domingo, 15 de março de 2015
A gangue
"Plemya", de Miroslav Slaboshpitsky (2014)
Absolutamente chocado após assistir a esse filme ucraniano, vencedor do Prêmio da Semana da Crítica em Cannes 2014. Longa de estréia, escrito e dirigido por Miroslav Slaboshpitsky, que desde criança, sempre teve fetiche pela linguagem dos surdos mudos, por achar extremamente visual. Resolveu então, fazer um filme único na história do cinema: todo falado na linguagem dos surdos-mudos, sem legendas, sem falas, apenas som ambiente. Pensem como é difícil a vida de um Cinéfilo, quando assiste a um filme que o arrebata, mas que acredita ser muito difícil recomendá-lo para qualquer outro
espectador? Um filme com 130 minutos, sem diálogos, somente linguagem surdo-mudo, de narrativa fria, depressiva, filmado em locações decadentes e que mostra uma geração de adolescentes sem futuro? Quem vai querer ver esse filme?
A isso tudo, junte as cenas mais violentas e impactantes de "Irreversível" ( a porrada com extintor) "4 meses, 3 semanas e 2 dias" ( a cena do aborto) e "Elefante"( os planos longos filmados em steadicam e que imprimem tensão).
Utilizando não-atores e sendo a grande maioria surdo-mudos de verdade, o cineasta Miroslav Slaboshpitsky realiza aqui um épico sobre bullying e violência. Alías, sexo e violência explícita. Muitas cenas de porrada, tapa na cara, as cenas de sexo mais frias e sofridas que você já viu recentemente. O Cinema ucraniano, por incrível que pareça, se aproxima do que mais relevante se faz no mundo hoje em dia. Naturalismo, histórias impactantes sobre pessoas comuns, decadência moral da Europa que não sabe o que fazer com sua população de desempregados e marginais.
O filme narra a história de um adolescente surdo-mudo que vai morar em um Instituto para pessoas especiais. Chegando lá, ele se depara com uma gangue de surdos-mudos delinquentes, que o obrigam a ser "batizado" para entrar na escola. Ele precisa roubar, apanhar e ser cafetão de 2 alunas, obrigando-as a se prostituir com caminhoneiros toda noite. Com tanta violência, o jovem acaba surtando e tendo o seu momento de fúria, principalmente após se apaixonar por uma das garotas prostitutas.
Algumas cenas são tão brutais que fico imaginando como foram feitas. Acredito que com conjunção de efeitos especiais. A cena do aborto também é absurdamente apavorante. O talento desses jovens é algo extraordinário.
Nada disso teria efeito sem o trabalho gigantesco da câmera do fotógrafo Valentyn Vasyanovych. O filme é todo em planos-sequências, alguns mirabolantes, que fariam Emannuel Lubezki virar fã.
Não é um filme recomendado para pessoas sensíveis. É de fato muito contundente e como cinema, brilhante. Para espectadores comuns, o filme pode provocar repulsa, tédio pelos planos longos e a sensação de bizarrice por assistir surdos-mudos se comunicando o filme todo. Para quem ama um filme enérgico e inovador, eis a pedida.
Nota: 10
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