sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
O brutalista
"The brutalist", de Brady Corbet (2024)
Prêmio de melhor direção no Festival de Veneza 2024, "O brutalista" é co-escrito e dirigido por Brady Corbert, com uma fotografia espetacular de
Lol Crawley, rodado com câmeras VistaVision e lançada em 70 mm. O filme ficou conhecido no mundo inteiro e virou meme por conta de sua longa duração: 3hrs 34 minutos, e sendo exibido nos cinemas com 15 minutos de intervalo após a primeira 1hr 40.
O filme é dividido em capitulos temporais e um epílogo. Após a 2a guerra mundial, o austríaco-húngaro Lazlo Toth (Adrian Brody) desembarca de navio em Nova York, e é recebido pelo seu primo Atilla, dono de uma loja de móveis próprios na Filadélfia. Ele dorme em um depósito apertado e vai comer em um abrigo, onde conhece George e o filho dele, que virão a ser seus amigos. Um dia, Harry Lee Van Buren (Joe Alwyn), filho do milionário Harrison (Guy Pearce) contrata a loja para remodelar a biblioteca na mansão do pai e ser uma serpresa. Lazlo, que foi um arquiteto de renome na Hungria mas caiu em desgraça, projeta a biblioteca. Harrison chega e fica irritado com a obra, e expulsa Atilla e Lazlo. Attila pede para Lazlo sair de sua casa, e acaba indo morar em um abrigo e trabalhando como carvoeiro. Harrison surge no trabalho de LAzlo, pedindo desculps e contratanto ele para projetar uma obra faraônica: um monumento em homenagem à sua falecida mãe, com complexos de ginástica, auditório e biblioteca. Lazlo , com ajuda do advogado de Harrison, consegue trazer sua esposa, a jornalista húngara Erzsébet (Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy).
Rodado em Budapeste, Hungria, e em Carrara, Itália, na cena mais bela do filme, nas montanhas de extração de mármore, o filme é um épico intimista sobre um homem brutalizado pela vida, em duplo sentido com o título do filme. O filme introduz no 2o ato uma cena bastante polêmica que foi objeto de crítica de muitos críticos e público, e que muda totalmente o perfil de um importante personagem. O personagem de Adrien Brody é difícil de se apaixonar, por ser um homem egoísta, arrogante, misógeno e ambicioso. É um ótimo trabalho de Brody, de fazer o espectador acompanhar o seu personagem, mesmo com tantos atos repudiantes, incluindo uma em que injeta heroína em uma personagem. É cansativo? Sim. Mas a direção de Cobert é tão precisa, fazendo uso de um orçamento mega apetado, e ainda assim, trazendo um enorme valor de produção ao filme. Guy Pearce está ótimo, assim como Felicity Jones e a sua cena de confronto no jantar, que certamente lhe deu a indicação ao Oscar.
Lennons
"Lennons", de José María Cicala (2023)
Fui seduzido pelo filme por conta de sua sinopse: Em 1980, um vigarista, Canelón (Gaston Pauls) conhece Norberto (Javier Parisi), dono d euma lavanderia, casado com a boliviana Azami (Griselda Sanches). Carnlón convence Norberto a se passar por John Lennon, devido a sua extrema semelhança, e apresentá-lo ao produtor musical JAcobo Cohen (Luis Machin), para organizar um concerto com o falso Lennon, se passando pelo verdadeiro. Mas existem 2 pormenores: Vanucchi (Luciano Carceres), um apresentador de tv, quer desmascarar o falso Lennon; e o verdadeiro Lennon é assassinado no dia do concerto.
Com uma sinopse tão incrível como essa, não tinha como o filme dar errado. Mas deu. O co-roteirista e diretor José Maria Cicala trouxe elementos muito estranhos e bizarros para o filme. Como um Tim Burton, o filme tem horas que lembra "Big fish": em flashbacks, quando Canelon e Norberto eram crianças e frequentavam um orfanato, tudo tem um tom de realismo fantástico. Para tornar tudo mais bizarro ainda, diversos personagens masculinos e femininos são interpretados pelo gênero oposto, sem qualquer explicação ou coerência com a história. É bem confuso. uma pena que o cineasta nãio tenha permanecido focado apenas na história principal, do falso Lennon, que sempre que aparece, chama a atenção não somente pela sua aparência, que é idêntica, como nos números musicais, com músicas compostas relembrando clássicos dos The Beatles.
Pedra da noite
"Piedra noche", de Iván Fund (2021)
Um filme sombrio e triste sobre o luto, "Pedra da noite" se apropria da fantasia como uma forma de exorcizar os traumas do passado e manter a imagem do ente falecido ainda vivo na consciência. Concorrendo nos Festivais de Veneza e de San Sebastian, "Pedra da noite" é um filme argentino escrito e dirigido por Iván Fund.
Em Linda Bay, cidade costeira da Argentina, um casaal de meia idade, Greta e Bruno, passam as férias com seu filho de 10 anos, Daniel. Daniel é apaixonado por um game de bolso onde ele cria Kaiju, os enormes monstros japoneses, tipo Godzilla. Na cidade, correm boato de que um monstro circunda a região, e essa lenda urbana é o que alimenta o turismo do local. Uma noite, Daniel passeia pela orla e nunca mais retorna. Destruídos emocionalmente pela ausência do filho, que não foi encontrado, o casal recebe a visita da melhor amiga de Greta, SIna, que os ajudará a fazer as malas. Mas o pai Bruno insiste que o filho ainda está vivo, morando na região, ou quem sabe, dentro do game, e que um dia ele irá aparecer como um Kaiju.
O filme é quase todo silencioso, com poucos diálogos, trazendo uma atmosfera de tristeza recorrente, seja pela fotografia em tons azuis, ou pelas imagens da orla que evocam uma imensidão que ecoa na alma, ou pelo olhar triste dos pais, interpretados com garra pelos atores. Nem sempre funciona, mas no geral, "Pedra da noite" é uma metáfora sobre a ausência.
O cão que não se cala
"El perro que no calla", de Ana Katz (2021)Realizadora do ótimo "Sueno Florianópolis", a cineasta argentina Ana Katz e uma grande observadora do comportamento humano, trazendo drama com pitadas de humor, revelando o patético da vida.Com "O cão que não se cala", ela ganhou prêmios e concorreu nos Importantes Sundance e Rotterdan. Sebastian (Daniel Katz, irmão da cineasta) é um homem comum. Já na casa dos 30 anos, ele dedica seu tempo ao seu cão fiel e trabalha em uma série de empregos temporários. Enquanto caminha de forma intermitente pela idade adulta, navega pelo amor, pela perda e pela paternidade. Até que o mundo é abalado por uma catástrofe inesperada, virando de cabeça para baixo sua já turbulenta vida. Sebastian luta para se adequar a um mundo em constante mudança — e que pode finalmente estar chegando ao fim.Com fino humor e uma narrativa que mais parece uma crônica, com cenas isoladas em grandes elipses temporais, o filme é o registro de uma vida comum, mas sujeita a pequenas interferências relacionadas a amor, desemprego, carinho, sempre com um olhar distanciado mas carinhoso da câmera, apaixonada pelo protagonista, defendido com muita garra por Daniel Katz.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
The dead thing
"The dead thing", de Elric Kane (2024)
Terror sobrenatural co-escrito e dirigido por Elric Kane, "The dead thing" é uma produção indie americana. O filme utiliza metáforas para falar sobre relacionamentos em época de aplicativos tipo Tinder, e de como esse tipo de encontro casual pode acarretar sérias consequências, na maioria das vezes, mortal. Alex (Blu Hunt) é uma jovem que trabalha em um escritório de forma absolutamente burocrática. Sufocada pela presença tóxica de colegas d etrabalho, da sua solidão e da ausência de familiares e amigos, Alex desabafa a sua existência nos pps de relacionamento, fazendo sexo com homens que ela não revê. Mas quando ela dá match com Kyle (Ben Smith-Petersen), a sua vida muda totalmente. Ela se sente confortável com ele, ele é carinhosoe. apaixonado. Ela só não sabe que Kyle está morto e quer eliminar qualquer um que estiver em seu caminho.
A primeira parte do filme está mais para um filme romântico, e o terror mesmo, ainda que brando, somente acontece a partir do meio do filme. As mortes são bem low profile, e fiquei com muita pena da morte de uma personagem. O diretor e co-roteirista Elric Kane quiz deixar claro a uestão do uso do app e o quanto ele pode ser perigoso, pois não há referências da pessoa com quem ela sai. Um filme passatempo, que cumpre o que promete.
