segunda-feira, 14 de abril de 2025
Aya Arcos
'Aya Arcos", de Maximiliano Moll (2014)
Drama lgbtqiap+ indie brasileiro, "Aya Arcos" é escrito e dirigido por Maximiliano Moll, um cineasta alemão que ficou encantado com o Rio de Janeiro e ambientou seu filme todo na Lapa. Inclusive, um dos personagens mnora em uma casa na Escadaria Selarón, famoso ponto turístico carioca. 'Aya Arcos" é um filme com uma trama que envolve um relacionamento complicado entre Edu (César Augusto), um autor de meia idade, e Fábio (Daniel Passi), um jovem garoto de programa, por quem ele se apaixona. Fábio é um ator e faz parte de uma cia de atores ( em uma cena, Fábio participa de uma orgia com os atores da cia). Fábio se recusa a usar camisinha nas transas com Edu, que fica preocupado, mas por tesão e por paixão, acaba cedendo. Nos dias que correm, Edu teme contrarir HIV, o que Fábio minimiza a preocupação.
O filme, apesar de lidar com temas bem tabus e ter cenas de sexo, é pudico ao não revelar praticamente nennhuma nudez, ou fazer as cenas de sexo sem tesão. O relacionamento entre Edu e Fabio é difícil de entender, visto que Edu vive emburrado e Fábio tem um espírito livre, não cedendo aos impulsos de castração de Edu. Tecnicamente, tem um som ruim, muitas vezes inaudível, e a fotografia também tem momentos que parece amador.
Drop- Ameaça anônima
"Drop", de Christopher Landon (2025)
Um ótimo thriller de suspense, 'Drop-ameaça anônima" tem uma trama que prende a atenção, e principalmente, atores fortes e carismáticos que fazem com que o espectador torça por eles. Produzido pela Blumhouse e Michael Bay, o filme tem como protagonistas Meghan Fahy, de "The white lotus", e Brandon Sklenar, de "É assim que acaba", novamente em uma trama que tem como pano de fundo, a violência contra a mulher. O diretor Christopher Landon dirigiu os grandes sucessos "A morte lhe dá parabéns", "Freaky" e as continuações de "Atividade paranormal", e sabe utilizar muito bem a câmera, edição, iluminação e os designs de pós produção a favor do filme.
Em Chicago, Violet (Meghan Fahy), uma mulher com histórico de abuso doméstico, decide dar chance a um novo relacionamento e vai ao encontro do fotógrafo Henry (Sklenar) em um luxuoso restaurante de cobertura. Ela pede para sua irmã, Jen, cuidar do filho pequeno Toby. No restaurante, tudo vai bem até que Violet passa a receber mensagens anônimas no seu celular, que ela não pode compartilhar com ninguém, caso contrário, sua irmã e seu filho serão mortos. O anônimo quer que Violet mate Henry, sem explicar o motivo.
O filme tem excelente trabalho de câmera e fotografia, e os letreiros das mensagens de celular são bem utilizados no filme. O roteiro habilmente faz com que qualquer pessoa do restaurante possa ser a pessoa que está ameaçando Violet. A edição mantém a dinÂmica do filme sem fazer perder a tensão. Claro que o filme apela para que a protagonista vire uma super heroína, mas enfim, a gente acaba torcendo bastante por ela, independente da inverossimilhança.
Tokyo cowboy
"Tokyo cowboy", de Marc Marriott (2023)
Alguns produtores e diretores de cinema indie são muito corajosos em apostar em filmes cujas histórias, à primeira vista, não parecem interessar a um público amplo. Filme de estréia do diretor e produtor americano Marc Marriot, essa dramédia indie parte de uma história curiosa e bizarra, ambientada no Japão em em Montana, Estados Unidos. No Japão, Hideki (Arata Iurai) é um homem de meia idade que trabalha em uma empresa que recupera e liquida empresas em vias de falência. Ao tomar conhecimento que uma fazenda de gado em Montana, Estados Unidos, está prestes a ser liquidada, Hideki sugere aos seus chefes que ele tem uam solução para fazer a fazenda voltar a ser lucrativa. A vice-presidente, Keiko (Ayako Jujitani) é sua namorada, e está incrédula dos sucessivos fracassos de Hideki, mas decidem lhe dar crédito. Ele viaja junto de um expert japonês, Wada (Jun Kunikura) para Montana, e procura se socializar e se ambientar com os empregados da fzenda, em princípio hostis e desconfiados.
O filme recebeu inúmeros prêmios em festivais, mas confesso que não fiquei tão apaixonado pelo filme. Ele é correto, me fez lembrar um pouco de "Bagda café", por conta do choque de culturas, que em princípio, é curioso e repleto de clichês, claro. Mas o que me cnehu os olhos, foi a footgrafia de Oscar Ignacio Jiménez, que faz reluzir as espetaculares locações em Montana, cenário ideal para faroestes. O elenco é bom e carismático. Talvez a frieza narrativa tenha me afastado do filme, tivesse tido mais alma, certamente seria mais comovente.
domingo, 13 de abril de 2025
Nosferatu- O vampiro da noite
"Nosferatu- Phantom der nacht", de Werner Herzog (1979)
Co-produzido pela Alemanha ocidental e França, essa versão de Nosferatu dirigido pelo mestre alemão Werner Herzog traz 3 dos maiores astros da virada dos anos 70 e 80: Isabelle Adjani, Klaus Kinski e Bruno Ganz. A maior curiosidade que li no Imdb foi que Robert Englund, ator que interpreta Freddy Krugger, se inspirou em Kinski para interpretar o assassino dos sonhos. Recentemente, com o lançamento primoroso da versão de Nosferatu por Robert Eggars, revi também o original de Murnau e agora, a de Herzog. O filme recebeu um prêmio especial no Festival de Berlim pela contribuição artística. Herzog tomou liberdade no roteiro, trazendo alterações que não existem nas outras versões. O dr Van Helsing é descrente sobre a existência do vampiro; Lucy (Adjani) é mais combativa e tenta alertar as pessoas, sem sucesso: o filme tem um epílogo que traz um teor mais trágico, com Drácula encontrando um sucessor. A fotografia e as lindas locações na Holanda trazem a atmosfera onírica fundamental para a história. Alguns elementos de humor e de loucura trazem a marca registrada de Herzog, como na cena onde as pessoas da cidade, já contaminadas pela peste, celebram seua últimos dias de sanidade com festa e bebidas. Ou na divertida cena da
prisão de Van Helsing.
Mickey- O rato dos horrores
"Mouse of horrors", de Brendan Petrizzo (2025)
Maos um slasher que se apropria do domínio público de personagens clássicos, no caso, a versão de Mickey Mouse do Steamboat Willy, ocorrido a partir de 2024. O primeiro filme foi "Mouse trap", um filme simpleamente pavoroso de tão ruim. "Mickey- O rato dos horrores", produção inglesa, consegue ser melhor em todos os quesitos, não que seja um mérito, mas qualquer filme serâ melhor que "Mouse trap". Mesmo não tendo o melhor do elenco inglês, oa atores aqui estão decentes. Mas o melhor é a excelente locação de um parque de diversões em Liverpool, no pier. A bizarrice aqui é que, além de um
assassino que usa uma máscara trash do Mickey, tem também o mesmo Ursinho Pooh dos slashers "Sangue e mel". Eles são crias de um cientista naluco que quer reconstruir um corpo de mulher e para isso, manda os dois matarem frequentadorea de um parque de diversões (aonde mais?). O Mickey assassino é uma mistura de Joker e Art de "Terrifier", inclusive uma cena ele mata uma mulher em cena estendida e gore no mesmo estilo da morte da mulher no quarto de "Terrifier 2". É um
filme ruim, mas assistível e tem boas cenas de gore.
