sexta-feira, 19 de julho de 2019
O bar luva dourada
“Der goldene Handschuh”, de Fatih Akin (2019)
Impressionante como o Cineasta turco Fatih Akin conseguiu reproduzir a atmosfera sórdida e suja da Alemanha do início dos anos 70, descrita em muitos filmes do cineasta Fassbinder em inicio de carreira. A fotografia, a direção de arte, o figurino e principalmente a maquiagem, aliados à performances espetaculares do elenco, que entendeu a proposta do filme e deram vida a personagens que passeiam pelo teatral, fazendo uso de trabalho de corpo, voz e muita visceralidade, sem constrangimentos em cenas de extrema violência e nudez.
“O bar luva dourada” remete a um cult obscuro alemão, chamado “A ternura dos lobos”, de 1973. O filme é baseado na história real de Fritz Haarman, o assassino conhecido como "vampiro de Düsseldorf" que matou dezenas de garotos, abusou sexualmente e depois os devorou e serviu de inspiração para o clássico "M - O Vampiro de Düsseldorf", de Fritz Lang. Fatih Akin provavelmente se inspirou nesse filme, que parece até uma refilmagem. O filme conta a história real do serial killer Fritz Honka ( em interpretação magistral de Jonas Dassler, debaixo de kilos de maquiagem e próteses). De 1970 a 1974, ele assassinou várias mulheres, a maioria vítimas da sociedade: mendigas, idosas, sobreviventes do holocausto, alcóolatras e drogadas. Vítima de um acidente que o desfigurou, Honka é uma figura asquerosa, suja, e que leva essas mulheres ao seu apartamento fétido. Impotente, ele acaba matando as mulheres porquê coloca nelas a culpa de não poder fazer sexo. Ele as esquarteja e esconde os pedaços dos corpos em um alcap’ão de seu apartamento.
O filme apresenta personagens que em sua maioria, são remanescentes de uma Alemanha derrotada pelas 2 guerras mundiais: uma geração perdida, sem futuro, humilhada e sem ambições. Esse é o foco do filme de Fatih Akin, que choca pela crueza das cenas ( esquartejamento, decapitação, etc), pela forma desumana como retrata o ser humano, algo semelhante a “Saló”, de Pasolini, onde uma vida não vale absolutamente nada. O sumiço dessas pessoas provavelmente não farão diferença à sociedade, aos familiares, ninguém. O filme, por incrível que possa parecer, é repleto de humor negro, e a plateia ria em dezenas de vezes ao longo da projeção. Mas é um riso perturbador, pois rimos da desgraça dos outros.
O filme possui muitas cenas antológicas, em especial, a da sequência onde Honka vai trabalhar como guarda noturno. Um primor.
É curioso notar também que AKin se apropria do gênero terror: em muitos momentos, existem "Jump scares" inesperados, que nos fazem dar pulos na cadeira.
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