Ne Zha
"Nezha: Mo tong jiang shi", de Yu Yang (2019)
Todo mundo já sabe que "Ne Zha 2" tornou-se em 2025 a aanimação que mais arrecadou na história do cinema, desbancando "Divertida mente 2", que havia arrecadado quase 1 bilhão e 700 milhões de dólares. "Ne Zha 2" já estava beirando os 2 bilhões de dólares, somente na China.
Como eu nunca havia sequer falado do original, resolvi assistir. O roteiro é bem confuso, pois lida com a mitologia chinesa. No prólogo, o Rei do céu divide uma "pérola do caos" em duas, para impedir que o caos domine o Universo. Uma pérola é a demoníaca, e a outra, do céu. A demoníaca é amaldiçoada: em 3 anos, ela será destruída. O Rei chama um de seus anjos, Taiyi, para inserir a pérola do céu no ventre da esposa do comandante militar Li Jing, Lady Ying, que está grávida. O outro anjo, Gongbao, enciumado, rouba a pérola do céu e a cria como se fosse seu filho, e instala no ventre da esposa do comandante a pérola demoníaca. Taiyi se torna o tutor do pequeno Ne Zha, mas assim que ele nasce , descobrem que ele é a reencarnação do demônio.
O grande sucesso do filme certamente se deve ao carisma dos personagens, principalmente de Ne Zha, que pelos traços, lembra o personagem principal da banda Gorillaz. Ele tem duas personalidades, e isso o torna sempre interessante, pois o espectador nunca sabe como ele estará na cena seguine. O anjo Taiyi também merece destaque: dono das melhores piadas, ele faz um contraonto muito bom com o vilão do filme, Gongbao. Os traços da animação são de última geração, realizado em 3D.
Hello, love again
'Hello, love again", de Cathy Garcia-Sampana (2024)
Continuação do mega sucesso de 2019, "Hello, love, goddbye", um drama romântico que se tornou a maior bilheteria de um filme filipino e tornou seus dois atores, astros. Em "Hello, love again", o filme parte de onde terminou: o filme anterior se passava em Hong Kong, e Joy (Kathryn Bernardo), após ter um lindo romance com Ethan (Alden Richards), decide pensar em seu futuro profissional e viaja para o Canadá, para tentar a sorte. Só que ao chegar no Canadá, as coisas não acontecem como ela imaginava. Trabalhando de babá na casa de uma família filipina, ela é maltratada pela patroa e acaba sendo demitida. Ela acaba conhecendo outros filipinos e vai trabalhar de cuidadora de idosos. Joy continua mantendo contato por vídeo com Ethan, até que ele decide juntar um dinheiro e se unir à sua amada no Canadá. Eles fazem juras de amor e ela promete se casar com ele. Mas quando surge a pandemia da Covid, e as dificuldades financeiras surgem, os dois entram em conflito. Ele vai embora, e ela acaba namorando um rapaz Jhim (Joross Gamboa), para tristeza de Ethan.
O tempo todo fiquei pensando no filme "Vidas passadas", que traz uma trama muito semelhante. Joy se acultura ao Caqadá, mudando de nome para Marie. e fica dividida entre dois amores. É um romance para quem ama o gênero, pois irá torcer bastante pelo casal principal. O que incomoda, é a edicão, que mistura épocas, confundindo passado e presente, uma decisao arriscada de roteiro e que não havia a mínima necessidade.
Não morrerei sozinha
"No morire sola", de Adrian Garcia Bogliano (2008)
Um filme brutal, difícil de assistir pela covardia e cenas de puro sadismo, "Não morrerei sozinha" é um thriller de terror argentino que vem do sub-gênero "revenge": mulheres agredidas, estupradas e brutalizadas que decidem se vingar de seus algozes. Para quem reclamou de "Irreversível", de Gaspar Noe, pela cena de estupro de 9 minutos, não faz idéia do sadismo desse filme: meia hora de estupro e pancadaria nas 4 personagens femininas do filme, seviciadas por um trio de homens da pior espécie.
As 4 amigas Carol, Yasmin, Moira e Leonor viajam de carro na zona rural de La Plata, para visitar a mãe de uma delas. Mas no caminho, elas testemunham um crime: uma jovem baleada. Elas a colocam no carro e seguem até a delegacia. Elas não poderiam imaginar que o chefe da polícia local fosse um dos integrantes da gangue. Elas vão embora, mas os homens as seguem.
A história é bem simples, e o que interessa aqui é o torure porn. Quem não gosta do sub-gênero nem deve assistir, pois o diretor não amacia em momento algum. A cena de estupro coletivo é de verdade, brutal. As atrizes nem são boas, mas talvez esse amadorimos confira ao filme um tom mais de veracidade, o que dá uma sensação bem estranha. É como se alguém ligasse a câmera qe filmasse escondido. Existem planos bem longos ( uma cena no banheiro, o enterro de um personagem em uma cova). O filme provoca incômodo grande, e mesmo que suas qualidade técnicas sejam questionáveis (fotografia, atuação, som, edição, direção), ele se mantém bizarramente cruel e maldito.
Spring garden
"Neulbomgadeun", de Ku Born (2024)
Terror sobrenatural sul coreano, "Spring garden" tem um roteiro confuso, com muitas sub-tramas, mas em seu final, acabei gostando. É um filme trágico, que traz protagonismo feminino, mulheres que vivem um mundo de homens tóxicos, abusadores. Misturando espíritos vingativos, trama policial e drama, "Sping garden" traz bons efeitos especiais e um elenco competente.
So-hee (Jo Yoon-hee) e seu marido Chang-Soo (Heo Dong-won) vivem felizes. Um dia, ao acordar, So-Hee encontra seu marido enforcado. Ela está grávida, mas no funeral, as duas famílias brigam e ela acaba perdendo o bebê com o stress. Um advogado a procura e diz que seu marido deixou uma casa isolada para ela, uma residência que ele queria lhe fazer surpresa. Ele estava reformando o ambiente. Soo-Hee decide morar lá, e sua irmã Hye-Ran a ajuda. Mas Soo-Hee tem alucinações de que seu marido ainda habita o local. Paralelamente, Soo-Hee descobre que um grupo de 4 jovens etsiveram na casa e viram um espírito, e ela decide ir atrás deles.
Existe uma trama paralela sobre uma jovem estudante desaparecida e que irá se conectar à trama principal. 'Spring garden" é um filme instigante, que deixa o espectador interessado até seu final para entender como o filme irá terminar e como as histórias de conectam. Acabei gostando mais do que eu esperava.
Uma história de amor em Copenhague
'Sult", de Ditte Hansen e Louise Mieritz (2025)
Adaptação de um romance escrito por Tina Hoeg, "Uma história de amor em Copenhague" é um drama sobre uma mulher vivendo um turbilhão de emoções por não conseguir engravidar de seu parceiro. Um filme que começa como um belo romance, emoldurado por belíssimas locações em Copenhague, e que vai se tornando cada vez mais angustiante em função da crise emocional pelo qual vive a personagem.
Mia (Rosalinde Mynster) é uma escritora chegando aos 40 anos e que vive a vida buscando um companheiro ideal, só que ela tem desejos por homens mais jovens e que acabam não querendo compromissos. Quando a sua melhor amiga Gro lhe apresenta o novo vizinho, Emil (Joachim Fjelstrup), Mia não fica interessada por ele ser da sua idade. Diante da insistência de Gro, ela topa sair com ele, e aos poucos , vai se entregando a Emil, que é um pai dovorciado e com 2 filhos pequenos. Mia fica encantada com o pai carinhoso que ele é e revela o desejo de querer ser mãe. Emil fica entusiasmado. Eles tentam engravidar, mas Emil está com baixa taxa de espermatozóides e não conseguem. Eles tentam diversas vezes, e Mia fica irritada porque os médicos insistem em querer com que ela seja a cobaia dos experimentos, e não Emil.
