quinta-feira, 5 de março de 2015
Shirin
"Shirin", de Abbas Kiarostami (2008)
Eu sou um grande apreciador do Cinema iraniano, em especial de Kiarostami, um intenso cineasta em busca de novas formas de se contar uma história. Foi assim em "O gosto da cereja", "O vento nos levará", "Close up" , "Cópia fiel" e tantos outros. Sempre reinventando a forma de lidar com a técnica ou com a narrativa, Kiarostami se provoca e instiga o espectador que compartilha ou não de seus filmes experimentais. "Shirin" é um filme de 2008 e confesso, nunca havia ouvido falar. Fazendo uma pesquisa, li que ninguém quis lançar no Brasil por considerá-lo extremamente anti-comercial, só tendo sido exibido na época na Mostra de Cinema de são Paulo. De fato é um filme que desafia os espectadores. Kiarostami radicalizou na busca de uma nova forma de contar uma história: durante os 92 minutos de duração do filme, acompanhamos closes ups de espectadores assistindo a um filme na tela, com um detalhe: nunca vemos o que elas estão assistindo. Apenas escutamos os diálogos dos personagens , a edição de som e trilha sonora. As espectadoras , mudas, reagem de acordo com o que acontece na tela: riem, choram, se emocionam, ficam tensas.
Na platéia, temos 144 atrizes iranianas. Com elas, alguns poucos homens de fundo fazendo figuração, e a presença de Juliette Binoche, que se incorpora às atrizes iranianas, um experimento talvez comparável a "Jogo de cena", de Eduardo Coutinho.
Elas estão assistindo a uma representação de "Shirin", um poema trágico do Séc XII. Shirin narra o romance entre Khosrow e Shirin. Ele Rei Pérsio, ela Rainha Armênia. Apaixonados, eles aravessam décadas para poder consumar o seu amor. Quando isso acontece, Shiroyeh, filho de Khosrow e apaixonado por Shirin, o mata e obriga Shirin a se casar com ele. Ela acaba se matando com um punhal.
O filme traz duas homenagens implícitas: uma homenagem óbvia às atrizes, e uma homenagem às mulheres iranianas. Em uma sociedade onde as mulheres precisam cobrir seus rostos ao andar em lugares públicos, é na sala de cinema onde elas podem se revelar em sua plenitude. Os close ups são reveladores. Lindas e de idades variadas, elas ali se expões por inteiras, como se dissessem ao espectador do filme que as está assistindo: "Estamos vivas! Nós existimos!".
Juliete Binoche surge quase como uma figura anônima, mesclada a tantas atrizes iranianas. Esse foi um início de contribuição artística dela com Kiarostami, que veio se firmar com 'Cópia fiel", de onde ala saiu com um prêmio de melhor atriz em Cannes em 2010.
Lendo no Wikipedia, achei curioso o processo que Kiarostami fez com as atrizes: ele montou uma pequena platéia com cadeiras. Convocou cada atriz separadamente, e a filmou. ele disse a cada atriz que reagissem de acordo com o que ele ia falando. elas não sabiam do que se tratava a história. Ele dava as intenções e elas reagiam. Pedia para olharem em pontos específicos da câmera. No final, editou tudo e acrescentou a história de Shirin, brilhante,ente narrado por atores iranianos. O trabalho de edição de som é impressionante. Eu, como espectador, fiquei visualizando a cena, mesmo sem ver nada! é um exercício também para o espectador criar as suas imagens.
É um filme cansativo de se ver. É tedioso. Ms ao mesmo tempo, encanta pela proposta radical. É um filem único. E é isso que desejamos do Autor. Que seja ousado.
Nota: 7
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