Mortadela
"La mortadella", de Mario Monicelli (1971)
Clássica comédia italiana dirigida pelo mestre Mario Monicelli, "Mortadela" continua muito atual em sua crítica ácida à política de imigração para quem chega de viagem aos Estados Unidos e precisa passar por um périplo kafkaniano ainda na alfândega do aeroporto. Com cenários construídos nos Estúdios Cinecittá de Roma ( impressionante, por sinal), o filme apresenta Maddalena (Sophia Loren) , uma funcionária de fábrica de salames em Roma, que decide viajara para Nova York para encontrar seu noivo italiano Micheli (Luigi Poiette), que foi trabalhar em terras americanas. Ela traz consigo uma peça de mortadela, doada pelos ex colegas da fábrica onde Micheli trabalhava. Mas a alfândega a proíbe de entrar no país com a mortadela, alegando que pode trazer doenças que contaminem os americanos. Irritada e se negando a se desfazer da mortadela, Mortadela decide enfrentar as leis e se torna matéria na mídia, muito por conta do ambicioso jornalista americano Jock (Willian Davane).
O filme traz pautas bem atuais ao filme, principalmente em relação ao empoderamento feminino. A personagem de Sophia Loren começa o filme toda romântica e viaja para se casar. Vários homens a seduzem, mas no final ela entende que antes só do que mal
acompanhada. Susan Sarandon e Danny de Vito fazem participações ainda em início de carreira.
A intrusa
"A intrusa", de Carlos Hugo Christensen (1979)
Adaptado de conto de Jorge Luis Borges e com
trilha de Astor Piazolla, foi rodado nos pampas de Uruguaiana, Rio Grande do Sul. O filme ganhou 4 Kikitos em 1980 no Festival de Gramado: direção, melhor ator para José de Abreu, fotografia de Antonio Gonçalves e melhor trilha. O filme ainda hoje é um exemplar de cinema lgbt ousado, trazendo no subtexto temas tabus como poligamia e incesto, e ressalta o cotidiano machista e misógeno da população masculina dos pampas. Um filme de poucos diálogos e de belas imagens, com um
ritmo lento e contemplativo, a história apresenta os irmãos Eduardo (Arlindo Barreto) e Cristiano Nilsen (José de Abreu). Ambos moram sozinhos na fazenda. Um dia, Cristiano se casa com Juliana (Maria Zilda Bethlem), uma mulher que se mantém calada e servil. Ela mantém um relacionamento de poliamor com os irmãos, mas a presença dela desestabiliza emocionalmemte as vidas de Eduardo e Cristiano. Assistindo ao filme nos dias de hoje, incomoda e muito a forma como a mulher é retratada no filme. Certamente fosse lançado nos dias de hoje, o filme suscitaria muitos debates calorosos. Por ter sido lançado nos anos 70, é importante frisar e rever o filme historicamente e entender que é um regiatro cultural de uma sociedade machista. O cinema de Carlos Hugo Christensen é de sensaçøes, com lindas imagens e um tempo estendido, um olhar documental sobre o cotidiano. Doloroso, cruel, trágico, com ótimas performances do elenco.
O menino e o vento
"O menino e o vento", de Carlos Hugo Christensen (1967)
Clássico do cinema brasileiro, "O menino e o vento" é adaptação de conto escrito por Aníbal Machado, feita por Millôr Fernandes. um raro exemplar de cinema queer brasileiro dos anos 60, o filme foi dirigido pelo cineasta argentino Carlos Hugo Christensen e filmado na cidade mineira de Visconde do Rio Branco. O filme é um drama com toques de realismo fantástico e apresenta José Roberto (Enio Gonçalves), um engenheiro que é obrigado à retornar para uma cidade do interior para responder por um processo criminal. Bonito, ele é objeto de desejo de mulheres e gaus enrustidos. Ele é acusado de ter matado o adolescente Zeca da Curva (Luis Fernando Ianelli), um jovem sedutor que traz consigo o vento. Zé Roberto nega a acusação. O filme vai para flashbacks para entender o relacionamento dos dois, que a população acredita ter sido sexual.
Um filme corajoso e repleto de imagens homoeróticas e diálogos no subtexto que deixa clara a homossexualidade de alguns personagens, "O menino e o vento" é elegante, belamente fotografado em preto e branco e me fez lembrar de "De repente, no último verão".
Spring roll dream
"Spring roll dream", de Mai Vu (2022)
Premiado curta de animação inglês, concorreu no Festival de Cannes e SXSW. O filme é dirigido pela cineasta vietnamita inglesa Mai Vu, e escrito por Chloe Mai White, que nasceu na Cingapura. Por serem jovens e asiáticas, elas dividem o mesmo conflito geracional e cultural ao desenvolver esse comovente filme. Linh é uma vietnamita que migrou para San Francisco. Seu filho nasceu nos Estados Unidos. Lihn sempre teve o desejo de se considerar como uma americana, abdicando de toda a sua história cultural. Quando seu pai já idoso decide visitá-la, ela pede para que ele nao insista em colocar na cabeça de seu filho sobre a história de seu país. Quando o pai decide fazer pro almoço o tradicional spring roll vietnamita, sua filha o proíbe, dizendo que o filho só come comida ocidental. o pai fica magoado.
Um lindo filme, comovente e com animação tecnicamemte bem feita com bonecos. Tendo como pano de fundo a manutenção e a importância das tradições, o filme faz um belo registro de comunicação entre três gerações.
sábado, 12 de abril de 2025
Cupido confuso
'Cupido confuso", de Fernando Merinero (2025)
Escrito e dirigido pelo espanhol Fernando Merinero, "Cupido confuso" foi rodado em Madri e nas cidades madrilenas de Pozuelo de Alarcón e Griñón. Tivesse sido filmado por LAmoodvar nos anos 80 ou 90, o filme seria um cult divertido e galhofeiro. Mas dirigido pela mão pesada de Fernando Merinero, esse drama que quer ser comédia discute gêneros sexuais e desejos entre personagens de diversas gerações, vivendo uma vida de repressão e tabus. Mas o excesso de personagens e a baixa qualidade técnica na fotografia e no elenco que traz bastante amadores, por mais que traga diversidade no elenco, compromete bastante o resultado final. E pasmem, o filme tem 125 minutos!!!
Nico (Mario Larce) é um jovem que mora com seus pais, Elisa (Alejandra Grepi) e Javier (Miguel Ángel Solá). Nico não aguenta mais morar com seus pais, e deseja morar na casa de sua amiga, Raca (Lola Roncola), por quem ele sente paixão. Ele conhece o irmão mais novo de raca, Leo (Diego Bergmann), que está tomando hormônio para se tornar uma mulher. E acaba que Nico se apaixona pela persona feminina de Leo.
O filme traz diversos personagens que quetsionam a sua sexualidade, e um dele sterminará de forma trágica. É arrastado, sem carisma, o espectador acaba não se apaixonando por nenhuam história, pois falta alma. Uma pena, pois poderia ser uma divertisa história discutindo abertamente transições e desejos.
sexta-feira, 11 de abril de 2025
Tudo o que podia ser
"Tudo o que podia ser", de Ricardo Alves Jr (2024)
Selecionado para o Festival do Rio 2023, o documentário mineiro "Tudo o que podia ser" pega emprestado no título a música de Milton Nascimento, aqui regravada por Coral. O filme mescla documentário e cenas ficcionalizadas, tendo como protagonistas 4 pessoas da comunidade queer: Aisha, mulher trans; que está de mudança para São Paulo e estudar ciências sociais; Além dela, temos Bramma, Igui e Will, pessoas não binárias e uma travesti, cada uma com seus problemas pessoas. Desemprego, intercâmbio para Berlim, homofobia em família. O filme acompanha de forma afetuosa e sem estereótipos, o dia a dia de cada uma delas: sua amizade, seus sonhos, ambições, medos, desejos. Um bom filme que traz o melhor do cinema mineiro, focado em questões sociais, pautas de diversidade de g6enero e racial, vide "Marte um", "Temporada", "O dia em que te conheci".