O filme faz o espectador se colocar no lugar de Mia: Afinal, porque ela decsonta toda a sua raiva em Emil, que aparentemente parece ser o homem mais incrível do mundo? É uma narrativa feminina, e sobre como uma mulher se enxerga em seu lugar no mundo: querendo ser mãe, querendo se posicionar num relacionamento onde ela procura entender proque somente ela é considerada a responsável em não engravidar. Um filme contundente sobre maternidade, sobre amar, sobre aceitar. Excelente performance dos dois atores, que possuem linda química em cena.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Eldorado- Lituanos no Brasil
"Eldorado- Lituanos no Brasil", de Fabiano Canosa e Julio Zis (2001)
Produzido pelo Grupo novo de cinema do produtor Tarcísio Vidigal, "Eldorado - Lituanos no Brasil" teve a sua concepção criativa elaborada pelo curador e produtor Fabiano Canosa, que acabou dirigindo o documentário junto do lituano Julio Zis. Julio vem ao Brasil para refazer o mesmo caminho que seus antepassados lituanos fizeram em meados de 1920, seduzidos pela oportunidade de trabalho e de ganhos de terra pelo governo brasileiro. Mas era tudo um aliciamento criminoso feito por um grupo chamado Alpha, composto por 3 lituanos que enganavam os conterrâneos prometendo terras e na verdade, era trabalho escravo em fazendas de São Paulo. O governo incentivava a vinda dos lituanos como uma forma de embranquecer o país, que havia abolido a escravatura há pouco tempo. Sem os escravos para trabalhar nas fazendas, os lituanos eram iscas fáceis: sme falar portugu6es, desesperados por trabalho e um lugar para permanecerem com sua sfamílias, eles vinham de navio e já durante a viagem já passavam necessidade: dividindo banheiros com centenas de pessoas, com fome e dormindo em colchões no chão repletos de vômito e mijo. O brasil era visto como um Eldorado, mas essa visão jamais se concretizou. O filme traz muitas imagens de arquivo e depoimentos de sobreviventes, hoje já idosos. O último ato, com Julio comandando a visita por São Paulo e Rio de Janeiro, acaba na mangueira, com o lituano sambando e namorando uma mulher negra, além de trazer depoimentos de ativistas negros como o ator Antonio Pitanga e um professor.
A festa silenciosa
"La fiesta silenciosa", de Diego Frito e Federico Finkielstain (2019)
Eu adoro filme de revenge feminina, tipo 'Vingança", de Coralie Fergeat, ou o clássico "I spit in your grave". O argentino "A festa silenciosa" faz parte desse universo do sub-gênero do terror, ond eo público torce para que os algozes sofram a pior das turturas. O filme não é gore que nem aos filme scitados, mas ainda assim traz violência e bons atores, em uma trama onde todos os personagens masculinos são tóxicos e violentos, e cabe à única personagem feminina do filme, Laura (Jazmin Stuart), defender a sua humanidade e honra.
O casal Laura (Jazmín Stuart) e Daniel (Esteban Bigliardi) seguem até a casa de campo do pai de Laura, Leon )Gerardo Romano) para a cerimônia de casamento deles. Daniel pratica gaslighting, desqualificando Laura tanto na condução do veículo quanto em outros itens, deixando-a irritada. Para piorar, o pai de Laura desde criança lhe ensina a portar arma e a agir como se fosse um homem, enfrentando o mundo violento. Horas antes da festa, ela decide sair sozinha para caminhar e se deara com uma rave inusitada em uma casa vizinha: todos usam fones de ouvido. Ela é seduzida por um dos frequentadores, Gabo (Lautaro Bettoni). Laura acaba sendo estuprada pela gangue de Gabo e retorna para casa. Daniel se irirta com ela ao ver um video no celular de Laura aparentemente cedendo ao sexo.
O filme é bem construído e deixa para o último ato toda a selvageria esperada pelo público. É um filme de sobrevivência, e obviamente a protagonista feminina vai vir com toda a fúria do mundo para defender a sua honra de um mundo onde os homens são insensíveis.
Anita
"Anita", de Marcos Carnevale (2009)
Que filme triste! Co-escrito e dirigido pelo cineasta argentino Marcos Carnevale, que lançou o emocionante "Elsa e Fred", "Anita" vai arrancar litros de lágrimas dos espectadores. A grande dama do teatro e cinema argeitno, Norma Aleandro, interpreta a viúva Dora. mãe de 2 filhos: Ariel (Peto Menahem), casado e morando em outra casa, e Anita (Alejandra Manzo), uma jovem com síndrome de down, que mora com Dora e a ajuda na pequena loja da mãe. No dia 18 de julho de 1994, Dora, que tem a sua vida devotada para cuidar com amor sua filha Anita, a deixa na loja e segue para o prédio da AMIA (Associação israelita), que sofreu um atentado terrorista matando 85 pessoas, entre elas, Dora. Dora havia prometido retornar, e como não voltou, Anita decide sair pra rua e procurá-la. Paralelo, Ariel acredita que sua mãe e Anita morreram no atentado, já que o corpo da irmã não foi localizado. Anita irá se deparar com pessoas e pede ajuda, mas a falta de compaixão do ser humano a impedem de ser auxiliada.
Norma Aleandro participa do 1o ato. O filme é de Alejandra Manzo, considerada a 1a atriz com síndrome de down a estar em papel de destaque, trazendo muito talento para a sua dramática personagem. É um filme emocionante, que deixa o espectador tenso e angustiado.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
O macaco
"The monkey", de Osgood Perkins (2025)
Duas coisas para começar a falar sobre "O macaco", adaptação de Osgood Perkins para um conto de Stephen King: o filme não é terror, e sim, uma comédia de humor ácido, com mortes trash homenageando os filmes de terror dos anos 80. E o que me pareceu um grande desperdício da participação de Elijah Wood no filme, no papel do padrasto de Petey (Colin O'brien), filho de Hal (Theo James).
O filme começa em 1999: duas crianças gêmeas, Hal e Bill (Christian Covery), possuem personalidade oposta. Hal é introspectivo e ingênuo. Bill é rebelde e ameaçador. Quando o pai deles, o piloto de avião Petey (Adam Scott) tenta destruir um macaco que bate tambor que ele adquiriu no exteior, ele entende que é uma tarfe impossível: o macaco é indestrutível e carrega uma maldição. Quem da cordas nele, está livre de ser morto, mas as pessoas ao redor acabam morrendo de forma horrorosa. E não tem como escolher quem vai morrer. Após morte da mãe deles, os irmãos jovam o macaco em um poço. Mas 25 anos dpeois, os irmãos, já crescidos, descobrem que o macaco retornou. E quer vingança.
Eu sou um grande fã de "Longlegs" e dos filmes anteriores de Osgood Perkins. Mas em "O macaco", ele trouxe de forma inédita em sua filmografia a comédia, e o tom abafou a atmosfera de terror e suspense do filme. O filme é bom, tem mortes divertidas e efeitos que lembram filmes dos anos 80, bem trash e over. Para quem curte terrir, vai se divertir bastante.
From ground zero
"From ground zero", de Aws Al-BannaAhmed, Al-DanfBasil, Al-Maqousi e outros (2024)
Um filme sui generis, "From grund zero" ficou na short list do Oscar 2025, entre os 15 pré-selecionados ao filme internacional, mas acabou não ficando entre os cinco. O filme tem uma importância histórica: 22 cineasta palestinos sitiados em Gaza, rodaram curtas metragens, variando entre 2 a 6 minutos, onde exploram, em gêneros distintos (drama, documentário, animação) , um olhar particular sobre a guerra entre Israel e Gaza, inciada em outubro de 2023. O projeto foi concebido e produzido pelo cinesta palestino Rashid Mashawari, que ficou conhecido no meio cinéfilo em 1996, quanto teve a primeira produção palestina a chegar oficialmente ao Festival Internacional de Cinema de Cannes. "Haifa". Mashawari fundou o Centro de Produção e Distribuição de Cinema em Ramallah, trazendo oficinas para formação de técnicos e de cineastas que representem o país.
Mashari levantou um fundo monetário e durante cinco meses, ele e sua equipe organizou os 22 curtas, convidando cineastas estabelecidos em Gaza. A maioria nunca havia filmado antes. Homens e mulheres, boa parte utilizando celulares, fizeram registros sobre a morte que os ronda, tanto com parentes e amigos que morreram, como o próprio risco de vida de morrer ao realizar os filmes. Mashari e sua equipe também passaram por situações arriscadas. Não se deve discutir a qualidade técnica dos filmes, que trazem uma narrativa de urgência. A grande maioria traz um olhar muito próximo à situaçao em que vivem: com as mesmas locações, a regiao desértica, com a população passando fome, sem energia elétrica, ainda traz eserança e sonho. O 1o filme sintetiza bastante o conteúdo do filme: expulsa de sua casa e morando com sua família em tendas na fronteira com o Egito, a narradora ainda assim consegue um tempo para resgatar a sua feminilidade: ela se maquia, para esconder os traços de sofrimento, angústia e fadiga.
