quarta-feira, 8 de junho de 2016
Estive em Lisboa e lembrei de você
"Estive em Lisboa e lembrei de você", de José Barahona (2015)
Baseado no livro homônimo de Luiz Rufafto, esse drama com forte olhar documental é a estréia na Direção de longas de ficção do documentarista português radicado no Brasil José Barahona. Escalando no elenco atores e não atores, Barahona procura imprimir o máximo de naturalismo possível nas cena,s o que fica explícito principalmente na parte brasileira da história. Os não atores me remeteram aos filmes de Robert Bresson, que chamava os seus nao atores de "Modelos". Eram geralmente frios e sem emoção, por conta do total desprezo de Bresson por não atores. O tema do filme de imediato me fez lembrar do clássico de Walter Salles, "terra estrangeira. Assim como no filme de salles, acompanhamos a saga frustrante e desglamurizada de um cidadão brasileiro, que abandona o País para tentar a sorte em Portugal. Logo, se vê que o tal do sonho de enriquecimento não passava de balela.
O filme é pontuado por um pessimismo em relação ao mundo e sociedade que vivemos: pessoas desprovidas de humanidade, com a intenção de tirar proveito dos outros. Os raríssimos momentos de felicidade chegam acompanhados de melancolia. A fotografia em tons dramáticos e o ritmo lento da narrativa contribuem para que esse peso dolorido da trajetória do protagonista chegue até o espectador. ë muito desencanto com tudo e com todos. No momento de crise que vivemos, a esperança parece não chegar nunca.
Paulo Azevedo, que vive Serginho, o protagonista que sai de Cataguazes para Lisboa, e Renata Ferraz, que vive a prostituta Sheila, fazem parte dos poucos atores profissionais do projeto. Ambos conseguem esboçar as nuances tristes de seus personagens trágicos. Os outros atores, com exceção de alguns poucos, chamam a atenção pelo artificialismo das atuações. Talvez seja algo imposto pelo diretor, vale conferir.
É um bom filme, que talvez fosse mais instigante se não tivessem as verborrágicas cenas do protagonista falando e narrando tudo para a câmera. A imagem talvez valesse mais do que as falas.
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