Maputo Nakuzandza
"Maputo Nakuzandza", de Ariadne Zambaulo (2022)
Co-produzido por Brasil e Moçambique, "Maputo Nakuzandza" é dirigido e co-escrito pela brasileira Ariadne Zambaulo. Estudante da Uff, ela fez intercâmbio para Maputo em 2017, capital de Moçambique, e decidiu que faria um projeto naquele país. Ela se associou à produtora local Mariclô e o resultado é o filme "Maputo Nakuzandza". O filme apresenta cinco histórias, ligadas pela narração de uma radialista da rádio Maputo Nakuzandza, que entre outras notícias, narra a de uma noiva que desapareceu no dia do casamento. Além dessa história, outras quatro mostram como pano de fundo um país em desordem social e econômica, sob o signo do conservadorismo: um homem correndo pela cidade, uma mulher chegando de viagem, um turista passeando, um homem no transporte público. A linguagem utilizada é de naturalismo e às vezes vagueia pelo experimentalismo.
No geral, é um filme de forte cunho antropológico e social, e o espectador fica sabendo mais da capital de Moçambique, seus costumes, habitos e locações adversas. Faltou uma ligação maior entre as histórias, que correm desconexas e aleatórias.
Segredos
"Segredos", de Emiliano Ruschel (2024)
Drama que mescla romance, suspense e policial, "Segredos" é escrito, dirigido e protagonizado por Emiliano Ruschel, artista gaúcho que foi morar em Los Angeles e criar a sua carreira internacional. 'Segredos" é seu sexto filme, e parece um filme realizado durante a pandemia, pois 90 por cento do filme é totalmente centrado no relacionamento do casal Noah (Ruschel) e Naomi (Danni Suzuki) e ambientado na mansão onde moram. O filme tem uma narrativa que trabalha os dias atuais, o flashback quando se conheceram ainda estudantes de Yale e o flashback da noite dos crimes de ambos, o tal "Segredos" do título. Noah é um diplomata suíço e Naomi acaba se casando com ele. Mas é um relacionamento de aparências: frio, sem tesão.
É de se enaltecer o potencial de Ruschel em ser um epreendedor e produzir os seus filmes, onde dirige e atua, e também, lidando com gêneros. Mas a duração total do filme é exagerada, com 2hrs05 minutos. O filme poderia ter sido contada em pelo menos meia hora a menos. A escolha de favorecer o mercado internacional pode ter sido boa para as vendas, mas exibido aqui no Brasil, com os personagens falando em inglês dentro do Brasil, sôou esttranho, ainda mais que os atores são brasileiros. A quantidade de apoio e patrocínios do filme trouxe qualidade à produção, com cenários e ambientação luxuosas e requintadas.
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Mari
"Mari", de Mariana Turkieh e Adriana Yurcovich (2021)
Documentário argentino que recebeu elogios e também muitas críticas, acusado de ser paternalista e de explorar a miséria dos desfavorecidos.
Maria Luisa Suárez é uma empregada doméstica. Há 30 anos, ela trabalha para a família da diretora do filme, Adriana Yurcovich, e seu marido, ambos de classe média alta e intelectuais. A filha do casal, Maraiana Turkieh, é co-diretora. Ambas sabem muito pouco sobre Maria, apelidado carinhoso. Mas um dia, ela pede ajuda à família: moradora do bairro de periferia Laferrere, na perigosa área de La matanza, Mari dividia a sua vida com seu marido, Oscar. Acontece que durante toda sua vida em conjunto, ele era violento e a situação se tornou insustentável. Ainda criança, Mari cresceu em ambiente de violência doméstica com seu pai. Acuada pelo mundo tóxico machista, Mari acaba sendo hospedada na casa da família, dormindo no escritório de Adriana. Aos poucos, ela recebe asistência, retorna aos estudos, entende mais sobre os seus direitos como mulher. Aos 10 anos de idade, teve que parar de estudar para trabalhar. O filme acompanha a nova rotina de Mari, que agora, vai atrás de tudo aquilo que lhe foi tomado durante a sua vida.
Uma crítica acusou o filme de explorar um olhar classista sobre uma família com alto poder aquisitivo sobre a vida miserável e analfabeta de Mari. Um olhar elistista. não creio que o filme tenha essa visão. É um filem humanista, que acredita no potencial das pessoas, o seu real poder de altruísmo. O desfecho é emocionante, com Mari retornando à sua cidade natal e resgatando a casa que pertenceu aos pais.
Serpentário
'Serpentário", de Carlos Conceição (2019)
Longa de estréia do curta-metragista português Carlos Conceição, 'Serpentário" é uma auto-biografia em formato experimental. Conceição traz uma narrativa que mistura documentário, ficção científica, filme distópico e fantasia para falar de suas origens e da colonização portuguesa em Angola, país que ganhou independência em 1975. Conceição nasceu em Angola em 1979, e logo foi moorar em Portugal. Sua mãe permaneceu em Angola.
Um viajante (João Arrais), alter ego de Conceição, chega em Angola. O mundo está se dissolvendo e o rapaz precisa escutar a voz de sua mãe, que ele não tem mais lembranças. Sua mãe criou um papagaio, que aprendeu a reproduzir a sua voz. O jovem percorre deserto, aldeias, tribos até chegar à ave e escutar a voz de sua mãe.
Obviamente, não é um filme fácil de acompanhar. Se fosse curta, teria tido mais sucesso. O filme é lenro, arrastado, muitas imagens aleatórias das caminhadas do personagem, em belíssimas imagens de Angola. No Imdb, diz-se que a equipe era composta de apenas 3 pessoas. O filme foi
indicado ao prêmio Teddy no Festival de Berlim em 2019, prêmio dedicado a filmes com temáticas lgbt.
O sonho de Clarice
'O sonho de Clarice", de Fernando Gutiérrez e Guto Bicalho (2023)
Premiada animação brasileira que trata de um tema complexo para uma animação infnatil: o luto pela morte da mãe. Clarice é uma menina negra, esperta e inteligente, que mora com seu pai, branco, em uma carroça que cata lixo pela cidade. Seus amigos sao uma pelúcia em forma de tatu e uma amiga da escola, Tetê. O filme aposta em uma linguagem exxperimental e surrealista, repleto de elementos lúdicos e poéticos, que representam o estado de espírito de Clarice. Nao sei o quanto o filme traz apelo às crianças, talvez pelo colorido das imagens e pelos traços artesanais, que são belos. A sua história é simbólica, tem momentos de afeto quando encontra a avó ou o encontro imaginário com a mãe.
Lírios não são para mim
"Lillies not for me", de Will Seefried (2024)
Quando James Ivory lançou 'Maurice", em 1987, o filme imediatamente se tornou um clássico para o público gay, mostrando o quanto a homossexualidade era vista como doença pela sociedade inglesa do início do século XX.
"Lírios não são para mim" é escrito e dirgido por Will Seefried e é uma co-produção Reino Unido, África do Sul, França e Estados Unidos. Assim como "Maurice", também se passa no início do século XX, 1920, na Inglaterra. O jovem Owen James (Fionn O'Shea), romancista, está internado em uma clínica de conversão, que alega curar a homossexualidade. Na terapia, enferneiras são utilizadas para o tratamento, ensinando o paciente a como lidar com uma mulher e cortejá-la. A enfermeira Dorothy (Erin Kellyman) é a responsável para converter owen. Ao decsobrir que ele está escrevendo um livro, ela se mostra interessada, e Owen passa a contar a sua história. Ele morava sozinho em uma cabana isolada, até que um amigo que ele não via há tempos, Philip (Roberto Aramayo), que lutou na 1a guerra, o procura. Logo se tornam amantes. Mas Philip se sente culpado por suas tendências homossexuais e pede ajuda a Owen para curá-lo. Owen se recusa, mas diante da inistência de Philip, o ajuda a praticar um experimento cirúrgico não comprovado. Quando Charlie (Louis Hoffman) surge na cabana em busca de seu pai, ele e Owen se tornam amantes, para ciúmes de Philip.
A trama é melodramática, fazendo o espectador torcer pelo romance de Owen e Charlie. A fotografia, direção de arte e trilha sonora são primorosas. Quem busca um romance gay, vai encontrar aqui todos os elementos para se apaixonar e torcer pelos protagonistas. O filme traz muitas cenas de nudez frontal e homoerotismo. A cena final é belíssima, uma metáfora sobre a libertação e aceitação.