Presença
"Presence", de Steven Soderbergh (2024)
Terror sobrenatural dirigido por Steven Soderbergh com roteiro de David Koepp ("Jurassisc park, "O quarto do pânico"), "Presença" faz lembrar de "Ghost story", de David Lowery, que trazia o ponto de vista de um fantasma sobre a história, e "In a violent nature", de Chris Nash, slasher onde todo o ponto de vista era do serial killer, com longos planos em travelling acompanhando o assassino até suas vítimas.
Uma família se muda para uma casa de dois andares: o casal Rebeca (Lucy Liu) e Chris (Chris Sullivan) e os filhos Chloe (Callina Liang)
e Tyler (Eddy Maday). Chloe está traumatizada: sua melhor amiga foi encontrada morta, aparentemente dormindo. Rebecca é uma mulher egoísta e só se preocupa consigo e seu trabalho. Chris é mais participativo na vida dos filhos. Tyler é o típico adolescente alfa, e apresenta seu melhor amiro Ryan ara Chloe, que passa a namorar o rapaz. Chloe passa a sentir estranhos eventos na casa, e acredita ser o espírito de Nadia, sua amiga morta, e acha que ela está querendo lhe dar algum sinal.
O filme fez sucesso em Sundance, gerando burburinho. O que foi destacado como original, que é o ponto de vista do fantasma, eu vi como um erro de conceito: em momento algum eu senti a câmera como um povo do espírito, e sim, literalmente, uma virtuose de steadicam passeando pelo ambiente, até porque toda a movimentação é coreografada demais. O filme é arrastado e como terror, não tem nenhum momento de tensão. Soderbergh buscou referências em "Poltergeist", de onde ele tirou até a fonte para a cartela. O elenco está ok, mas infelizmente não é um filme que tenha uma história assustadora. Talvez a idéia é de que o terror não seja sobrenatural, e sim, da maldade do ser humano.
O diabo branco
"El diablo blanco", de Ignacio Rogers (2019)
Filme de terror argentino, "O diabo branco" é co escrito e dirigido por Ignacio Rogers. É um filme que faz parte do sub-gênero do terror folk, que traz lendas populares e seitas satânicas como pano de fundo para as suas histórias. "O homem da palha" e "A bruxa de blair" acabam se tornando referências óbvias, além do já batido tema de amigos que passam o final de semana em uma cabana isolada na floresta.
Os dois casais de amigos Fernando (Ezequiel Diaz) e Ana (Martina Juncadella) e Tomas (Julian Tello) e Camila (Violeta Urtizberea) viajam para Tucumán para um final de semana em uma cabana na floresta, pertencente a um amigo de Fernando, Carlos (Nicola Siri). Aos poucos, Fernanod percebe vultos e pessoas agindo estranhamente ao seu redor, mas os outros não percebem nada de estranho.
O filme tem um ritmo muito lento e a violência acontece fora de quadro. Não há muita novidade na história, ainda mais quem está acostumado com filmes nesse estilo , incluindo "Midsommar", já sabe como será o desfecho. De curioso, a participação do produtor brasileiro André Ristum e do ator Nicola Siri.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
B.O.Y. Bruises of yesterday
"Glasskår", de Soren Green (2024)
Drama sombrio sobre um adolescente Lgbt que é rejeitado por todo mundo que o rodeia e decide entrar em um processo de auto-destruição, física e emocional. "B.O.Y- bruises of yesterday" é uma produção dinamarquesa, co-escrita e dirigida por Soren Green.
Tobias (Noa Risbro), 16 anos, é um jovem introvertido que mora com sua mãe divorciada. Tobias não tem amigos e sua única diversão é andar de skate pelas ruas da cidade. Sua mãe pede para que ele passe um tempo na casa dos avós, fora da cidade, para que ela se encontre com seus amantes e possa viver a sua vida de independência. A vó de Tobias (Bodil Jørgensen) está doente e com demência. O avô (Jens Jørn Spottag) é vidraceiro e um homem carinhoso. Tobias não consegue lidar com a idade avançada dos avós e perambula pelas ruas, conhecendo Aron (Alexander Mayah Larsen), 25 anos, por quem se apaixona, e Jonas (Jonathan Bergholdt), um garoto de programa que faz michê em um ponto de ônibus. Após ser rejeitado pela mãe, que não quer que ele ligue para ela, pelo pai, que se casou novamente, por Aron, que vê em Tobias alguém desesperado por amor, Tobias perde a pessoa que ele mais gostava, sua avó, que morre. Tobias decide se tornar um garoto de programa, eao memso tempo, ele se mutila e se auto flagela, pedindo aos clientes que o espanquem.
Não é fácil assistir ao filme e acompanhar a jornada de Tobias para o inferno, chega a ser angustiante a forma como ele se sacrifica em nome do amor. As cenas em que ele faz sexo com clientes, as cenas em que ele se corta com vidros e principalmente, a cena em que ele pede para o cliente lhe espancar, são dolorosamente brutais. Curioso que os filmes europeus não têm tabu para colocar um personagem de 16 anos fazendo sexo com adultos, de forma quase explícita. Os atores são excelentes, e claro, Noa Risbro no papel de Tobias faz um trabalho visceral, exigindo um emocional bastante intenso.
O estranho Thomas
"Odd Thomas", de Stephen Sommers (2013)
Um dos últimos filmes protagonizados pelo ator Anton Yelchin, morto tragicamente em um acidente em 2016. O filme é adaptação do romance homônimo de Dean Koontz lançado em 2003, "Odd Thomas". Thomas é um homem de 20 anos que mora na cidade desértica de High peek, Califórnia, e é capaz de ver os espíritos dos mortos. O filme é uma mistura de 2 grandes filmes: "O sexto sentido", de Shyamalan, e "Os espiritos", de Peter Jackson.
Odd Thomas (Yelchin) é um médium que ajuda o chefe da polícia Wyatt Porter (Willen Dafoe) a resolver crimes: os mortos o procuram em busca de vingança. Odd também trabalha de cozinheiro em uma lanchonete, e namora a atendente de sorveteria de um shopping Penny Kallisto (Ashley Sommers). Um dia, odd percebe que um morador da cidade está acompanhado de diversos espíritos e passa a pensar que um grande inicidente irá ocorrer na cidade.
Rever o filme hoje em dia me fez lembrar também de 'Stranger things", em diversos aspectos dramatúrgicos. Os efeitos são muito bons para um filme de orçamento médio. O elenco, encabeçado por Yelchin e Willen Dafoe, traz credibilidade ao projeto. É uma pena que Yelchin tenha morrido tão precoce: ele certamente teria um grande destaque no cinema contemporâneo. Um ótimo ator, carismático e com muitos recursos dramáticos. Quanto ao filme, o filme me deixou muito triste, pelo fim trágico de um personagem querido.
Mar profundo
"Shen hai", de Xiaopeng Tian (2023)
Concorrendo no Festival de Berlim 2023 na mostra Gerações, dedicada a filmes infanto juvenis, "Mar profundo" é escrito e dirigido por Xiaopeng Tian. Mas diferente do que o filme possa sugerir, ele não é para um público infantil. Ele traz temas bastante complexos, entre eles, a depressão. Shenxiu, uma menina de 8 anos, viaja com seu pai, sua madrasta e seu meio irmão em um cruzeiro. Seus pais se divorciaram e ela queria estar com sua mãe. Ao escutar uma música que ela acredita ser sua mãe cantando, ela se aproxima do parapeito do navio e acaba caindo no mar. Ela surge em um mundo sobmarino, onde existe um restaurante chamado 'Deep sea", comandado por um humanóide chamado Nanhe. Ela espera contar com a ajuda de Nahe para reencontrar a sua mãe.
