quinta-feira, 25 de julho de 2019

A Serpente

“A Serpente”, de Jura Capela (2016) O Cineasta pernambucano Jura Capela se associou ao Pólo de Cinema de Barra do Piraí e realizou um filme de imensa força imagética e dramatúrgica: a adaptação de “A Serpente”, último texto de Nelson Rodrigues, lançado em 1978. Assim como o Ator e Cineasta Murilo Benício, ambos resgataram Nelson Rodrigues para o Cinema, mas sem esquecer a essência do Teatro. Fazendo uso da metalinguagem, alternando Teatro com realismo, tanto “O beijo no asfalto” quanto “A serpente” contam muito com a ajuda preciosa da fotografia em preto e branco, aqui de Pablo Baião, quanto do talento dos atores. Lucélia Santos, que já protagonizou diversas anti-heroínas de Nelson nos anos 80, agora retorna em 2 papéis: o das irmãs , agora gêmeas, Lígia e Guida. Diferentes em personalidade, Lígia casou com um homem impotente, Décio, que acabou tendo caso com a lavadeira. Sua irmã Guida, casada com Paulo (Matheus Nachtergaele, simplesmente endiabrado e brilhante), pede para que ele deflore Lígia, que ainda é virgem. A partir daí, o ciúme toma conta das irmãs, e o texto, como em toda obra de Nelson, termina em tragédia. Jura trouxe a narrativa para algo que parece final do Séc XIX, muito por conta de figurinos que até trazem Lucélia para o Universo da Escrava Isaura, com vestidos e corseletes. Mesmo assim, esse tempo não é claro, pois em uma cena, vemos globo de ouro em um Cabaret com músicos com instrumentos modernos. A estilização dos enquadramentos, alternando em marcação teatral com o uso do foco da câmera do cinema, conferem ao filme uma textura autoral, mas nada hermética. Para aficionados por Teatro, o filme é um deleite. Para os amantes do Cinema, o filme é totalmente cinematográfico. Lucélia Santos é um grande retorno de Atriz. Há tempos sem frequentar a tela grande ( Acredito que a última vez que a vi, foi em “Casa Grande”, do Felipe Barbosa), Lucélia nos faz lembrar de quão extraordinária é o seu trabalho em cena: Furiosa, animalesca, e claro, totalmente Rodrigueana.

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