Corpo sem alma
"Telo bez duse", de Wiktor Grodecki (1996)
2o filme da trilogia do cineasta polonês Wiktor Grodecki, sobre garotos tchecos que trabalham na indústria de filmes pornográficos. O filme traz depoimentos de mais de uma dezena de rapazes de várias cidades da República Tcheka, que chegam para Praga para trabalharem como garotos de programa. A maioria é aliciada para trabalhar na industria pornográfica em filmes gays que escalam atores jovens, boa parte menor de idade. Tendo como trilha sonora a música clássica Adágio em G menor, de Tomaso ALbinoni, dando um tom dramático ao filme, o documentário choca pela franqueza dos depoimentos. A que mais choca é quando um rapaz de 16 anos diz que está perdendo espaço entre os clientes com garotos de 11 e 12 anos, pois para os clientes alemães, quando mais novo, mais caro é o programa. Geralmente os rapazes recebem 10 mil coroas por programa, o que corresponde a 35 dólares. Metade do filme é o depoimento do produtor e diretor de filmes pornôs Pavel Rousek, que também trabalha em um necrotério. Ele obriga os garotos a fazerem cenas de sexo sem camisinha, pois os clientes alemães não compram filmes com atores usando camisinha. Um dos atores implora para usar camisinha, com medo de contrair HIV, mas Pavel proíbe, dizendo que se ele não aceitar os termos, não receberá pagamento.
Não é um filme fácil de assistir, Cru, mostrando a realidade brutal dos rapazes, que costumam buscar sua clientela em pontos determinados da cidade: no parque, numa loja de fliperama ou no Riviera, um nigh club famoso. Certamente, os depoimentos dariam para elaborar diversos longas, com muitas histórias dramáticas e barra pesadas.
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Não anjos, mas anjos
"Not angels, but angels", de Wiktor Grodecki (1994)
Polêmico documentário co-produzido pela República tcheca e França, dirigida pelo cineasta polonês Wiktor Grodecki. "Não anjos, mas anjos" inicia uma trilogia, seguida por "Corpo sem alma" e "Mandrágora", que retratam adolescentes tchecos que se prostituem e fazem filmes pornôs na Europa central. "Não anjos, mas anjos" foi lançado em 1994 e é um retrato cruel e devastador de jovens de 14 a 20 anos, vindos de várias cidades da República Tcheca, e que chegam para a capital Praga para dormirem na estação de trem e se prostituírem. Eles são agenciados por um cafetão, que os oferece aos clientes vindos de vários países da Europa, em sua maioria, homens de terceira idade. Os encontros são feitos na própria estação de trem, ou em bares e night clubs. O filme insere trilha sonora dramática ao som de bAchianas No 5 de Villa Lobos, dando um caráter apocalíptico. O próprio cineasta coordena as perguntas feitas aos rapazes. Um deles dá entrevista em uma banheira cheia de sabão, outros na rua, ou na estação de trem. São depoimentos tristes de violência doméstica, de fuga do lar, de evasão escolar. A maioria faz sexo com camisinha, mas admitem o medo da AIds e que se o cliente pagar mais, fazem sem camisinha. Alguns se drogam. Um depoimento de um rapaz é preconceituoso com bissexuais, alegando que eles roubam seus clientes e que ganham em dobro, por fazerem sexo com homens e mulheres. Mike, um garoto Nova Yorquino que migrou com seu pai para Praga, dá depoimento dizendo que fughiu de casa e que sonha em ser um gangster. Um outro, de visual andrógino, é chamado de Miss Jackson, pela sua semelhança com Michael Jackson. Uma cena contundente e rara =, mostrando os rapazes se divertindo e felizes por um momento, é quando todos dançam numa pista de uma boite. As imagens de Praga, ainda sob o efeito do comunismo recém eliminado d apolítica, apresentam uma cidade decadente, triste e desolada.
Fé para o impossível
"Fé para o impossível", de Ernani Nunes (2025)
O cinema brasileiro está numa fase atual de lançar no circuito filmes com histórias sobre a fé, baseadas em crenças e na religiosidade. "Fé para o impossível" é adaptação do livro autobiográfico escrito pelo casal de pastores norte americanos Philip e René Murdoch, “Dê a Volta Por Cima”.
O filme é baseado na história real ocorrida com a pastora norte americana Reneé Murdoch (Vanessa Giácomo), ocorrida no Rio de Janeiro, cidade onde mora com seu marido Philip (Dan Stulbach) e seus 4 filhos. Ao correr no calçadão da Barra da Tijuca, ela foi alvejada com pancadas de madeira na cabeça por um morador de rua transtornado. Passando por uma grave cirurgia craniana, Reneé fica 28 dias internada, com poucas chances de recuperação. Diante da fé do marido, também pastor, e de 3 dos filhos (o maior perde a fé e se revolta), eles ganham apoio da médica interpretada por Juliana ALves, que os faz acreditar que a fé salva.
O filme ganhou apoio no sul do dono da Havan, luciano Hang, e teve boa bilheteria na estréia. É um filme correto e que traz todos os elementos que o público al qual se destina adora em narrativas religiosas: descrença de personagens, anjos em forma de seres humanos ( no caso, a médica), o perdão. além da trilha sonora melodramática e da edição que favorece a dinâmica da tensão. Mas esses filmes não fariam sucesso senão tivessem um elenco que dess ecredibilidade ao martírio dos personagens. Vanessa Giácomo, Dan Stulbach e Juliana Alves são os pontos fortes da narrativa, evitando que o filme se torne uma novela na tela do cinema.
MMA- Meu melhor amigo
"MMA - Meu melhor amigo", de José Alvarenga Jr (2024)
Com roteiro escrito por Marcos Mion e Paulo Curtsino, sob a direção de José Alvarenga jr, "MMA- meu melhor amigo" é um projeto pessoal de Mion, que tem um filho autista. O drama traz referências ao mundo do boxe e de filmes melodramáticos que têm crianças autistas como protagonistas. Sim, você encontrará "O touro indomável", 'Rocky, um lutador", O campeão", além de "Meu filho meu mundo" e "Meu filho, nosso mundo". O filme é repleto de frases de efeito, que dão o tom de redenção ao protagonista, Max Machadada (Mion), um lutador em fim de carreira, por conta de uma lesão no ombro. Se preparando para sua luta decisiva, que irá direcionar ou não a sua carreira para um passo adiante, Max decsobre que tem um filho, Bruno (Guilherme Tavares), e que ele é autista. Ele é trazido pela melhor amiga da mãe de Bruno, Laís (Andreia Horta). A mãe de Bruno é interpreta por Vanessa Giácomo e está com câncer terminal. Max decide procurar seu pai, interpretado por Antonio Fagundes, um ex-lutador que abandonou Max para se dedicar a carreira, para fazer uma reconexão.
O filme pesa no drama com personagens com doenças terminais, crises familiares, questões de abandono familiar, além da questão do espectro autista. Com tantos temas delicados para lidar, o filme acaba se tornando bem dramático, e a fotografia acaba ajudando a dar um tom sombrio à produção. O elenco conta com a ajuda de grandes atores. Além dos citados, tem Augusto Madeira, como o agente de Max e Lucio Mauro Filho. mas o garnde destaque para mim é o ator Hoji Fortuna, no papel do treinador Michel, que faz lembrar o excelente Burguess Meredith, o treinador Michael de Rocky, cujos roteiristas pegaram empretados o nome do personagem.
Um fio de baba escarlate
"Um fio de baba escarlate", de Carlos Conceição (2020) "Um fio de baba escarlate" é um filme totalmente sem diálogos, com um visual totalmente estilizado e teatral que lembra "Querelle", de Fassbinder, com seu desenho de produção lembrando cenários teatrais. O filme tem como protagonista Candide (Matthieu Charneau), um jovem belo e sedutor, que se aproxima das mulheres para depois, matá-las. o Serial killer no entanto, fica famoso e se torna uma celebridade ao encontrar uma jovem suicida que se joga de um prédio e a beija na boca ( quem lembra de "O beijo no asfalto", de Nelson Rodrigues?). Sua vida de assassino agora está sob golofotes constantes de paparazzis, e ele precisa encontrar um meio de colocar sua ânsia por mortes de volta à ativa. O cineasta português Carlos Conceição, desde seus curtas, sempre teve um apreço por linguagem teatral e estilosa, vide seu curta premiado 'Bad bunny". Eu gosto muito do filme, mas os 20 minutos finais me tiraram do foco, quando Conceição decide fazer uma metáfora cristã sobre a figura do assasisno, colocando-o no lugar de Cristo.