O filme é todo uma metáfora sobre as profundezas da depressão de uma criança internada em um hospital, sem forças para seguir a vida. O mar é a morte puxando ela, e Nanhe é alguém que procura resgatá-la do luto. É um filme muito longo, e toda a parte do restaurante é muto confusa e esquizofrênica, com acúmulo de personagens e sub-tramas. Tivesse focado mais no início e no final, ou até mesmo um curta, teria tido um alcance emocional incrível. O desfecho é bastante melancólico. O que o filme tem de bastante positivo, é a excelência técnica, com um CGi muito bom: me impressionou os traços e os desenhos dos cabelos asiáticos, dá para perceber os fios se movimentando com leveza. Um primor.
Dalam botol
"Dalam botol", de Khir Rahman (2011)
Celebrado historicamente como o 1o filme Malásio a lidar com o tema da homossexualide e da pessoa trans no país reconhecidamente conservador e homofóbico, "Dalam Botol" me lembrou de 'Hedwig" pela história principal: Rubidin (Arja Lee) é apaixonado pelo seu amante Ghaus (Wan Raja). Eles vivem uma relação às escondidas. Quando Ghaus pede para que Rudibin faça uma cirurgia de mudança de sexo, ele aceita prontamente, fazendo um empréstimo de um valor alto para custear a cirurgia e os hormônios. Mas Ghaus se arrepende, pois gostava do amante como uma figura masculina, e acaba abandonado ele, não sem antes tirar todo o dinheiro de sua conta e vender o carro de rubidin para pagar suas dívidas pessoais. Mesmo ciente do abandono e de que Ghaus era um vigarista, Rudibin continua indo atrás dele, suplicando para que vole para ele. Sem ter como pagar o empréstimo, Rubidin vai buscar ajuda com seus pais, que o rejeitam. Abandonado por todo, Rubidin vai voltando à sua figura masculina, pela falta de uso de hormônios, e acaba chamando atenção de uma jovem, Dina. Eles se apaixonam e marcam o casamento. Mas Rubidin entra em grande conflito: ele ainda é apaixonado por Ghaus, e ele não tem coragem de dizer para Dina que é castrado.
Um filme marcado pelo excesso de melodrama e de sofrimento do personagem principal, que sai se arrastando e se humilhando pelo amante vigarista, dando um foco na discussão de relacionamentos tóxicos, "Dalam botoi" traz boas performances. euma fotografia que intensifica o drama.
171
"171", de Rodrigo Siqueira (2022)
"Todo 171 é ator, ele encarna um personagem para aplicar seus golpes."
O roteirista e documentarista Rodrigo Siqueira foi ao pé da letra nessa frase proferida durante seu filme, todo rodado em preto e branco. Durante a pandemia, ele visitou 3 presídios em São Paulo, e entrevistou diversos encarcerados. O que uniu os 6 que ele acabou selecionando, foi o fato de terem sido presos pelo código penal 171: estelionatários que enganaram outras pessoas. Walter Curia, Rogerio Magoga, Patrick Levi, Cintina Barranova, Marli Mantovani e Fabiano Santiago são os depoentes no filme. Mas saindo do padrão de documentário de cabeças falantes, Rodrigo foi além: ele criou sketeches ficcionalizados, protagonizados por cada um dos entrevistados, que atuam dando vida a personagens e cenas que podem ser reais, ou podem ter sido inventadas. Munido da última cena de "Seis personagens a procura de um autor", de Luigi Pirandello, Rodrigo improvisou cenas com elenco e equipe.
É um filme interessante, que me fez lembrar de "Jogo de cena", de Eduardo Coutinho, pelo fato de misturar ficção e realidade, e me lembrou também de "Sing sing", por utilizar os próprios presos para dar vida às histórias apresentadas.
domingo, 23 de fevereiro de 2025
De você fiz meu samba
'De você fiz meu samba", de Isabel Nascimento Silva (2022)
Bom documentário dirigido por Isabel Nascimento Silva, que traz um tema muito pertinente à sociedade diversa e inclusiva do Brasil dos dias de hoje: o filme reúne depoimentos de cinco viúvas de conhecidos sambistas cariocas. Durante toda a carreira artística dos maridos, essas mulheres mantiveram-se fiéis com o parceiro, ajudando na vida profissional e com a pessoal. Com a morte deles, elas procuram manter o legado deles vivo, enquanto discorrem sobre o papel da mulher no relacionamento, ainda mais no ambiente machista do samba.
Liette de Souza, Angela Nenzy, Jane Pereira, Denize Correia e Bertha Nutels são as viúvas de Roberto Ribeiro, Wilson Moreira, Luiz Carlos da Vila, Ratinho e Delcio Carvalho, respectivamente.
O depoimento de Angela Nenzy, falecida em 2020, é dos mais emocionantes. Ela trabalhava no MIS e dizia que amava teatro e vernissages, e nunca deu bola pro samba. Somente após se envolver com Moreira, que ela passou a frequentar o ambiente. Em um relato, ela diz para suas filhas pequenas que o negro foi jogado no Brasil, mas que a herança cultura pertence às filhas e isso ninguém irá tirar delas.
Por sua vez, Jane traz os depoimentos mais divertidos, confesso que gargalhei muito com suas histórias de ciúmes, relatando que algumas mulheres iam sem calcinha nos shows do marido ou o beijavam na boca. O jeito de ser de Jane e sua forma de falar mereciam uma personagem na ficção.
El bosque de los perros
"El bosque de los perros", de Gonzalo Zapico (2019)
Thriller de suspense argentino, escrito e dirigido por Gonzalo Zapico em seu filme de estréia. A protagonista, Lorena Vega, é esposa do diretor na vida real. Ela é Mariela, uma mulher de 35 anos com um passado sombrio em sua cidade natal. Ela retorna para a sua cidade para certar contas com o passado. Ela reencontra Gaston, amor de sua adolescência. Mas devido a incidentes do passado, ele se torna um homem arredio e depressivo. Carlos, irmãos mais velho de Gaston, procura Mariela. Carlos é mais violento e rebelde. Mariela o evita. Ela se hospeda em um hotel, mas os donos reocnhecem a mulher e a rejeitam: quando adolescente, os pais de Mariela morreram em um incêndio. Revoltada, ela culpou os vizinhos, e pediu para Gatson matar os cachorros dos vizinhos. Carlos, que sempre desejou Mariela, testemunha as mortes dos animais e chantageia os dois.
"El bosque delos perros" é um filme de tons trágicos desde seu primeiro minuto. O espectador pressente que algo de muiro ruim acontecerá no seu desfecho. Alternando drama, romance e suspense psicológico, o filme é bom, com um ritmo arrastado, mas mantém o interesse pela sua trama. As cenas de mortes dos animais são violentas e portanto, não recomendado para pessoas sensíveis.
En el futuro
"En el futuro", de Mauro Andrizzi (2010)
Vencedor do Queer Lion no Festival de Veneza em 2010, premiação destinada a filmes de temáticas lgbt, 'En el futuro" é um híbrido de documentário e com cenas ficcionalizadas, onde uma voz que represneta uma casa (narração do diretor) divaga sobre tempo. O filme tem uma narrativa experimental e atira para vários lados, e no final, achei tudo bem entediante.
O início promete muito: 7 minutos de casais gays e heteros se beijando de forma bastante explícita, um clipe que faria corar o padre do filme "Cinema Paradiso". Todo o filme é em preto e branco. Daí o filme caminha para essa narração em realismo fantástico sobre o fantasma da casa. Seguem-se depoimentos ora de casais heteros, ora de casal gay, ora de pessoas solitárias, falando sobre assuntos diversos: relacionamentos, envolvimento político. Uma mulher canta, outro casal dança. Todos os depoimentos são desinteressantes, com exceção da do casal gay, que fez com que o filme ganhasse o prêmio em Veneza: eles narram quando eram amigos, um deles hetero e com namorada, o outro com ciúmes. É divertido e mostra também o lado violento de um deles, que ameaçou matar o casal hetero.
Trágica obsessão
"Obsession", de Brian de Palma (1976)
Reunindo 4 mestres em sua ficha técnica: Brian de Palma, o compositor Bernard Hermann, o fotógrafo húngaro prmeiado com o Oscar por "Contatos imediatos do 3o grau" Vilmos Zsigmond e o roteirista Paul Schrader, que havia lançado no mesmo ano o roteiro de "Taxi driver", de Scorsese.
