quarta-feira, 10 de julho de 2019
Neville D’almeida- Cronista da beleza e do caos
“Neville D’almeida- Cronista da beleza e do caos”, de Mario Abbade (2018)
O crítico de cinema de O Globo Mario Abbade estréia na direção com um documentário que já começa fazendo referência a um dos filmes chaves da história do Cinema: “Apocalipse Now”, de Coppola. Com a câmera adentrando o que parece ser um rio ladeado por floresta, como se estivéssemos entrando no Camboja, e tocando ‘Cavalgada das Valquírias”, de Wagner, Mario nos convida para entrar na casa de Neville D’almeida, morador da Ilha da Gigóia, Rio de Janeiro.
Neville é um dos Cineastas mais controversos e polêmicos da filmografia brasileira, e segundo o próprio, o mais censurado da história. O filme é composto de imagens de arquivo e entrevistas com Cineastas, atores, produtores, roteiristas, montadores, distribuidores, críticos e todo um rol de pessoas que têm muito o que falar desse “Enfant terrible” tupiniquim. Uma das imagens de arquivo mais contundentes, e que assustadoramente nos remete ao Brasil de hoje, apresenta parte da equipe e elenco de “Rio Babilônia’ discutindo com políticos e censores na época da ditadura em Brasília. O Governo exige cortes no filme, e Neville se recusa. A Atriz Denise Dumont diz uma frase categórica: “Você consegue imaginar uma pintura sem uma parte, uma sinfonia sem uma estrofe?”
O filme avança cronologicamente a filmografia de Neville, indo dos seus primeiros filmes experimentais, até o que ele chama ser seu primeiro filme comercial, falando do seu desejo de querer falar para um público maior. Foi assim que veio Nelson Rodrigues na vida de Neville, e “A Dama do lotação”, até hoje, a quinta maior bilheteria da história do cinema brasileiro. Ouvir as pessoas falarem de “A dama do lotação”, de “Os 7 gatinhos”, de “Rio Babilônia”, é imperdível e uma aula de história. As imagens de arquivo somadas aos depoimentos de artistas remanescentes, como Lima Duarte, Denise Dumont ( que jura que não houve sexo real na cena da piscina de “Rio Babilônia”), Sura Berditchvsky que se negou a aparecer nua, de Regina Casé defendendo o seu nu total, mesmo sendo uma feminista e o que ela defende como “me vejo como uma índia e meu nu é maravilhoso”. Revisitar cenas de filmes de Neviile nos dias de hoje, periga suscitar discussões acerca de feminismo, machismo, assédio sexual, mulher objeto e outros termos. Mas Neville deixa claro que ele é um artista livre, e que como tal, precisa filmar o que lhe vier em mente. Ele não decupa, ensaia junto com os atores imbuído de vontade de filmar, de compartilhar, mesmo que para muitos, isso sôe como um Cineasta arrogante e difícil de lidar.
Assistir ao filme é uma delícia, garantia de boas gargalhadas pelo absurdo das situações e impropérios ditos, e ao mesmo tempo, ouvir histórias maravilhosas de bastidores, como a da realização da Festa de “Rio Babilônia”. Pornográfico ou não, que venham mais filmes de Neville.
O Filme teve um ótimo circuito em festivais, incluindo o prestigiado ‘Rotterdan”.
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