Not an artist
"Not an artist", de Alexi Pappas e Jérémy Teicher (2023)
Drama indie americano, "Not an artist" parte de uma premissa interessante, mais apropriada para jovens que se interessam pela arte e pelo processo criativo. A sua premissa lembra muito 'A fantástica fábrica de chocolate": um benfeitor e mecenas das artes, The Abbot (RZA), cria um projeto de residência artística, onde 7 jovens foram aprovados. Eles irão se isolar por 30 dias em uma cabana isolada na floresta, e durante esse período, eles deverão criar algum projeto artístico que eles considerem o máximo de sua expressão artística. Os que conseguirem vencer, receberão um cheque de cem mil dólares. Entre os inscritos, estão Alice (Alexi Pappas), que quer criar um áidio livro juvenil; Wesley (Haley Joel Osment), um artista plástico que deseja pernóstico que quer ser o próximo Van Gogh; Indigo Maya Braithwaite (Cleopatra Coleman) é filha de uma escultora famosa e quer criar seu próprio legado; Dante (Gata) quer ser cineasta e fazer filmes de animação; Claire (Ciara Bravo) ainda não sabe como se expressar; Kimmy (Rosalind Chao), uma professora que quer ser escritora; Christopher (Clark Moore), um poeta das redes sociais.
O filme mescla drama e humor para apresentar cada um dos dos jovens e seu processo criativo, na área pretendida. É um filme que fala mais para quem ama arte e cultura, pois certamente já passou pelas crises criativas e bloqueios. A maior supresa é ver Haley Joel Osment, o menininho de "O asexto sentido", no elenco.
terça-feira, 8 de abril de 2025
Disco's revenge
"Disco's revenge", de Omar Majeed e Peter Mishara (2024)
Documentário que faz uma retratação sobre a importância da Disco music, que surgiu no início dos anos 70 em night clubs de Chicago, Nova York e Filadélfia. O movimento musical reuniu um público gay, latino e negro, trazendo diversidade para as festas hedonistas, com muita alegria, coreografias e figurinos e penteados exuberantes. O filme mostra o fatídico evento que ocorreu no dia 12 d ejulho de 1979, organizado por fàs de rock'n roll, encabeçado pelo Disc joquei Steve Dahl: ele reuniu fãs do rock no estádio Comiskey Park, em Chicago, e pediu que levassem discos de Disco music. Apelidado de Disco demolition night, o movimento, também chamado de "Disco sucks", explodiu milhares de discos, televisionando para todo o país, o que acabou sendo o enterro da Disco music.
O filmme traz depoimentos de cantores, produtores, djs importantes, que viveram a Disco music: Nile Rogers, o ator Billy Potter, além de cantoras de grupos famosos fala da importância para os grupos marginalizados e também para as mulheres negras, que com a Disco music, tiveram seus momentos de estrelato e mídia. Nile Rogers termina dizendo que o movimento foi importante para o Hip hop, a house music, funk e eletrônico, e que a sua parceria com o Daft Punk, "Get lucky", junto de Pharel Willians, foi importante para que novos públicos escutassem a Disco music. O filme ainda encontra espaço para falar como a epidemia da Aids dizimou muitos presentantes da Disco music, como o cantor Sylvester.
Entre fronteiras
"Between borders", de Mark Freiburger (2024)
Drama cristão baseado em uma história real, "Entre fronteiras" é uma produção americana, filmada nos Estados Unidos e em Bucareste, Romênia. O filme começa em um tribunal americabo. A família do Azerbaijão, ex-república soviética, é formada pelos pais Ivan Petrosyan (Patrick Sabongui) e Violetta (Elizabeth Tabish) e pelas filhas Olga e Julia. Eles são refugiados que pediram asilo político, mas seus vistos estão vencidos. Eles encontram apoio com a igreja local. As advogadas de defesa Kate, e a de acusação, Carrie, batalham para decidir o futuro da família ou se devem retornar à Rússia. O filme retorna em flashback, mostrando os problemas étinicos que dizimaram a União Soviética nos anos 80, e como a família teve que fugir para a Rússia e depois para os Eua, sempre perseguidos por xenofobia, pobreza e retaliação.
Atualmente, a família mora em West Virginia. Ivan trabalha na igreja, e Violette trabalha na Universidade ajudando estudantes estrangeiros. É um filme que fala sobre resiliência e determinação,e. claro, na força dos pensamentos cristãos. É um filme correto, boas atuações, mas o que estraga a credibilidade é que atores americanos interpretam a família Petrosyan, e todos falam em inglês no Azerbaijão e Rússia.
Bring it all back home
"Bring it all back home", de Sebastian Pigott (2025)
Drama escrito, dirigido e protagonizado por Sebastian Pigott, "Bring it all back home" é uma produção indie americana, que retrata a melancolia de um homem de 35 anos, Eddie Backus (Piggot). Ex-jogador de beisebol famoso, ele foi consideradoa. estrela na sua ciadde natal, South Chicago. No entanto, quando se acidentou e sofreu uma fratura no joelho, Eddie teve que abandonar o esporte. Ele decide ir embora da cidade e por cinco anos, não manteve contato com ninguém. Agora, Eddie decide retornar à sua cidade, e recuperar os anos da juventude, junto de seus colegas que cresceram junto com ele, além de seu irmão, Elvis. Mas todos estão entregues à sua idade e entre acertos e erros, a maioria se tornou loser.
O filme é melancólico e apresenta uma geração que se perdeu em suas ambições e sonhos de um futuro melhor. Nenhum deles encontrou algo que pudesse dizer sinceramente que encontrou a felicidade. Para quem está com gatilhos depressivos, não é bom assistir ao filme. Correto, com boas performances, o que prejudica é seu ritmo lento e arrastado. As locações áridas e isoladas ajudam a dar um tom de solidão, tal qual o clássico "A última sessão de cinema".
Serei breve no momento de morrer
"Seré breve al momento de morir", de Juan Briseño (2024)
Drama LGBTQIAP+ mexicano, "Serei breve no momento de morrer" faz lembrar de "Cisne negro". Um filme ambientado no universo do ballet clássico, com dançarinos obcecados pela perfeição, às voltas com romance, amizade e traição.
Sebastian (Martin Saracho) é um jovem bailarino que acaba de ser aceito em uma prestigiosa companhia. Ele conhece Arsenio (Jona Kuri), também bailarino, e acabam se apaixonando e morando juntos. Quando um novo coreógrafo, Mikael (Mikael Lacko) assume a companhia, o temor reina entre os bailarinos. Mikael tem uma postura assediadora e tóxica e é muito cruel. Quando Arsenio percebe os olhares atentos de Mikael sobre Sebastian, a relação entre os dois fica abalada.
Um ótimo filme que mescla drama, dança , suspense e erotismo, com muitas cenas de sexo e nudez frontal. Os atores são todos bonitos e talentosos, e o diretor Juan Briseno aproveita ao máximo as imagens homoeróticas. Bela fotografia e um trabalho de câmera que valoriza os corpos masculinos.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Nem herói nem traidor
"Ni heroe ni traidor", de Nicolas Savignone (2020)
Drama argentino ambientado no dramático ano de 1982. O país estava sobre o regime militar e para piorar, os militares decidiram entrar em guerra contra os ingleses, que desde 1833 controlam as Ilhas. Matias (Juan Grandinetti) é um jovem de 19 anos que deseja estudar música. Ele e seu grupo de amigos jogam bola , namoram as garotas e curtem a vida. Eles são dispensados pelo sreviço militar. Mas no dia 2 de abril, o regime militar obriga a todos os jovens, incluindo os dispensados, a se alistarem e entrarem na guerra. Seu pai, Roberto (Rafael Spregelburd) quer que o filho sirva o exército, ao contrário de Claudia (Inés Estevez), que não crê que o filho saberá se virar no front.
