasolini", existe um fato ainda mais gritante que me saltou aos olhos: Pasolini havia deixado um roteiro para cinema incompleto, “Porno-Teo-Kolossal”, e um romance político, "Petroleo". Abel Ferrara, sem nenhum pudor, filma cenas dessas obras como se tivessem sido filmadas por Pasolini. Meslados à narrativa que conta o último dia de Pasolini em vida, ouvimos em Off a narração do livro e do roteiro, e vemos em imagens as cenas descritas. É uma grande heresia, uma vez que nem de longe, podemos enxergar qualquer traço do verdadeiro Pasolini nessas cenas. Mal filmadas, mal interpretadas, decupadas de forma que jamais o cineasta italiano faria. Outro item que me incomodou bastante: porquê chamar Willen Dafoe para interpretar um mito da cultura italiana? Não pesquisei para saber se os próprios italianos se sentiram ultrajados por um ator americano interpretar Pasolini. Mas me parece totalmente fora do tom. A questão da semelhança física não me [parece um fator forte que me convença da escolha. Pode ser que o fato de ambos terem trabalhado juntos ("Corpo em evidência", "4;44") tenha influenciado. Ma sver Dafoe ( que é um excelente Ator, não tenho dúvidas) ser dublado o filme todo em italiano, e ver que seus lábios não sincam com o que ele fala, me incomodou muito. Tudo bem, os filmes clássicos de Fellini, de Sica e tantos outros mestres eram dublados e as bocas não sincavam. Mas aqui é só a boca de Dafoe, os outros atores estão todos em sinc. Nem o talento de Maria de Medeiros e outros atores italianos conseguem conferir um interesse maior ao filme. O que poderia ter sido uma grande homenagem, se resume a uma grande confusão narrativa: misturando realidade com as cenas "filmadas"de suas obras incompletas, me deu a sensação de encheção de linguiça. Eu preferia ter visto um filme sim, sobre o último dia de Pasolini, mas que ficasse focado o tempo todo nele, e não que ele fosse um personagem secundário de sua própria história! As cenas de sexo ( uma cena de orgia pavorosa) e a cena final, do assassinato de Pasolini, achei muito anti-climax pela falta de criatividade. Abel Ferrara deveria ter visto o filme independente americano "Fruitvalley station", que narra de forma contundente o último dia de um homem que vai morrer. É uma aula de narrativa e de construção de personagem. Pasolini ainda está merecendo uma homenagem que chegue ao seu talento inenarrável. Para quem quiser se aprofundar mais sobre a morte de Pasolini, melhor assistir ao documentário de 95, "Pasolini, um delito italiano", de Marco Tullio Giordana. Nota: 5

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