"Trágica obsessão " foi lançado entre 2 dos filmes mais famosos e aclamados de de Palma: "O fantasma do paraíso" e "Carrie, a estranha". O roteiro é todo em cima de "Um corpo que cai", de Hithcock, a referência de muitos filmes de de Palma. O filme, no seu lançamento, trouxe um enorme desconforto na platéia e crítica pelo tema tabu do incesto. Protagonizado por Cliff Robertson (Oscar de melhor ator por "Os dois mundos de Charly), a francesa Genevieve Bujold e o ator fetiche de de Palma, John Lightgow, o filme ainda traz referências a "Disque M para matar".
Em 1959, o empreendedor imobiliário de sucesso de New Orleans,Michael (Robertson) tem sua esposa Elizabeth (Bujold) e sua filha pequena My sequestrados. No pedido de resgate, ele ouve a polícia, dizendo para colocar papel ao invés de dinheiro na maleta. O resgate fracassa e a esposa e filha de Michael morrem na explosão do carro. Michael sente-se culpado pela morte de ambas. 16 anos depois, em 1975, Michael viaja para Florença, Itália, junto de seu amigo Robert (Lightgow) e ao entrar em uma igreja, se assusta ao ver uma mulher, Sara, restauradora de arte, idêntica à Elizabeth. Depois de se conhecerem melhor, ela aceita se mudar para New orleans com Michael para se casar com ele.
Diferente de outros filmes de de Palma, o filme não tem violência (apenas uma única cena lá pro final). e o suspense é brando. A câmera estilosa que o cineasta tanto gosta de usar em seus filme, surge também no final, em um giro de 360o graus, recurso que ele usou também em "Dublê de corpo) e "Vestida para matar". É um filme menor, mais para fãs do diretor.
Irmãs diabólicas
"Sisters", de Brian de Palma (1972)
Um clássico do suspense de Brian de Palma, "Irmãs diabólicas" foi o 1o filme de gênero do cineasta, lançado em 1972, e desde então , especializou-se em fazer referências ao mestre Alfred Hitchcock, trazendo muitos elementos de seus filmes. Em "Irmãs diabólicas", o filme traz "Janela indiscreta" e "Psicose" como sus maiores inspirações. Além disso, de Palma convocou Bernard Hermann, famoso compositor das trilhas de Hitchcock, para compôr a genial trilha do filme, que ele viria a repetir em outros filmes. Outro elemento narrativo que de Palma trouxe ao filme e que ele viria a repetir em outros filmes, é o uso da tela dividida, o split screen, muito engenhoso e que provoca uma tensão na platéia, por trazer ações que acontecem paralelamente no mesmo espaço de tempo. O filme faz parte da coleção da prestigiada 'Criterion collection", dedicada a filmes clássicos e cults a serem preservados.
Em Staten island, Nova York, a modelo Danielle Breton (Margot Kidder) participa de uma pegadinha na tv com o publicitário Philip Wode (Lisle Wilson). Fora do programa, Danielle convida Pihilip para sua casa. Ao chegar lá, eles são importunados pelo ex-marido de Danielle, o médico Emil (William Finley), que acaba sendo expulso. Philip faz sexo com Danielle e dorme no apartamento. No dia seguinte, Danielle pede que ele vá na farmácia para ela comprar remédio manipulado. Ele descobre que ela possui uma irmã gêmea, Dominique, que dormiu ali e está enciumada. Ao retornar da rua, Philip é assassinado por Dominique, e esse crime é testemunhado pela janela do prédio da frente pela jornalista Grace Collier (Jennifer Salt), que alerta a polícia, mas diante do descaso deles, decide ela mesmo investigar.
O filme traz um humor divertido através da personagem Grace e de seu colega da redação, Joseph (Charles Durning, hilário). O personagem de Philip lembra o de Janet Leigh em "Psicose", ao estender a sua história e fazer com que o personagem goste dele. Também é válido dizer que o fato de ser o único personagem negro do filme, traz um sub-texto sobre racismo: sua morte não é investigada e absolutamente ninguém sente falta dele. Margot Kidder está excelente em papel duplo, idem Jennifer Salt, em personagem que lembra a de Courtney Cox como Gale na franquia "Pânico".
sábado, 22 de fevereiro de 2025
A copy of my mind
"A copy of my mind", de Joko Anwar (2015)
Concorrendo no Festival de Veneza 2015, "A copy of my mind" é um excelente drama indonésio, que traz como pano de fundo um contexto histórico real: as eleições para presidente de 2014, envolto em crise política e denúncia de corrupção. Uma história de amor inusitada acontece em Jakarta, capital do país, na área pobre da periferia: Sari (Tara Basro) é uma jovem que trabalha em um salão de beleza como massageadora facial. Morando sozinha, o sonho de Sari é ter um home theater em casa e poder assistir aos filmes em seu quarto apertado. Mas ao tentar comprar, ela descobre que seu salário nem chega perto do valor do aparelho. Ela decide procurar trabalho em um asalão que pague melhor. Enquanto isso, ela compra um dvd pirata para assistir em casa, mas fica irritada porque a legenda não funciona. No dia seguinte, ela vai reclamar sobr eo dvd e acaba conhecendo Alek (Chicco Jerikho), um rapaz que recebe uma ninharia para poder inserir legendas em filmes piratas. Os dois discutem, mas acabam se apaixonando um pelo outro. O dono do novo salão indica um cliente que está numa prisão para Sari. Ao chegar lá, ela vê vários dvds piratas e rouba um, acreditando ser um filme de monstro. Mas ao chegar no quarto, ela e Alek descobrem que o dvd contém reuniões que envolvem corrupção no gverno. Imediatamente, o casal é ameacado pelos bandidos.
Um filme surpreendente, que começa como um romance e avança em thriller político. Com excelentes imagens de Jakarta da área pobre, uma excelente fotografia e câmera na mão, o filme vai imprimindo tensão e tem um desfecho em aberto, trágico. Os dois atores são ótimos e possuem excelente química. E a parte sobre a pirataria de dvd é muito bem ilustrada com todos os detalhes de comércialização.
Bogotá story
"Bogotá story", de Esteban Pedraza (2023)
Concorrendo no Festival de Veneza 2023, "Bogotá story" é um curta arrebetador e contundente co-produzido por Colômbia e Estados Unidos. Escrito e dirigido por Esteban Pedraza, o filme se passa no ano de 1992 na Colômbia; um país dominado pelo narcotráfico, em uma onda de violência, desemprego e crise do governo sem precedentes. No meio desse caos, vive o jovem casal Pilar (Catalina Rei) e Alexandre (Victor Tarazona), pais da bebê Vitoria. Pilar, que já morou nos Estados Unidos, sem avisar seu marido, aplicou para um estágio, e para a sua surpresa, ela passou e tem 3 dias para responder para ir trabalhar em Nova York. Ao conversar com Alexandre, ele reage mal: se sente indignado, e acha um absurdo uma mãe largar a bebê e marido para trás. Pilar entra em profunda crise, tendo 3 dias para decidir se vai ou não seguir seu sonho profissional, ou seguir a sua função de mãe e esposa.
Um filme angustiante, uma sinuca de bico de uma mulher em uma encruzilhada emocional que pode decidir a vida não somente dela, mas de todos à sua volta. Esse filme só poderia funcionar com atores que pudessem dar credibilidade e força aos personagens, e isos o filme traz com primor.
Falling in love like in movies
"Jatuh Cinta Seperti di Film-Film", de Yandy Laurens (2023)
Vencedor de diversos prêmios em festivais na Indonésia, "Falling in love like movies" é um drama que traz elementos de comédia romântica em sua metalinguagem. O roteiro, bastante criativo, apresenta um roteirista, Bagus (Ringgo Agus Rahman) que se encontra com um produtor de cinema para apresentar um roteiro que ele acabara de escrever. O produtor quer um terror, mas Bagus quer que o produtor ecsute o filme que ele tem a apresentar: em preto e branco (para desespero do produtor, que diz que ninguém assiste filme em PB e que não dá público) e sendo comédia romˆntica. Bagus oferece a história de um roteirista de cinema que reencontra uma paixão de sua vida, Hana (Nirina Zubir) no supermercado. O marido dela faleceu há pouco tempo, e o roteirista decide aproveitar a deixa para poder se reaproximar da mulher. Mas a mulher decide que não quer mais se envolver com nenhum homem e viver seu luto. Essa história é encenada como se fosse uma filmagem ao ser narrada pelo roteirista para o produtor, e ainda em outra camada, pelos personagens do filme, também interpretados pelo mesmo elenco.