É um bom drama, que traz um retrato sobre o fim da inocência, através do testemunho do grupo dos amigos de Matias. Um deles, para não servir, dá um tiro no próprio pé. Juan Grandinetti e os atores que interpretam seus pais fazem um ótimo trabalho, trazendo camadas de amoção para os personagens. É um filme que traz uma época difícil para os argentinos, um registro histórico.
O Maravilhoso Mágico de Oz - Parte 1
"Volshebnik Izumrudnogo goroda. Doroga iz zhyoltogo kirpicha", de Igor Voloshin (2025)
Escrito em 1990 pelo escritor americano L. Frank Baum, "O Maravilhoso Mágico de Oz" deu início ao grande sucesso de "O mágico de Oz", lançado nos cinemas pela 1a vez em 1939 com Judy Garland. Inúmeras versões depois, ele teve uma revisitada no êxito da Broadway 'Wicked", que teve sua versão cinematográfica lançada em 2 partes, iniciada em 2024. Curiosamente, foi lançada em 2025 a versão russa, " O Maravilhoso Mágico de Oz - Parte 1", igualmente dividida em 2 partes. Entre tantas diferenças, o filme russo não tem números musicais e se passa nos dias atuais. A menina Ellie e seu cachorro Totó são levados por um tornado enquanto viajava de carro com seus pais. Ao chegar na Terra de Oz, Ellie descobre que Totó fala. Ela decide ir até o Mágico de Oz, acompanhada de O homem de lata, o espantalho e do leão medroso, enquanto a bruxa Gingema deseja os sapatos que Ellie está calçando.
No filme russo, os personagens mudam de nome "Dorothy vira Ellie", e o filme tem um tom sombrio, escuro. No entanto, os personagens são bem caricatos e a caracterização da bruxa e do povo de Oz é mais teatral. É uma super produção, mas lhe falta encantamento e carisma. É entediante e pra criançada nem acredito que tenham muito interesse.
Los frikis
"Los frikis", de Tyler Nilson e Michael Schwartz (2024)
Que filme triste! Baseado em bizarra história real, o filme é dirigido pela dupla americana Tyler Nilson e Michael Schwartz, que lançou o sucesso indie "The Peanut butter falcon", um comovente drama que mostra a amizade entre um rapaz rebelde, interpretado por Shia Labeouf, e um porrador de síndrome de down.
O filme é ambientado em Cuba de 1991: Fidel Castro baixou um decreto proibindo a divulgação do rock. Uma banda de punk, Los frikis, é obrigada a parar de se apresentar. Os integrantes são dois irmãos órfãos, Paco (Héctor Medina) e Gustavo (Eros de la Puente). O embargo de Fidel aos Estados Unidos deixa as prateleiras vaias e. apopulação passa fome. Os irmãos trabalham como catadores de cana. Quando Paco ouve falar que o governo dá subsídio a portadores de HIV, que fica, reclusos em um acampamento com 3 refeições por dia, Paco faz como muitos civis: se auto injetam com sangue contaminado. Gustavo se recusa a fazer o mesmo que o irmão. Os amigos de Paco dizem que em breve será descoberta uma vacina contra o HIV. Fãs e outros integrantes da banda também se contaminam. Gustavo decide forjar um exame de sangue para estar perto do irmão.
Um filme emocionante que sela a amizade entre dois irmãos, em situação de miséria, "Los frikis"obviamente não poderia ter sido filmado em Cuba. Foi todo rodado na República Dominicana. Todo o elenco é excelente, e o trabalho de direção de arte e fotografia são muito bons. O desfecho é dos mais melancólicos que vi recentemente.
Sugar baby
'Sugar baby", de Lauren Garroni (2024)
Drama erótico com elementos de thriller de suspense, o filme de baixo orçamento indie americano "Baby sugar" retrata o universo das sugar babies, jovens que vendem seu corpo para os caprichos de homens mais velhos e milionários, que não pensam duas vezes ao oferecer uma fortuna para horas de sexo e luxúria com a jovem. O filme faz lembrar, guradadas as devidas proporções, de "Anora" e "Pisque duas vezes".
Marie (Maria Beth Barone) mora com seu melhor amigo, Eddy (Theo Germaine), um homem trans. Marie tem uma cartela de clientes ricos com quem ela dorme e ganha presentes caros. Quando um homem, Jeff (James Tupper) a procura, oferecendo 30 mil para ficar com ele em sua mansão por 1 semana, Marie não pensa duas vezes. No início, ela vislumbra sexo e glamour. Mas com os dias passando, ela suspeita de Jeff de que ele matou uma jovem que ela viu circulando por ali e depois desapareceu.
O filme cumpre o que promete, é correto, mas não é perfeito por conta de performances medianas. Tivesse melhores atores, o filme teria um alcance bem maior, pois a trama é boa e, escrito, dirigido e protagonizado pro mulheres, dá o troco em homens tóxicos.
Happy hour - Verdades e consequências
"Happy hour", de Eduardo Albergaria (2018)
Co-produção Brasil Argentina, e filmada no Rio de Janeiro (boa parte no bairro da Urca, onde fica localizada a produtora Urca filmes). O filme é dirigido por Eduardo Albergaria, mesmo cineasta do sucesso 'Nosso sonho". O filme acompanha o casal Horácio (Pablo Echarri), um argentino que é professor de literatura, residente no Brasil há 15 anos. Ele é casado com a deputada Vera (Letícia Sabatella) com quem tem um filho pequeno. Horacio é sedutor e cede aos impulsos de uma aluna. Horácio diz à Vera que não quer mais um relacionamento monogâmico. Vera entra em crise e quando pensa em largá-lo, surge um evento bizarro: Horácio detém por acidente um criminoso, um homem vestido de aranha que assalta residências. Ele é visto como herói, e esse fato pode ser benéfico para a campanha da vereadora.
O filme, apesar de ser lançado como comédia romântica, tem um tom melancólico e o drama está bem presente. O elenco conta com as participações de Rocco Pitanga, Chico Diaz, Juliana Carneiro da Cunha e Marcos Winter. As belas locações rodadas na Urca enchem as imagens com beleza natural da cidade carioca.
domingo, 6 de abril de 2025
A extorsão
"La extorsion", de Martino Zaidelis (2023)
O cinema argentino tem realizado filmes que buscam se comunicar com um público mais acostumado a produções americanas. 'A extorsão" poderia facilmente ser um filme americano com algum grande astro protagonizando, como Tom Hanks ou Denzel Washington. É uma trama de suspense, com direito a plot twist, envolvendo amizade, traição, espionagem, serviço de inteligência e conspiração. O protagonista é o excelente ator Guillermo Francella, que esteve em "O clã", "O roubo do século", "O segredo de seus olhos", "Minha obra prima" e o hilário 'Coração de leão".
Ator versátil, Francella é Alejandro, um piloto de avião prestes a se aposentar. Quando agentes de inteligência descobrem que Alejandro esconde uma deficiência auditiva que o impediria de trabalhar, Alejandro é obrigado a transportar malas secretas até a Espanha em seus vôos. Mas ao mesmo tempo, ele é procurado pelo Departamento da Polícia Federal de Buenos Aires que quer que Alejandro os ajudem a desbaratar os agentes corruptos que o procuraram. Alejandro se vê envolvido em uma trama complexa, que pode acarretar mortes de pessoas próximas, entre elas, sua esposa Carolina, comissária de uma empresa aérea concorrente.
Guillermo é um ator carismático e sua presença já é motivo de assistir ao filme. Fora isso, a trama funciona bem, com o espectador tenso querendo entender como Alejandro irá sair dessa grande confusão. Boa direção, edição dinâmica e uma trilha sonora que mantém a adrenalina pulsante. Em algun momentos o filme traz um humor, lembrando os thrillers de espionagem de Hitchcock.
O duelo
"El duelo", de Augusto Tejada (2023)
Fiquei chocado quando assisti a essa comédia de ação argentina: é exatamente igual ao brasileiro "Não tem volta", com Rafael Infante e Manu Gavassi. Procurei por matérias que comentasse sobre quem foi o original, se o brasileiro ou o argentino, e não encontrei. E por isso, assistir ao filme foi protocolar, pois eu já sabia do plot twist e de como iria acabar.
