sábado, 20 de dezembro de 2014
Sono de inverno
"Kis uykusu/Winter sleep", de Nuri Bilge Ceylan (2014)
O que faz alguém assistir a um drama intimista de 196 minutos de duração? O grande Vencedor da Palma de Ouro de melhor filme e do Prêmio Fipresci em Cannes 2014, "Winter sleep" é uma saga exitencial de um homem solitário que dura isso mesmo, 3:16 horas!
Esse tour de force para o espectador só é possível por conta de 4 elementos:
1- O roteiro, excepcional, composto de diálogos ácidos e poderosos que retratam a sordidez do ser humano.
2 - A performance de todo o elenco, impressionante em seu naturalismo e melancolia, olhares profundos que marcam a solidão e a tristeza de cada um dos personagens do filme
3- A fotografia irrepreensível de Gökhan Tiryaki, responsável por todos os filmes de Nuri Bilgen, e que verbaliza em imagens o frio de Anatolia, profundo em sua brancura
4- A direção precisa e metódica de Nuri Bilge Ceylan, Cineasta turco celebrado no mundo inteiro, realizador dos excelentes "Os 3 macacos"e "Era uma vez em Anatólia".
O mais incrivel, é a sensacão que tive de estar assistindo a um filme de Bergman. Quem sabe uma releitura de "Cenas de um casamento"épico de muitas horas, que relata a frieza de uma relação sem amor.
O filme narra a história de Aydin, um homem de meia idade que é dono de um hotel nas montanhas de Capadócia, Anatólia. Ex-ator, ele escreve uma coluna para um jornal local, e tem a ambição de escrever um livro sobre o teatro turco. Ele mora com sua irmã divorciada e amarga pela vida, e com sua jovem esposa Nahil, com quem já não divide mais amor nem palavras. Aydin herdou terras nas redondezas, e aluga a scasas para o proletariado local. Culto e rico, ele constrange quem o cerca com palavras e gestos que marcam a sua superioridade. Mas a solidão se torna cada vez mais brutal, à medida que o inverno vai chegando ao local.
Seco e frio, o filme de Nuri Bilgen trabalha como sempre, com o tempo que teima em passar. Seus planos longos, os diálogos que tomam conta de cenas às vezes com mais de 20 minutos sem pausa, são sinal de um Autor que sabe lidar com as palavras.
No entanto, é impossível dizer que o filme não seja cansativo. Será que tantas histórias paralelas se tornam necessárias? O filme poderia ter 1 hora a menos? A maioria dos cinéfilos e criticos dizem que não sentiram o tempo passar...será verdade mesmo? Eu tenho que dizer que foi bem puxado. Mas de uma forma geral, acabada a sessão, tenho que admitir que é um filme poderoso na sua dramaturgia e pela força do elenco.
Filmes assim, que discutem amor, vida, morte, existencialismo, me fazem a cabeça. ë o tal do pessimismo tão comum ao cinema de Bergman, aqui devidamente representado.
Nota: 8
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