domingo, 22 de março de 2015
Branco sai preto fica
"Branco sai preto fica", de Adirley Queirós (2015)
Após a sessão do filme, meus três amigos que me acompanhavam me questionaram: "Porquê esse filme ganhou tantos prêmios em Brasília?" ( O filme saiu com troféus de melhor filme, ator e direção de arte)
É uma pergunta sempre muito difícil de ser respondida, para qualquer premiação em qualquer época da história. O que se passa na cabeça do Juri, reflete muito o mundo que estamos vivendo.
Em "Branco sai preto fica", o cineasta Adirley Queirós flerta com o Cinema marginal dos anos 60 e 70, através dos filmes de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci ( respectivamente, "O bandido da luz vermelha"e "Bang bang").
Vale tudo nessa desconstrução narrativa: subversão de gêneros, cultura pop, quadrinhos, animação, musical, chanchada, paródia, documental, ficção, tudo mesclado.
Nessa mistura ousada e polêmica, Queirós confunde o espectador: o que é ficção, o que é documental?
Pegando como ponto central um evento trágico que aconteceu em 1986, na cidade satétite de Ceilândia, o cineasta quer falar sobre preconceito racial e segregação de classes sociais em Brasília ( ampliando de certa forma para o Brasil).
Durante um baile funk , chamado "Quarentão", policiais militares sairam invadindo e distribuindo porrada nos negros dançarinos que ali estavam. Aos gritos, um policial disse: "Branco sai preto fica". Entre os sobreviventes, acompanhaos as historias de 2 dos dançarinos: Marquim e Sartana. Marquim ficou cadeirante, Sartana usa perna mecânica, consequência da truculência policial. Sonhos destruídos, os 2, na parte ficicional, planejam um atentado contra Brasília: querem lançar uma bomba "cultural", que contém músicas e outros itens que eles consideram importante e que serão usados como arma contra a ignorância e brutalidade.
O filme se passa em 3 tempos: passado ( através de fotos e matérias de época, além da narração e depoimentos), presente ( a vida atual dos 2 sobreviventes, que moram em Ceilândia e sofrem com a questão da pobreza e do fato de serem deficientes físicos.) e futuro ( um anjo vingador vem do futuro para colher fatos que comprovem a barbaridade perpretada por policiais.
É justamente na parte futurista que o filme arranca mais gargalhadas e ganha a atenção do espectador: intencionalmente tosco, mostra uma conversa via telão como se fosse uma transmissão do 'Star Trek". Mostra uma viagem espacial usando trilhos do metrô e um quiosque metálico onde o personagem viaja no espaço temporal.
Goste-se ou não do filme, uma coisa eu realmente não posso negar: a coragem e ousadia do Cineasta em querer fazer o SEU filme, sem concessões. Ter certeza do que está fazendo, apenas pelo ato de amar aquilo que está realizando, se baseando na história triste de seus personagens, às voltas com uma trilha sonora saudosista de um baile Funk que não existe mais.
Destaque para a fotografia e a direção de arte.
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