Ernesto (Joaquim Furriel) é um contador que vive uma vida burocrática com sua esposa. Um dia, ao retornar para casa mais cedo, a encontra traindo com um homem na cama. Desesperado, Ernesto vai beber em um bar, mas é abordado por um homem que lhe oferece os serviços de uma empresa de assassinos de aluguel. Ernesto contrata a empresa para que o matem. O serviço é fechado, e ele tem cinco dias para ser morto. No bar, Ernesto conhece uma jovem, Rita (China Suarez) e ambos se apaixonam. Ernesto quer cancelar o contrato, mas é impossível, não tem volta.
A direção do filme traz cenas estilosas, com câmera criativa e edição esperta. Os atores são divertidos e entram no clima de uma comédia de humor ácido, estilo irmãos Coen. Um filme argentino diferente do que se tem feito por lá. As cenas de ação são bem feitas e bem produzidas com Cgi competente e crível.
Till then, Hannah!
"Sampai Nanti, Hanna!", de Agung Sentausa (2024)
Drama co-produzido pela Indonésia e Holanda, "Till then Hannah!" poderia ser visto como um remake de "É assim que acaba", grande sucesso com Blake Lively sobre uma mulher que vive um relacionamento abusivo.
Nos anos 90, os estudantes Gani e Hannah se conhecem e se tornam grandes amigos. Gani, no entanto, nutre paixão platônica pela colega, mas não tem coragem de assumir. Hannah passou por uma turbolência em sua vida após um relacionamento conturbado. Ela se casa com Arya, para tristeza de Gani. Uma década depois, os dois se reencontram. Hannah tem um filho de 10 anos, mas revela viver um relacionamento tóxico e violento com Arya.
É um bom filme, com bons atores, mas a sua extrema semelhança com o filme de Blake Lively faz "Till then , Hannah!" se trnar bastante óbvio. Tudo acontece praticamento igual ao flme americano. Mas vale assistir pela beleza das locações e pelo bom trabalho do elenco.
A regra de Jenny Pen
"The rule of Jenny Pen", de James Ashcroft (2024)
Vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Sitges 2024, dividido entre seus astros John Loghtgow e Geoffrey Rush, "A regra de Jenny Pen" deve seu merecimento ao trabalho impecável dos atores, que segundo a crítica, relembra o embate entre Bette Davis e Joan Crawford em "O que teria acontexcido a Baby Jane?".
O filme é um thriller de suspense psicológico ambientado em uma clínica de repouso para idosos. Ali, o ex-juiz Stefan (Geoffrey Rush) passa a residir, após ter um derrame durante uma sentença em um tribunal. Outrora poderoso e cínico, Stefan não quer aceitar a sua nova condição e reluta em permanecer no local. Ele conhece diversos residentes, entre eles, Dave (John Lightgow), um paciente que reside ali há décadas. Dave se mostra um psicopata sádico, que durante a madrugada, tortura os outros pacientes. Os funcionários do local estão alheios às maldades de Dave, e quando algum residente o acusa, os funcionários não acreditam,
O filme tem um ritmo lento e pode aborrecer quem procura um suspense dinâmico e assustador. É um show de talentos, que lembra "Um estranho no ninho", e que traz elementos supostamente sobrenaturais, através da boneca Jenny Pen, pertencente a Dave. Mas faltou sustos e um clima mais assustador.
Art Attack! The Dissection of Terrifier 3
"Art Attack! The Dissection of Terrifier 3", de John Campopiano e Gary Smart (2024)
Documentário que traz depoimentos da equipe, elenco e bastidores do slasher “Terrifier 3”, escrito e dirigido por Damien Leone, um efeitista de próteses FX que decidiu se tornar cineasta e ficou mundialmente famoso com o seu personagem Art, the clown, um palhaço sádico e sanguinário criado por ele.
O filme cita os filmes anteriores e o curta que originou Art the clown. Leone e os produtores do filme comentam a dificuldade de realizar o 1o filme, feito com um orçamento mínimo e rodado com apoio de amigos e familiares. O 2o filme já tece um orçamento um pouco maior e foi um enorme sucesso de bilheteria, o que fez com que a parte 3 tivesse um orçamento de filme Blockbuster. Daniel pôde agora contratar toda uma equipe top de efeitistas práticos, que trabalharam com os irmãos Coen e outras premiadas produções. Os atores Elliot Fulam e Lauren Lavela, que interpretam os irmãos Jonathan e Sienna Shaw, dão depoimentos sobre o quanto o filme foi importante para as suas carreiras e como amam participar de convenções com público presente. A equipe também dá depoimentos: a assistente de direção, o fotógrafo, toda a equipe de efeitos, produtores, o próprio diretor Damien Leone. É unânime por parte da equipe citar o quanto Leone é perfeccionista e ama o seu ofício. O filme reserva truques de como foram realizados muitos dos efeitos totalmente práticos (Leone se recusa a usar CGI), apresentando sem cortes as cenas extreme gore. A melhor parte é quando Leone cita as suas referências cinematográficas, como “It, a coisa”, um episódio de “Twilight zone”que envolve um palhaço, a pantomina de Harpo Marx, “Maniac” e alguns curtas de terror envolvendo o papai Noel. A grande estrela da franquia, o ator David Howard Thornton cita que suas inspirações vêem de todos os vilões clássicos e que Art, the Clown, é um pouco de cada um deles: Pennywise, Mike Myers, Jason, Freddy Krueger.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Chasing unicorns
"Ükssarvik", de Rain Rannu (2009)
Comédia dramática realizada na Estônia, ‘Chasing unicorns” é co-escrito e dirigido por Rain Rannu. O filme começa com uma cartela explicando o significado do termo “Unicórnio”, pela wikipedia: um animal mitológico ou uma startup avaliada em mais de 1 bilhão de dólares. Segundo o filme, a Estônia é um dos países com maior quantidade de startups do mundo, com mais de 500, sendo que delas, 4 são unicórnios.
Oie (Liisa Pulk) é uma contadora que ao ser demitida, decide colocar adiante a sua idéia de produzir capacetes de bicicleta desenhados por ela. Ela se une ao fracassado Tony (Henrik Kalmet), que tenta criar startups, mas nunca as leva adiante, sendo que a última empresa em que trabalhou, foi à falência por causa de seus gastos exorbitantes e cujo resultado não trouxe clientes interessados. A dupla tenta a todo custo conseguir financiamentos para a sua empresa, passando por grandes dificuldades, e com uma possibilidade de fechar negócios, seguem até Palo Alto, Vale do Silício Califórnia.
O filme começa em, em tom leve e divertido e com personagens carismáticos e losers. Mas ao longo do filme, torna0se cansativo, se arrastando por termos e situações extensas, com entrada de diversos novos personagens e um acréscimo de tom dramático. No geral, é um bom filme, mas que poderia ter mantido seu tom de comédia sobre losers.