O roteiro me fez lembrar do episódio de "Black mirror" com Salma Hayek, "Joan is awful", onde ela vive uma vida, vivida por uma atriz, que por sua vez é vivida por outra atriz. A diferença é que aqui, todas as metalinguagens são vividas pelo mesmo elenco, com exceção da filmagem, que são outros atores. É uma história bastante interessante, mas que a direção torna bastante entediante, com cenas imensas com diálogos intermináveis. Ainda assim, tem cenas muito boas de metalinguagem.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Bridget Jones- Louca pelo garoto
"Bridget Jones- mad about the boy", de Michael Morris (2025)
Franquia de sucesso iniciada em 2001, depois em 2004 e 2016, "Bridget Jones", do best seller escrito por Helen Fielding, encontra a sua 4a parte lançada exatamente 24 anos depois do original. Muita coisa se passou nesse período, e a própria Renée Zellweger fez plástica e remodelou seu corpo que a diferencia muito da Bridget do 1o filme. Eu continuo achando o filme original o melhor de todos e confesso que não curti nenhuma das continuações. "Louca pelo garoto" é simpático, traz temas contemporâneos da mulher que é mãe solteira, independente, trabalhadora fora e em casa e que ainda quer se sentir desejável e amada. Assim como os filmes anteriores, o forte da produção é o elenco que traz credibilidade e carisma aos personagens. Os excelentes Emma Thompson, Hugh Grant e Colin Firth recebem reforço de Chiwetel Ejiofor, como o professor de ciências Wallaker e Leo Woodall, como o jovem segurança Roxster, ambos trabalhadores da escola onde os filhos de Bridget estudam e ambos interesses amorosos da diva.
Outro item que sempre fez sucesso na franquia é a trilha sonora, repleta de clássicos do pop dos anos 80 e 90, o que auda a conectar o público com o gosto de Bridget. O filme traz Colin Firth como memórias de luto de Bridget, uma vez que seu personagem morreu no 2o filme, no Sudão em ajuda humanitária. Melancólico em diversos momentos, realista ao retratar a dificuldade de uma mãe independente de 2 filhos pequenos em burn out, o filme traz alguns momentso divertidos e outros sensuais, graças ao apelo de Leo Woodall, explorado como objeto sexual das mulheres e dos gays no filme.
Short calf muscle
"Korte Kuitspier", de Victoria Warmerdam (2019)
Vencedor de mais de 40 premios em festivais internacionais, essa divertida comédia holandesa tem uma história bizarra e non sense.
Anders (Henry Van Loon) é um homem na faixa dos 30 anos que faz um exame médico. A médica lhe diz que ele tem um músculo curto na panturrilha e que esse é o motivo de sua dor. Ela complementa que é "comum na sua espécie". Anders sai encucado com essa frase, Na rua, no trabalho e no comércio, todos os tratam diferente, e Anders acredita que todos o olham diferente por ser gay. Quando ele comenta com seu namorado e seus poais, eles dizem que ele é um gnomo. Irritado e sem entender o que isso quer dizer, Anders vai dormir na rua.
"Short calf muscle". diverte e intriga pelo inusitado. O filme traz uma metáfora sobre se sentir diferente, seja por questões de gênero, orientação sexual ou físico. Com excelentes atores e um humor finamente ácido, é um primor de concisão ao contar a sua história em apenas 13 minutos.
Eu vos confio
"Eu vos confio", de Agustín Toscano (2023)
Documentário argentino que recria com atores e com os personagens reais o caso de Sabrina e Nélida (hoje André, Nélida fez a transição assim que foi presa). Quando ainda era Nélida, noviçxa de um convento, ela conheceu Sabrina e se apaixonaram. Abandonaram a vocação religiosa e decidiram constituir família, adotando a menina Erika, 3 anos. Mas em 2006, as duas foram acusadas de assassinar Beatriz Arganarez, professora e amiga de Susana que havia conquistado um cargo de gestão cobiçado pela acusada. Ambos cumprem pena de 20 anos de cadeia, e até hoje, alegam inocência. O corpo de Beatriz nunca foi encontrado, mas existem evidências que provam que foi assassinada pelos dois.
O filme é estranhíssimo: na parte ficcionalizada com atrizes, o diretor decidiu filmar como um musical. As personagens cantam e a imagem é em preto e branco. Eu, que amo musicais, não curti muito a mistura de gêneros, pareceram filmes distintos e sem liga. O filme tem potencial para uma ficção, tipo "Monster", com Charlize Theron e Cristina Ricci, mas esse filme ficou devendo muito.
O ferro velho
"El desarmadero", de Eduardo Pinto (2021)
Escrito e dirigido pelo cineasta argentino Eduardo Pinto, "O ferro velho" é um terror sobrenatural interessante, com boa performance do protagonista Luciano Cáceres no papel de Bruno. Ele está enlutado pela morte de sua esposa e sua filha em um acidente de carro. Desde então, Bruno, artista plástico, esteve internado em um manicômio. Após anos de tratamento, sua psiquiatra (Malena Sanchez) o libera do tratamento. O amigo de Bruno, Roberto (Pablo Pinto)decide ajuddá-lo a reconstruir sua vida e o convida para trabalhar como guarda noturno em seu ferro velho. Bruno aceita. Ele dorme em um alojamento no próprio ferro velho. Um grupo de delinquentes rouba peças dos carros e Bruno os afasta com uma arma. Enquanto perambula pelo ferro velho, Bruno fica chocado ao ver que o carro de sua esposa está ali. A partir desse momento, ele passa a ter alucinações com a esosa e a filha, mas Roberto alega que Bruno está sme tomar seus remédios e por isso está delirando.
O filme é um terror light, e a sua estética é bem anos 90, com uma fotografia repleta de fumaça na noturna e uso de luzes coloridas. Não é um filme memorável, mas traz uma boa história como pano de fundo, de luto e de depressão.
Golondrinas
"Golondrinas", de Mariano Mouriño (2020)
Bom drama argentino, que retrata o cotidiano de 2 irmãos sem terra e trabalhadores rurais migrantes, que viajam por toda a Argentina em busca de trabalhos temporários nas fazendas. O filme se passa nos anos 90. Ana (Melanie Nacul) e Juan (Isaías Salvatierra) são dois jovens irmãos que se amam e sempre cuidaram um do outro. Quando vão trabalhar na fazenda de Edgardo (Germán Palacios), a relação dos dois irmãos começa a entrar em conflito: Edgardo confia nos dois irmãos e os tiram do alojamento, colocando-os para morar na fazenda. Edgardo leva Juan para pescar e se divertem. Ana, por sua vez, faz tarefas domésticas, e seduzida por Edgardo, se deixa levar pelo desejo e pela ganÂncia de poder usufruir do luxo da fazenda e da vida de benefícios que Edgardo pode lhe propor. Mas os trabalhadores passam a faezr comentários sobre Ana e Edgardo, o que deixa Juan irritado.
Filmando em Gualeguaychú, Entre ríos, Argentina, o filme é um drama social que traz em pauta questões interessantes sobre luta de classes e de ambição, além de ciúme entre irmãos, com aspirações sociais distintas. Os atores são muito bons e a direção prefere se manter distanciada emocionalmente, trazendo uma narrativa fria e malancólica.
A barbárie
"La barbarie", de Andrew Sala (2023)
Premiado em Festivais da América Latina, "A barbárie" é um drama argentino co-produzido pela França, escrito e dirigido pelo americano Andrew Sala. O filme trata de temas como conflito de classes e definição de masculinidade tóxica e misoginia dentro da área rural no interior da Argentina.
Nacho (Ignacio Quesada), 18 anos, chega à fazenda de seu pai Marcos (Marcelo Subiotto), após brigas violentas com sua mãe na capital. O pai o recebe e pede que Nacho o ajude a descobrir porquê vacas estão aparecendo mortas no pasto, à medida que o leilão de vacas se aproxima. Os trabalhadores da fazenda não recebem Nacho bem, principalmente o filho do capataz, Luis (Lautaro Souto ). Quando Nacho reencontra Rocio, irmã de Luis, com quem costumava se divertir quando crianças, a relação entre Nacho e Luis torna-se ainda mais violenta.
