domingo, 20 de novembro de 2016
Guerra do Paraguay
"Guerra do Paraguay", de Luiz Rosemberg Filho (2016)
Assistir a um filme de Luiz Rosemberg Filho é uma volta ao passado, aos melhores tempos do Cinema marginal que permeou a filmografia brasileira dos anos 60 e70, onde saíram obras-primas como "Matou a família e foi ao cinema", de Julio Bressane e "O bandido da luz vermelha", de Rogerio Sganzerla. Nesse resgate político e social de um Cinema que ousa fazer o espectador refletir e pensar tudo o que está vendo e ouvindo (um desafio cada vez maior nos dias de hoje, com uma geração toda voltada à visual clipado e diálogos mínimos), Rosemberg faz uma linda alegoria que promove um encontro entre a Arte X a violência. Violência que pode vir na forma de assassinatos, da ignorância, do egoísmo, das armas de fogo, do capitalismo desenfreado, do estupro físico e moral e do egocentrismo.
A direção, premiada no Festival de Vitória 2016, abraça o realismo fantástico e a linguagem do teatro para contar a história de um soldado que comemora o fim da Guerra do Paraguay. Solitário, ele percorre com o seu pequeno tambor uma região bucólica, cercada por árvores frondosas e um lago cintilante. A imagem do soldado batendo o tambor, me lembra bastante Cabíria de Giuletta Masina e o pequeno Oskar de "O Tambor", Todos esses 3 personagens são ingênuos e acreditam na sua causa. Cabíria e Oskar encontram em sua trajetória um conflito enorme que os levou a um outro pensamento sobre tudo o que até então acreditavam. Para esse soldado, que comemora a violência travada pelo seu exército, que dizimou milhares de soldados da outra frente, existe uma chance de redenção: ele encontra em se caminho, 3 mulheres de gerações diferentes, que arrastam uma enorme carroça sem cavalos. Elas são atrizes esfomeadas e cansadas, uma bela metáfora sobre a luta diária do artista para se sustentar. Começa aí um debate ideológico e filosófico, uma verdadeira queda de braços, entre a Arte e a Violência, entre a tradição e a modernidade ( um elemento surreal do filme: o soldado vive no Século passado, e as atrizes, provavelmente, nos anos 70).
A cena inicial, um enorme plano sequência com as mulheres carregando a carroça pela estrada, lembra bastante o plano inicial de "O cavalo de Turim", do húngaro Bela Taar. O filme de Luiz Rosemberg Filho é composto de longos planos sequências, milimetricamente enquadrados e com atores bem marcados. O elenco , encabeçado por Patricia Niedemeier, Anna Abbot e Alexandre Dacosta, foi a fundo na proposta promovida pelo Diretor, promovendo um feliz encontro entre a linguagem naturalista do Cinema, com a presença bem marcada em cena do teatro.
O filme é um belo exercício de cinema, mas que será melhor apreciado pelo cinéfilo antenado pela busca de novas formas de contar o cinema.
Um destaque especial para a linda trilha sonora, para a direção de arte da carroça de Cristiano Requião e para o clip final, uma colagem apocalíptica do mundo que vivemos hoje.
O filme ganhou no Cine PF 2016, o prêmio concedido pelos críticos de cinema.
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