Para uma terra desconhecida
"To a land unkowm", de Mahdi Fleifel (2024)
Trágico e angustiante drama grego sobre refugiados palestinos que moram em Atenas em situação de miséria. A maioria vive como ladrão, traficante e fazendo serviços sujos para a própria comunidade. Chatila e Rada são primos, fugidos do Líbano com o sonho de viajarem até a Alemanha e atirem um café. Mas para isso, precisam de passaportes. Chatila é casado e tem um filho, que moram em um acampamento no Líbano. A mãe de Reda está doente. Os dois vivem de roubos que praticam nas ruas de Atenas. Um dia, encontram Malik, um menino de Gaza, órfão, que tem o sonho de ir até a Itália. Chatila conhece Tatiana, uma mulher grega alcoólatra, e propõe à ela que vendam o menino para algum atravessador europeu e assim, dividirem o dinheiro. Rede não resiste às pressões da marginalidade e se droga com heroína e faz programa com gays no parque para faturar um dinheiro. O filme tem como base o clássico de John Schlesinger, “Perdidos na noite”, com John Voight e Dustin Hoffman. É um filme depressivo, sobre pessoas destinadas à miséria e que não encontram solução para a sua situação desumana. Um excelente trabalho de todo o elenco, com uma direção impecável de Madhi Feifel.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Zé
"Zé", de Rafael Conde (2023)
"Ainda estou aqui" foi um grande sucesso mundial de crítica e público e abocanhou o Oscar de filme internacional. 'Zé" trata do mesmo tema da ditadura no Brasil. No entanto, a abordagem visual, estética e narrativa são gritantes. O filme de Walter Salles tinha um orçamento de blockbuster. 'Zé" é um filme indie, e portanto, toda a tensão política é retratada de forma minimalista. Ao invés do público ver, ele escuta. Verborrágico, o filme de mais de 2 horas acontece em interiores na maior parte do tempo, e todas as ações militares, policiais, movimentos estudantis, são dialogados, mas nunca visto. O filme conta a história real do líder do movimento estudantil de Minas Geraus José Carlos Novais da Mata Machado (Caio Horowitz). Aluno da Faculdade de Direito da UFMG, Zé foi presidente do centro acadêmico da unidade, promovendo debates e passeatas e por isso, alvo dos militares. Filho de classe média alta, Zé conhece sua namorada Bete (Eduarda Fernandes), com quem tem 2 filhos. Gilberto (Rafael Protzner), irmão de Bete, é aceito como militante na clandestinidade de Zé, mas depois é revelado como agente do regime militar.
O filme tem um ritmo muito lento e as performances sõam teatrais e com falas bem marcadas. A proposta do diretor traz um cinema de guerrilha, com jovens talentos no elenco, com destaque para Caio Horowitz, um dos melhores atores da nova geração.
About family
"About family", de Woo-seok Yang (2024)
Drama feel good movie sul coreano, "About family" é ambientado no ano de 2000, antes das redes sociais. Na cidade de Jongno-gu, Seul, Moo-ok (Kim Yoon-seok) é um homem de terceira idade famoso pelo seu restaurante, que serve os melhores dumplings da região e por isso, formando filas de clientes. Moo-ok está irritadiço: seu único filho, Moon-seok (Lee Seung-gi), preferiu se tornar um monge budista do que continuar tocando o restaurante. Sem herdeiros, Moo-ok está preocupado com a continuação de sua linhagem familiar. Duas crianças, Min-seok (Kim Si-woo) e Min-seon (Yoon Chae-na), aparecem no restaurante de Moo-ok, alegando que Moon-seok é seu pai biológico. A mãe faleceu, e Moon-sek fez uma doação de esperma quando estudava na faculdade. Moo-ok fica esperançoso de que as crianças possam ser as suas herdeiras do restaurante.
Um filme simpático, "About family" é como seu título deixa bem claro: um drama familiar, com toques de humor e de melancolia. O elenco todo é excelente, a história é boa. O ritmo fica lento algumas vezes, mas o carisma das crianças e a diversão entre o embate pai e filho garantem o interesse.
Útero
"Womb", de Bridget Smith (2025)
Escrito por Mike Walsh e dirigido por Bridget Smith, "Útero" é um suspense gore que me fez lembrar de "A invasora", de Julien Maurye e Alexandre Bustillo, um terror extremo francês sobre uma psicopata que deseja o feto de uma grávida. Em "Útero", uma ex-viciada, Hailey (Taylor HAnks), está gra'vida de seu namorado, Raymond (Myles Clohessy). Ele a leva para passar um final de semana na cabana de sua irmã, Marta (Ellen Adair), isolado na floresta. Raymond vai embora e deixa as duas sozinhas. Um homem camuflado espreita a região, no intuito de roubar o feto de Hailey.
As mulheres precisam aprender a se defenderem sozinhas para evitar que o pior aconteça.
O filme só funciona de fato a partir da metade em diante, quando traz o suspense. Trazendo elementos de slasher e mortes violentas, "Utero" é um filme de sobrevivência, que traz um plot twist no desfecho. Nao é muito original, mas tem seus momentos de tensão.
Augânico
"Auganic", de Krit Komkrichwarakool (2024)
Um casal gay, Nick (Kenny Brain) e Kai (Matt Dejanovicz). Eles estão com problemas financeiros, e estão na possibilidade de terem que vender a fazenda. Durante uma relação sexual, Kai ejacula um esperma amarelado. Ao levar a um laboratório, os cientistas ficam pasmos e encantados, e decidem abrir um seminário para avaliarem o esperma. Durante o seminário, Kai precisa ejalucar para que os presentes possam avaliar e discutir o esperma. Enquanto tenta se concentrar para ejacular, Kai relembra em flashback o que o levou até ali: a pressão de Nick pelo dinheiro que os cientistas irão pagar, a suposta fama que ele terá e a possibilidade de uma crise no seu casamento.
Produção canadense, "Augânico" traz elementos de drama e romance e boas performances dos atores principais, que são talentosos e bastante fotogênicos. O filme é uma metáfora sobre relacionamentos estáveis e que sucumbem à pressão da crise financeira.
Belle salope
"Belle salope", de Philipe Roger (2009)
Curta Lgbtqiap+ francês, "Belle salope" mistura drama, humor e erotismo para apresnetar Cedric (Florent Gouelou(, um jovem garoto de programa malandro. Quando ele está na casa de um cliente que curte sexo bondage, a mãe de Cedric liga para ele, querendo que ele vá vê-la imediatamente, Cedric está sem dinheiro para comprar flores para a sua mãe, e decide fazer atendimentos com clientes para poder comprar, atravessando toda a PAris para chegar na casa de sua mãe.
O filme poderia ser um "Corra, Lola, Corra", cult alemão, apresentando o personagem em sua peregrinação pelas ruas de Paris. Divertido e cheio de malícia, com um ótimo ator protagonista, e lindas imagens de Paris.
Você está livre hoje à noite
"You are free tonight", de Will Bottone (2024)
Curta Lgbtqiap+ inglês, "Voc6e está livre hoje à noite" traz o drama de um adolescente de 16 anos, Archie, que passa a descobrir a sua sexualidade e seu interesse por homens. Com medo que sua mãe descubra que ele é gay, Archie baixa um app de pegação e marca encontro com homens/ Archie acaba se ornando viciado nos relacionamentos fúteis, baseados em sexo. Quando ele baixa um app de namoro, ele marca um encontro em um bar. Quando o rapaz vai ao banheiro, Archie o segue, achando que fará sexo no banheiro. Mas o rapaz o repele, frustrado que Archie queira apenas sexo e não um relacionamento real. Archie repensa o que realmente ele deseja com um outro homem.
Um filme em tom realista, com ótima performance do jovem Jake Doyle no papel principal, é um filme que faz uma crítica à cultura dos app e dos relacionamentos fáceis.
Sala escura
"Sala escura", de Paulo Fontenelle (2024)
O cineasta e roteirista Paulo Fontenelle é conhecido pelas suas comédias e documentários. Porém, seu 1o longa, "O intruso", era uma experiência no gênero thriller, e agora com 'Sala escura", Fontenelle coloca seu apreço ao terror em um slasher que traz uma história já vista no argentino "Mortes na matineé" (2020) e no italiano "Demons, os filhos das trevas" (1985), porém com um sabor bastante brasileiro. Para se ter uma idéia, o serial killer veste um figurino de pierrô, e na trilha sonora toca uma marchinha de carnaval.
Nove pessoas são convidadas para uma pré estréia de um filme no cinema Odeon. A sala está vazia, e somente um atendente os recebe. Ainda assim, os 9 espectadores permanacem na sala. Assim que a sessão começa, o filme é trocado pela imagem da namorada de um dos espectadores, amarrada e torturada, tendo a sua orelha arrancada por uma figura misteriosa. Todos correm para ir embora, mas as portas estão trancadas. um a um, vai sucumbindo ao assassino, que tem uma motivação para os crimes.
O elenco, majoritariamente jovem, é formado por talentos como Allan Souza Lima, Luiza Valdetaro e Tainá Medina. A fotografia é de Dudu Miranda. Para quem curte um bom slasher, talvez reclame do ritmo lento e das mortes que acontecem em sua maioria off screen. Mas é inegável que ter slasher 100% brasileiro é sempre motivo de comemoração.
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