PEnsei que o filme fosse bem violento, muito por causa do título, quanto pela aparenta similaridade com filmes de Michael Haneke ou Michel Franco, quando tudo acaba em sangue. Fiquei frustrado, mas o filme ainda assim traz uma boa narrativa e boas performances de um elenco profissional mesclado a atores amadores.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
A encomenda
"La encomienda", de Pablo Giorgelli (2021)
Co-produzido pela República Dominicana e Argentina, "La encomienda" é co-escrito e dirigido pelo argentino Pablo Giorgelli, de "Las acacias", de 2014. O ator italiano Ettore d/alessandro co-escreve, protagoniza e co-produz o filme. O filme foi rodado na República Dominicana, em um tanque de água especial construído pelos lendários estúdios Pinewood, e onde diversas produções foram rodadas. E talvez seja esse um dos problemas que tive ao assistir ao filme: durante todo o tempo, eu só conseguia assistir 2 náufragos dentro de um tanque de um estúdio. Foi difícil eu abstrair e imaginá-los em alto mar. E o filme é longo, arrastado, tem muitos momentos onde nada acontece, é só o personagem nadando pra lá, nadando pra cá.
O navio La encomienda, que zarpa em direção aos Estados Unidos com imigrantes de diversas nacionalidades, explode e naufraga. Pietro (D'alessandro) se desespera ao ver os corpos dos tripulantes e dos passageiros. Ao amanhecer, ele encontra um bote salva vidas, e lá dentro, um homem, Abreu (Marcelo Subiotto), que logo morre. Mais adiante, Pietro encontra um náufrago, o dominicano Benel (Henry Shaq Montero). Juntos, eles procuram sobreviver localizando água e comida, e a esperança de que Miami esteja logo por perto.
A performance do elenco é boa, e deve ter sido muito difícil passar todos os dias de filmagem nas condições técnicas exigidas. O filme traz boas intenções ao disuctir temas como racismo, luta de classes, desemprego, a esperança de uma vida melhor. Mas é chato, talvez para sacudir um pouco a narrativa, tenha faltado uns tubarões ali.
Mop
"Mop", de Joon Goh (2023)
Premiado curta da Malásia, escrito e dirigido por Joon Goh. O diretor teve a idéia para o filme quando estava brincando com seus dois filhos pequenos e ele fez o papel da cadeira, e seus filhos ganharam os papéis de dominadores e o diretor, de dominado.
Em uma loja de móveis, Ayu (Mia Sabrina) trabalha para Cecilia (Lim Mei Fan), cuja loja é de sua família. Aya retorna com o pedido de aloço das duas. Quando Cecilia vai checar, está faltando a pimenta que ela pediu. Diante do esquecimento, Aya é punida, fazendo o papel de diversos móveis, até que deixa quebrar um corpo de vidro no chão e é obrigada a fazer o papel do esfregão e limpar os cacos com a boca.
O filme brinca com o universo do Poder, com a relação do submisso e do dominante. Inclindo elementos de realismo fantástico, e trazendo um excelente trabalho corporal das atrizes, o filme faz refletir sobre as tantas possíveis leituras do roteiro, por conta de seu plot twist. Um filme sobre fetiches e perversidade.
14 Again: I Love You Two Thousand
"14 Again: I Love You Two Thousand", de Nareubadee Wetchakam (2023)
Comédia dramática tailandesa, com toques de romance, "14 Again: I Love You Two Thousand" é co-escrito e dirigido por Nareubadee Wetchakam. O filme é simpático e traz um elenco de jovens atores às voltas com drama, romance, humor e um luto pela morte de um amigo.
Gib (Nuttanicha Dungwattanawanich) é uma jovemfrustrada com a faculdade de engenharia em Bangkok. Ela decide retornar à sua cidade natal para refletir sobre seu futuro, e mente para a sua mãe que está de férias escolares. Ela reencontra Tor (Nat Kitcharit) que foi o seu grande amor quando eles tinham 14 anos. O irmão de Gib, Gun (Phupha-Inthanon Saengsiripaisarn) por sua vez, está apaixonado por uma das colegas da turma, Phing. Mas na vida desses jovens, paira o fantasma de Mat, um colega deles que morreu atropelado durante o trabalho.
O filme é longo e tem muitos sub-plots em uma história confusa. Os personagens são carismáticos e os jovens atores são bons, o que segura a atenção do espectador. A trilha sonora pop e a fotografia ajudam a compôr atrativos a mais para o filme.
Inferno grande
"Infierno grand", de Alberto Romero (2019)
Escrito e dirigido pelo argentino Alberto Romero, "Inferno grande" é um drama com elmentos de gênero faroeste e suspense para apresentar o drama de uma mulher grávida, Maria (Guadalupe Docampo) é esposa de um político e está nas últimas semanas de gravidez. Seu marido, Lionel, é candidato a governador da cidade onde moram. Maria quer daz à luz na sua cidade natal, Naicó, onde seus pais estão enterrados. Lionel a proíbe, quer que o filho nasça na cidade e exige que Maria esteja mais presente na campanha política. Após uma discussão, Maria nocateia Lionel e foge, levando o rifle e a caminhonete, em direção à Naicó, encontrando pessoas no caminho que a ajudam a localizar a cidade. Enquanto isso, Lionel vai atrás de Maria, querendo se vingar.
O filme é uma parábola sobre relacionamentos abusivos e transforma Maria numa grande guerreira em desefa de sua liberdade e de sua dignidade. Um bom filme, com momentos que transitam em realismo fantástico.
O coração do masturbador
"Le coeur du masturbateur", de Michael Salermo (2023)
Aviso: o filme, um retrato contundente e devastador sobre um adolescente que deseja apagar a sua existência na terra, se propondo a aceitar um desafio online de 50 etapas em 50 dias, sendo que o último, é o seu suicídio. Pessoas com gatilhos para o suicídio ou depressivos não devem assistir jamais ao filme. O filme é uma adaptação do curta dirigido pelo próprio diretor, "Blue whale", que quer dizer "Baleia azul". O jogo da baleia azul se popularizou na internet em meados dos anos 2000, e centenas de adolescentes se suicidaram no mundo, aceitando o desafio dos "curadores" em realizar os 50 desafios, sempre culminando em suicídio.
O filme tem um registro frio e documental na vida de um adolescente sme nome (Ange Dargent). Ele mora com seus pais e seu irmão mais novo. Os pais vivem discutindo e não enxergam que o filho precisa de ajuda. O irmão mais novo aé percebe, mas ele não sabe o que fazer. Durante os 50 desafios, o rpaz faz de tudo, incluindo se cortar com gilete, numa cena aterrorizante.
"O coração do masturbador" não engana o espectador: ele se propõe a mostrar exatamente o que está na sinopse. Com um estilo de interpretação Bressioniano, totalmente sme emoção, o filme incomoda pelo seu olhar cruel e passivo sobre um jovem que quer apagar qualquer resquício seu, incluindo todas as fotos existentes. Fiqueí arrasado no seu desfecho. Certamente, a intenção do filme é fazer um alerta aos pais, professores e amigos, para observar mudanças de comportamento nos adolescentes.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
O ourives
"L'orafo", de Vincenzo Ricchiuto (2022)
Vencedor de mais de 10 prêmios em festivais de gênero, "O ourives" é um thriller de suspense italiano que traz referências aos filmes "Terror nas trevas", de Fede Alvarez", e "Jogos mortais", onde uma quadrilha invade uma casa e descobrem que os moradores não são tão inocentes assim.
Após um prólogo apresentando as 3 crianças rebeldes Stefano, Roberto e Arianna, culminando com a última assassinando o homem que roubaram um cordão de ouro, o filme pula no tempo e mostra os 3 já adultos, prestes a invadir a casa de um ourives e sua esposa, onde dizem, guardam uma quantia boa de ouro e jóias ali. Após prenderem e amarrarem o casal, o trio entra em um alojamento onde estão todas as jóias. Mas ao entrarem a porta, que é temporizadora, se tranca, e eles se vêem fechados ali dentro. O ourives se solta e passa a manipular os 3, jogando um contra o outro, ao revelar que sabe segredos de cada um deles.
O filme traz alguns plot twists na trama, e tem uma boa parte técnica, com fotografia, direção de arte e trilha sonora casando bem com a narrtiva de suspense. O roteiro , mesmos endo óbvio e batido, traz bons momentos. A violência é mediana, não é o gore que talvez alguns esperem. Mas o que estrega mesmo a experiência de ver o filme, é a atuação dos atores, principalmente os 3 bandidos. São muito fracos e sem qualquer tipo de entendimento de nuances e camadas. Uma pena, pois poderia ter sido um bom filme.
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